tag:blogger.com,1999:blog-87009287263790550792024-03-05T16:25:07.843-03:00Manuel DutraJornalismo Ciência AmbienteManuel Dutrahttp://www.blogger.com/profile/07384053619976412822noreply@blogger.comBlogger2561125tag:blogger.com,1999:blog-8700928726379055079.post-86081666769536504812023-04-10T16:01:00.002-03:002023-04-10T16:02:40.331-03:00<p style="text-align: justify;"><span style="color: red;"><span style="font-size: medium;">O Brasil agora tem um Presidente</span> </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: red;">GOVERNAR É CUIDAR DAS PESSOAS</span></p><p style="text-align: justify;"><em style="box-sizing: border-box; color: #313131; font-family: Roboto, sans-serif; font-size: 18px; margin: 0px; padding: 0px;"><b style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;"></b></em></p><h1 class="post-title single-post-title" style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #313131; font-family: "Roboto Slab", serif; font-size: 32px; line-height: 1.1; margin: 0px 0px 0.3em; padding: 0px;">Leia o discurso lido por Lula para marcar 100 dias de governo</h1><div><br /></div><p style="text-align: justify;"><em style="box-sizing: border-box; color: #313131; font-family: Roboto, sans-serif; font-size: 18px; margin: 0px; padding: 0px;"><b style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">Minhas amigas e meus amigos,</b></em></p><p style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #313131; font-family: Roboto, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 1.3; margin: 0px 0px 1.3em; padding: 0px; text-align: justify;"><em style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">Sempre tenho dito que governar é cuidar das pessoas. E que garantir que cada brasileira e cada brasileiro consiga fazer as três refeições do dia é minha obsessão.</em></p><p style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #313131; font-family: Roboto, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 1.3; margin: 0px 0px 1.3em; padding: 0px; text-align: justify;"><em style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">O Brasil sairá novamente do Mapa da Fome com a integração das ações já existentes e outras que serão articuladas pela Câmara Interministerial que reúne 24 de nossos 37 ministérios.</em></p><p style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #313131; font-family: Roboto, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 1.3; margin: 0px 0px 1.3em; padding: 0px; text-align: justify;"><em style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">A população mais pobre e a classe média precisam se ver livres das amarras das dívidas.</em></p><p style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #313131; font-family: Roboto, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 1.3; margin: 0px 0px 1.3em; padding: 0px; text-align: justify;"><em style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">Com o Programa Desenrola, os consumidores poderão renegociar seus débitos e limpar seus nomes.</em></p><p style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #313131; font-family: Roboto, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 1.3; margin: 0px 0px 1.3em; padding: 0px; text-align: justify;"><em style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">Vamos trabalhar para que os bancos públicos possam garantir crédito facilitado e com prazos adequados para micro, pequenas e médias empresas e cooperativas, além de microcrédito para empreendedores individuais.</em></p><p style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #313131; font-family: Roboto, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 1.3; margin: 0px 0px 1.3em; padding: 0px; text-align: justify;"><em style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">Nossas crianças e jovens vão recuperar o tempo perdido na pandemia. Em conjunto com estados e municípios, desenvolveremos políticas para superar a defasagem no ensino, a evasão e o abandono escolar. A escola de tempo integral, da creche ao ensino médio, ganhará maior amplitude. E nossos estudantes, educação de qualidade.</em></p><p style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #313131; font-family: Roboto, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 1.3; margin: 0px 0px 1.3em; padding: 0px; text-align: justify;"><strong style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">LEIA TAMBÉM: <a href="https://pt.org.br/lula-100-dias-e-hora-de-baixar-os-juros-para-desenvolver-o-pais-e-gerar-empregos/" rel="noopener" style="box-sizing: border-box; color: #b70b17; cursor: pointer; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-decoration-line: none; transition: color 0.3s ease 0s;" target="_blank">Lula, 100 dias: é hora de baixar os juros para desenvolver o país e gerar renda</a></strong></p><p style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #313131; font-family: Roboto, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 1.3; margin: 0px 0px 1.3em; padding: 0px; text-align: justify;"><em style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">Ampliaremos vagas nas universidades. Retomaremos o Programa Nacional de Assistência Estudantil, que assegura a permanência dos estudantes carentes no ensino superior.</em></p><p style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #313131; font-family: Roboto, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 1.3; margin: 0px 0px 1.3em; padding: 0px; text-align: justify;"><em style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">Depois de anos congeladas, as bolsas da Capes e do CNPq foram reajustadas, beneficiando 258 mil doutores, mestres e pesquisadores.</em></p><p style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #313131; font-family: Roboto, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 1.3; margin: 0px 0px 1.3em; padding: 0px; text-align: justify;"><em style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">Fortaleceremos o Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, para que universidades e centros de pesquisa produzam ainda mais conhecimento para alavancar o desenvolvimento nacional.</em></p><p style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #313131; font-family: Roboto, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 1.3; margin: 0px 0px 1.3em; padding: 0px; text-align: justify;"><em style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">Na saúde, retomaremos o Aqui Tem Farmácia Popular, garantindo medicamentos gratuitos e baratos para a população.</em></p><p style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #313131; font-family: Roboto, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 1.3; margin: 0px 0px 1.3em; padding: 0px; text-align: justify;"><em style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">E implantaremos a rede atenção médica especializada multiprofissional, perto do usuário que precisa de consultas, exames e cirurgias com menor tempo de espera.</em></p><p style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #313131; font-family: Roboto, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 1.3; margin: 0px 0px 1.3em; padding: 0px; text-align: justify;"><em style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">Cuidar das pessoas também é garantir sua segurança, em especial daqueles que mais sofrem com a violência.</em></p><p style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #313131; font-family: Roboto, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 1.3; margin: 0px 0px 1.3em; padding: 0px; text-align: justify;"><em style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">Uniremos os estados, municípios e a sociedade civil organizada em um pacto para enfrentar o massacre dos jovens negros e da periferia.</em></p><p style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #313131; font-family: Roboto, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 1.3; margin: 0px 0px 1.3em; padding: 0px; text-align: justify;"><em style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">As políticas para combater todas as formas de violência contra as mulheres serão ampliadas por meio do Programa Mulher Viver Sem Violência e das novas unidades da Casa da Mulher Brasileira. E garantiremos que não haja impunidade aos agressores.</em></p><p style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #313131; font-family: Roboto, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 1.3; margin: 0px 0px 1.3em; padding: 0px; text-align: justify;"><em style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">Em parceria com Estados e municípios, iremos ampliar as políticas de garantia de direitos às juventudes, aos idosos, às pessoas com deficiência e à comunidade LGBTQIA+.</em></p><p style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #313131; font-family: Roboto, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 1.3; margin: 0px 0px 1.3em; padding: 0px; text-align: justify;"><em style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">Como já fizemos com o povo yanomami, seguiremos protegendo os direitos e os territórios dos povos indígenas, povos e comunidades tradicionais, quilombolas e de comunidades de matriz africana e de terreiro, assegurando o bem viver e a cidadania.</em></p><p style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #313131; font-family: Roboto, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 1.3; margin: 0px 0px 1.3em; padding: 0px; text-align: justify;"><em style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">O combate ao crime organizado e às facções criminosas será prioridade. Fortaleceremos as áreas de investigação e a inteligência tecnológica das forças policiais. E valorizaremos de verdade os profissionais de segurança, usando programas como o Bolsa Formação.</em></p><p style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #313131; font-family: Roboto, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 1.3; margin: 0px 0px 1.3em; padding: 0px; text-align: justify;"><em style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">Seguiremos combatendo a desinformação nos meios analógicos e digitais, contribuindo de maneira firme com o debate sobre a regulamentação das plataformas digitais que ocorre no Congresso Nacional.</em></p><p style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #313131; font-family: Roboto, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 1.3; margin: 0px 0px 1.3em; padding: 0px; text-align: justify;"><em style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">O acesso à cultura, ao esporte e ao lazer será ampliado, bem como o apoio aos empreendedores culturais e aos atletas de alto rendimento.</em></p><p style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #313131; font-family: Roboto, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 1.3; margin: 0px 0px 1.3em; padding: 0px; text-align: justify;"><em style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">Seguiremos fortalecendo a democracia brasileira, enfrentando e vencendo a ameaça totalitária, o ódio, a violência, a discriminação e a exclusão que pesam sobre o nosso país.</em></p><p style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #313131; font-family: Roboto, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 1.3; margin: 0px 0px 1.3em; padding: 0px; text-align: justify;"><em style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">Ampliaremos ainda mais o diálogo com o Legislativo, o Judiciário, os entes federados e a sociedade brasileira.</em></p><p style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #313131; font-family: Roboto, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 1.3; margin: 0px 0px 1.3em; padding: 0px; text-align: justify;"><em style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">Ainda neste semestre, serão deflagrados os debates do Plano Plurianual Participativo. Com atividades nos 27 Estados, ele possibilitará à sociedade participar ativamente no processo de planejamento das ações para a reconstrução do Brasil. E contribuirá muito para a transparência orçamentária.</em></p><p style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #313131; font-family: Roboto, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 1.3; margin: 0px 0px 1.3em; padding: 0px; text-align: justify;"><em style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;"><b style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">Minhas amigas e meus amigos.</b></em></p><p style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #313131; font-family: Roboto, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 1.3; margin: 0px 0px 1.3em; padding: 0px; text-align: justify;"><em style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">Cada ministra e cada ministro aqui presentes, juntamente com suas equipes, merecem todo o nosso reconhecimento, pelo tanto que foram capazes de entregar em tão pouco tempo.</em></p><p style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #313131; font-family: Roboto, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 1.3; margin: 0px 0px 1.3em; padding: 0px; text-align: justify;"><em style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">Mas a mensagem principal que deixo aqui é a seguinte: se preparem, pois temos de trabalhar muito mais.</em></p><p style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #313131; font-family: Roboto, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 1.3; margin: 0px 0px 1.3em; padding: 0px; text-align: justify;"><em style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">Quero terminar citando outra frase, que traduz o nosso sentimento ao fim destes primeiros 100 dias:</em></p><p style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #313131; font-family: Roboto, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 1.3; margin: 0px 0px 1.3em; padding: 0px; text-align: justify;"><em style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;"><b style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">O Brasil voltou a ter futuro. E isso é apenas o começo.</b></em></p><p style="background-color: white; box-sizing: border-box; font-family: Roboto, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 1.3; margin: 0px 0px 1.3em; padding: 0px; text-align: justify;"><em style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;"><b style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;"><span style="color: red;">(Clique aqui para ler o texto completo: https://pt.org.br/leia-o-discurso-lido-por-lula-para-marcar-os-100-dias-de-governo/)</span></b></em></p><div><em style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;"><b style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;"><br /></b></em></div><div class="single-post-share-container" style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #313131; display: flex; font-family: Roboto, sans-serif; font-size: 14px; justify-content: flex-end; margin: 0px; padding: 0px;"><p style="align-items: center; box-sizing: border-box; display: flex; font-size: 18px; line-height: 1.3; margin: 0px; padding: 0px;"></p></div>Manuel Dutrahttp://www.blogger.com/profile/07384053619976412822noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8700928726379055079.post-34984537836790903342023-03-29T15:56:00.000-03:002023-03-29T15:56:46.151-03:00<p> <span style="color: red; font-size: large;">Quase 10 anos de uma carta não respondida - (</span><span style="background-color: #fafafa; color: #333333; font-family: "Times New Roman", serif; text-align: justify;">Belém, Santarém, 14 de janeiro de 2014)</span></p><p><span style="color: #333333; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: large; text-align: justify;"><i><b>A longa história da lama e do mercúrio nos rios do Oeste do Pará</b></i></span><span style="background-color: #fafafa; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; text-align: justify;"> </span></p><p align="center" class="MsoNormal" style="background-color: #fafafa; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin: 1em 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 24.5333px;">Não é de hoje que se denuncia às autoridades o drama quilométrico da poluição e contaminação das águas do Tapajós e de seus afluentes, no Oeste paraense. Em janeiro de 2014, 1.700 pessoas assinaram uma carta pública endereçada ao então governador Simão Jatene. O resultado foi pouco mais que nada. Mais tarde, remetemos ao governador Hélder Barbalho e às autoridades federais, mesmo depois que a Polícia Federal, em pesquisa <i>in loco</i>, constata a veracidade do que dissemos nesta carta, endereçada em 2014.</span></p><p align="center" class="MsoNormal" style="background-color: #fafafa; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin: 1em 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 24.5333px;"><b>A seguir a carta</b></span></p><p align="center" class="MsoNormal" style="background-color: #fafafa; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin: 1em 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;">Pedido Público em Favor das Populações dos Municípios do Vale do Tapajós, da Economia e da Natureza da Região Oeste do Pará</span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: #fafafa; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: normal; margin: 1em 0px 0cm; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;">Exmos. Srs.e Sras.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: #fafafa; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: normal; margin: 1em 0px 0cm; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;"><b><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;">Governador do Estado do Pará, Simão Jatene<o:p></o:p></span></b></p><p class="MsoNormal" style="background-color: #fafafa; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: normal; margin: 1em 0px 0cm; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;">Vice-Governador, Helenilson Pontes<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: #fafafa; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: normal; margin: 1em 0px 0cm; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;">Secretário de Meio Ambiente, José Colares<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: #fafafa; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: normal; margin: 1em 0px 0cm; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;">Reitor da Universidade Federal do Pará, Carlos Maneschy<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: #fafafa; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: normal; margin: 1em 0px 0cm; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;">Reitora da Universidade Federal do Oeste do Pará, Raimunda Monteiro<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: #fafafa; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: normal; margin: 1em 0px 0cm; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;">Prefeito de Santarém, Alexandre Von<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: #fafafa; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: normal; margin: 1em 0px 0cm; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;">Prefeita de Belterra, Dilma Serrão<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: #fafafa; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: normal; margin: 1em 0px 0cm; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;">Prefeito de Aveiro, Olinaldo Barbosa da Silva<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: #fafafa; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: normal; margin: 1em 0px 0cm; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;">Prefeita de Itaituba, Eliene Nunes<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: #fafafa; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: normal; margin: 1em 0px 0cm; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;"><span style="background: white; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;">Prefeito de Jacareacanga, Raulien de Oliveira Queiroz<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: #fafafa; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: normal; margin: 1em 0px 0cm; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;"><span style="background: white; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;">Prefeito de Trairão, Danilo Vidal de Miranda<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: #fafafa; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: normal; margin: 1em 0px 0cm; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;"><span style="background: white; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;">Prefeito de Novo Progresso,<span class="apple-converted-space"> Osvaldo Romanholi<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: #fafafa; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin: 1em 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 24.5333px;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: #fafafa; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin: 1em 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 24.5333px;">Senhor Governador,<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: #fafafa; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin: 1em 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 24.5333px;">Nós, que assinamos este Pedido Público, vimos respeitosamente solicitar a V. Exa. e às demais autoridades supranomeadas a adoção de medidas urgentes com o objetivo de realizar uma pesquisa científica que comprove ou negue a hipótese de contaminação do Rio Tapajós, tendo em vista o que segue:<o:p></o:p></span></p><p class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="background-color: #fafafa; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin: 1em 0px 1em 32.2pt; outline: none; padding: 0px; text-align: justify; text-indent: -18pt;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 24.5333px;">1.<span style="font-family: "Times New Roman"; font-feature-settings: normal; font-kerning: auto; font-optical-sizing: auto; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; font-variation-settings: normal; line-height: normal;"> </span></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 24.5333px;">Nas décadas de 1970 a 1990 a atividade garimpeira na bacia Tapajós/Jamanxim foi responsabilizada pelo fenômeno de grave contaminação desse grande rio, proveniente do desmanche de barrancos e despejo de produtos químicos, entre eles o mais venenosos dos metais pesados, o mercúrio; naquele período cerca de 500 dos 800 quilômetros da extensão do Tapajós tiveram suas águas turvadas, mudando de coloração, conforme amplamente noticiado na época;<o:p></o:p></span></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="background-color: #fafafa; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin: 1em 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 24.5333px;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 24.5333px; text-indent: -18pt;">2.<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;"> </span></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 24.5333px; text-indent: -18pt;">Agora, do ano passado a este início de 2014, são cada dia mais frequentes informações e notícias sobre a possível mudança de coloração do Rio Tapajós entre a sua foz, diante de Santarém, e seu curso médio, acima da cidade de Itaituba. Retornam, assim, as lembranças daquele período, quando as praias ficaram enlameadas, cardumes foram contaminados conforme atestado na época, pessoas adoeceram em virtude da contaminação da cadeia alimentar aquática, e a população do Vale inteiro assistiu a seu belíssimo rio transformar-se em um corpo estranho em pleno coração do Pará e da Amazônia;</span></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="background-color: #fafafa; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin: 1em 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 24.5333px;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 24.5333px; text-indent: -18pt;">3.<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;"> </span></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 24.5333px; text-indent: -18pt;">Não pretendemos afirmar, de início, que o fenômeno esteja a se repetir. No entanto, levantamos uma hipótese, obviamente a partir da observação <i>in loco</i>, que deixa poucas dúvidas sobre a positividade do fenômeno, qual seja: o Tapajós está sendo novamente local de despejo de barro dos garimpos e do derrame de produtos químicos, inclusive mercúrio altamente danoso à saúde animal e humana;</span></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="background-color: #fafafa; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin: 1em 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 24.5333px;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 24.5333px; text-indent: -18pt;">4.<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;"> </span></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 24.5333px; text-indent: -18pt;">Tal hipótese precisa ser urgentemente esclarecida, pela sua comprovação ou negação. Como primeiro passo para tal esclarecimento propomos a V. Exa., Sr, Governador e demais autoridades aqui mencionadas, as seguintes medidas:</span></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="background-color: #fafafa; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin: 1em 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 24.5333px;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 24.5333px; text-indent: -18pt;">5.<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;"> </span></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 24.5333px; text-indent: -18pt;">Realização imediata de uma pesquisa de campo, de preferência a ser efetivada por equipes de cientistas das Universidades Federal do Pará (UFPA) e Federal do Oeste do Pará (UFOPA), com recursos do governo do Estado e grande empenho das prefeituras de Santarém, Belterra, Aveiro e Itaituba, Jacareacanga, Trairão e Novo Progresso. Quanto aos recursos, sabemos que eles serão pequenos, necessários para o custeio de viagens das equipes para a coleta dos materiais a serem analisados em laboratório. Quanto às equipes, temos certeza de que tal proposta contará com a imediata adesão e entusiasmo de pesquisadores da UFPA e da UFOPA. Solicitamos, no entanto, que a equipe de pesquisadores/pesquisadoras seja composta tão somente por cientistas da área acadêmica que não tenham e nunca tiveram vínculo com empresas mineradoras ou atividade de garimpagem no Tapajós ou em qualquer outro lugar. Dessa forma, acreditamos que haverá maior transparência e isenção nos resultados da investigação para benefício de todos, tanto da população quanto dos próprios empresários.</span></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="background-color: #fafafa; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin: 1em 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 24.5333px;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 24.5333px; text-indent: -18pt;">6.<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;"> </span></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 24.5333px; text-indent: -18pt;">Sabemos que o secretário de Meio Ambiente, José Colares, propôs um pré-acordo com os donos de dragas dos garimpos, no sentido de realizar pesquisa idêntica à que estamos aqui propondo, acordo pelo qual aqueles empresários teriam se comprometido, em caso de os testes sobre a qualidade das águas serem positivados, a contribuírem, eles também, para as medidas ambientais saneadoras do rio e seus afluentes eventualmente afetados. Sabemos também que a Secretaria de Estado de Indústria, Comércio e Mineração arrecada uma taxa dos mineradores cuja destinação, em parte, contempla a manutenção da limpeza ambiental.</span></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="background-color: #fafafa; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin: 1em 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 24.5333px;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 24.5333px; text-indent: -18pt;">7.<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;"> </span></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 24.5333px; text-indent: -18pt;">Esta pesquisa, em caráter emergencial, analisará amostras de pelo menos 20 trechos do rio entre a foz, diante de Santarém, e o seu curso médio, diante da cidade de Jacareacanga, abrangendo as partes mais largas e mais estreitas do rio. A pesquisa também analisará amostras dos principais afluentes do Tapajós, particularmente o Jamanxim, o Crepori, o Rio das Tropas e outros mais significativos, devendo responder à pergunta básica: O Rio Tapajós e seus principais afluentes estão sofrendo processo de contaminação por elementos físicos e químicos estranhos à sua composição hídrica natural?</span></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="background-color: #fafafa; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin: 1em 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 24.5333px;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 24.5333px; text-indent: -18pt;">8.<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;"> </span></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 24.5333px; text-indent: -18pt;">Esta pergunta se desdobra (em caso afirmativo): Que elementos contaminantes são estes? Quais os níveis da presença de elementos estranhos nas águas do rio? Há riscos para a saúde animal e humana? Há contaminação da fauna aquática, especialmente das espécies mais consumidas na região? Há contaminação do plâncton e da cadeia alimentar? Já existe contaminação humana? Há mudança de coloração das águas do Tapajós?</span></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="background-color: #fafafa; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin: 1em 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 24.5333px;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 24.5333px; text-indent: -18pt;">9.<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;"> </span></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 24.5333px; text-indent: -18pt;">Se prosseguir (em caso afirmativo) o processo de acumulação contaminante, quais as consequências possíveis para o ecossistema natural e humano?</span></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="background-color: #fafafa; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin: 1em 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 24.5333px;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 24.5333px; text-indent: -18pt;">10.<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;"> </span></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 24.5333px; text-indent: -18pt;">Solicitamos que as providências para a referida pesquisa sejam iniciadas de imediato e que seus primeiros resultados conclusivos sejam divulgados até final de junho, quando os rios estão cheios; dependendo da metodologia a ser adotada pelos pesquisadores, uma nova investigação poderá ser levada a campo no mês de outubro ou setembro, quando os rios estão com seus níveis baixos. E que, a partir dos resultados, em caso afirmativo, V. Exa. e demais autoridades aqui nomeadas anunciem de imediato as providências corretivas, a fim de salvaguardar a saúde do grande rio e de suas populações, a economia de cerca de metade do Estado do Pará, notadamente o turismo, que será fatalmente afetado caso se comprove a contaminação das águas e das praias.</span></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="background-color: #fafafa; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin: 1em 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 24.5333px;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 24.5333px; text-indent: -18pt;">11.<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;"> </span></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 24.5333px; text-indent: -18pt;">Após o prazo aqui estabelecido, o grupo de cidadãos dinamizadores desta Petição promoverá uma discussão pública de âmbito estadual e, se possível, com a presença de entidades idôneas de âmbito nacional, já que se trata de um problema que extrapola o interesse apenas regional. Durante essa discussão sobre os resultados da referida pesquisa, será estabelecido um programa de ação permanente com vistas a acompanhar a situação.</span></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="background-color: #fafafa; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin: 1em 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 24.5333px; text-indent: -18pt;">xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx</span></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="background-color: #fafafa; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin: 1em 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;">Santarém e Belém, 14 de janeiro de 2014.</span></p>Manuel Dutrahttp://www.blogger.com/profile/07384053619976412822noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8700928726379055079.post-89332634826728222742023-02-27T10:42:00.000-03:002023-02-27T10:42:15.485-03:00<p> </p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="line-height: 107%;"><span style="font-size: large;">Do nascimento do Pará ao Tapajós, a Amazônia aguarda um novo mapa</span><span style="font-size: 14pt;"><o:p></o:p></span></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><i><b>Por Manuel Dutra</b></i><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="line-height: 107%;"><i><b></b></i></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i><b><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiH1XPye2dy0DjGTO3V--DQt1aouaRvJhaFNss6FY2ywo18lCzQ7DHpN32j8HKpFolDTCyCDZ82U9-yta2xFtwfV1hGG5ovc5ismU42g583zWFmFPygJ1hpfeiEVnF7upsOBbkuQ8ooAHfsvSCdnyr8IqCB3usBXSHtoVXRLroz_-l6v5SSaRNQbAVqIw" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-size: large;"><img alt="" data-original-height="429" data-original-width="640" height="248" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiH1XPye2dy0DjGTO3V--DQt1aouaRvJhaFNss6FY2ywo18lCzQ7DHpN32j8HKpFolDTCyCDZ82U9-yta2xFtwfV1hGG5ovc5ismU42g583zWFmFPygJ1hpfeiEVnF7upsOBbkuQ8ooAHfsvSCdnyr8IqCB3usBXSHtoVXRLroz_-l6v5SSaRNQbAVqIw=w438-h248" width="438" /></span></a></b></i></div><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span><span style="font-size: 14pt;"> </span><span style="font-size: 14pt;">O dia 15 de agosto
é feriado no Pará em comemoração àquilo que os livros escolares ensinam como o
dia da “adesão do Pará à Independência do Brasil”. Dom Pedro I deu o grito do
Ipiranga, mas boa parte do País não aceitou a separação de Portugal, incluindo
o Grão-Pará, até porque durante muito tempo o que hoje é a Amazônia era um
território autônomo que obedecia a Lisboa e não ao Rio de Janeiro.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Em 1850 o Grão-Pará perdeu uma enormidade de seu território,
com a criação da província que viria a ser o hoje Estado do Amazonas. A partir
daí tem início a luta pela criação de uma terceira província, a do Baixo
Amazonas, hoje também chamada Tapajós, tendo já sido objeto de um plebiscito
autonomista ocorrido em 11 de dezembro de 2011.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>As ideias de
estabelecer, no Brasil independente, novos limites territoriais internos e uma
divisão político-administrativa diferente daquela existente no período
colonial, vêm da Assembleia Constituinte de 1823. Todavia, a Constituição daí
resultante, ao criar, em 1824, as primeiras 19 províncias, na prática manteve a
configuração geopolítica oriunda do tempo das capitanias hereditárias.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Quarenta e seis
anos mais tarde, Tavares Bastos referia-se aos “erros da Constituição” em
“dividir o Brasil em províncias politicamente iguais, com as mesmas
instituições e a mesma representação”, não tendo o constituinte brasileiro
seguido “o sábio exemplo da União Americana” onde os “territórios do deserto”
tinham administração local designada pelo poder central, embora não dispusessem
de representação no Congresso até que, “povoando-se e prosperando”, adquirissem
condições de autonomia (Bastos, 1975:235).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span><span style="font-size: 14pt;"> </span><span style="font-size: 14pt;">Em 1849, o
historiador Varnhagen já apresentara o que terá sido o primeiro estudo de
reordenamento territorial e político do Brasil, aparecendo o Pará como objeto
de três subdivisões, sem mencionar o Tapajós. Após a criação da Província do
Amazonas, desmembrada do Pará em 1850, questões de limites permaneceram entre
as duas províncias (Penna, 1973).</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Como forma de
evitar iminentes conflitos, surgiu a ideia de se criar uma terceira província,
situada mais ou menos entre aquelas duas grandalhonas, englobando as comarcas
de Óbidos, Parintins e Santarém, com a capital nesta última cidade. Em 1853 o
assunto foi debatido no Parlamento do Império. Segundo Arthur Reis (1979: 82),
em 1869 “a ideia volta a ser admitida para conjurar as diferenças que estavam
surgindo a propósito dos limites entre o Pará e o Amazonas”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O militar Augusto
Fausto de Souza, mais tarde integrante do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro, propôs, em 1877, a divisão do Império em 40 províncias, aparecendo
o Tapajós em sua proposta. Souza preocupava-se com a “desigualdade de
território, de população e de recursos” que então identificava na divisão
imperial, além da “desigualdade do número de seus representantes nas Câmaras
Legislativas” e da “preponderância de umas províncias sobre as outras”, o que,
na opinião do estudioso militar, “provoca ciúmes e rivalidades que retardam o
progresso e podem até comprometer a integridade do Império” (Souza, 1988:15).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Do meado do século
20 até a promulgação da Constituição de 1988, são muitas as propostas de
reordenamento territorial. Na maioria dos estudos e projetos referentes à
Amazônia encontra-se a região do Tapajós, como dotada de particularidades que a
tornam uma frequente candidata a unidade autônoma. Num dado momento histórico,
aquelas propostas são sugeridas como que de fora para dentro, verificando-se
tênue adesão de grupos locais.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Já no século 20, o
militar Segadas Viana propõe, em 1933, uma profunda divisão territorial da
Amazônia, desconsiderando, segundo Benchimol (1977:632), “os aspectos
históricos de sua denominação, formação e integração no conjunto político,
atingindo todo o território brasileiro”. Entre as novas unidades aparecem as
denominadas Tapajós e Óbidos, na região Oeste do Pará.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Na década de 1940,
outro militar, Juarez Távora, apresenta a sua sugestão, com o Pará dividido em
três unidades, entre elas o Tapajós. Em 1960, Antônio Teixeira Guerra propõe a
criação dos territórios federais de Monte Alegre, Trombetas e Alto Tapajós,
zonas do Oeste do Pará, dentro de um conjunto de mudanças territoriais.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Em 1966, o
intelectual amazonense Samuel Benchimol (1977:635) sugere uma reformulação
física da Amazônia, aparecendo em seu estudo os territórios federais do Baixo
Amazonas, Tapajós e Trombetas. O autor acredita que, por meio desse ordenamento,
serão solucionados problemas criados por uma “geografia voluntária” (1977:636).
Segundo Benchimol, “a ausência de uma estrutura social e organizacional para
apoiar e servir de logística à população embarga o esforço produtivo, inibe a
iniciativa privada, destrói os laços de solidariedade humana...”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>No resumo dessas
ideias percebe-se, por exemplo, na proposta de Benchimol, a preocupação em
ordenar economicamente o espaço, onde a “população” seja disposta de tal forma
que sua presença sirva ao “esforço produtivo” da economia. É, basicamente, a
essência de outras propostas. Os estudos promovidos por militares sugerem o
controle do território, com o estabelecimento de algo como uma ordem
territorial, pressuposto para que o Brasil alcance o progresso.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>As ideias de
autonomia, de origem interna ao Oeste do Pará, começaram a brotar com certa
frequência no século passado, com os registros demarcando a década de 1950 como
o ponto de partida para o que viria tornar-se um movimento pela criação do Estado
do Tapajós e a construção do conceito geopolítico de Oeste do Pará. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Muito antes,
porém, as pendências sobre limites entre o Pará e o Amazonas e as sugestões de
nova divisão territorial do Brasil, surgidas na segunda metade do século 19,
resultaram em alguma repercussão interna, sobretudo em Santarém. Nessa cidade,
em 1883, o monsenhor José Gregório Coelho com outros idealistas, fundou a
Sociedade 15 de Agosto que, além de literária, trazia no seu programa a ideia
de “separação do Baixo Amazonas da Província do Pará, a fim de constituir a
vigésima-primeira província brasileira (Santos, 1974:226).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Na década de 1950,
o assunto aparece esporadicamente na imprensa de Santarém. Nesse período,
destaca-se a ação do então deputado estadual Elias Ribeiro Pinto, sugerindo a
autonomia do Baixo Amazonas, na Assembleia Legislativa do Pará. A ação política
de Pinto, descendente de imigrantes nordestinos, mostrava-se como uma voz
estranha aos integrantes dos grupos de poder tradicional, sobretudo de Santarém.
Ele era, para essas elites, um arrivista que buscava espaço político-partidário
utilizando a ideia de autonomia como biombo. Embora sem combater a ideia de
criação de um território federal ou de um Estado, a imprensa ligada a grupos
tradicionais combatia o projeto de Pinto.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Nos momentos que
antecedem a inauguração do regime militar, na década de 1960, registram-se três
teses divisionistas, de autoria dos deputados paraenses Alfredo Gantuss, de
Monte Alegre, na Assembleia Legislativa, e dos deputados Burlamaqui de Miranda
e Epílogo de Campos, na Câmara Federal. Era como se o tema da autonomia fosse
penetrando lentamente no ideário local, antes de constituir-se o núcleo de um
movimento pela autonomia. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>As propostas de Campos, Gantuss
e Miranda apresentavam os mesmos pressupostos, essencialmente iguais às
sugestões elaboradas externamente, ou seja, o Pará era fisicamente grande
demais e o poder central paraense muito distante do interior, que necessitava
de um governo próximo para se desenvolver.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O regime militar
declarou cinco municípios do Oeste do Pará como áreas de interesse da segurança
nacional. Nesse período, registra-se como que um silêncio sobre a ideia
separatista, talvez até pelo fato mesmo de a região ter sido particularmente visada
pelos governos militares. Na década de 1970, o Plano de Integração Nacional
que, entre outras medidas, determinava a abertura das rodovias Transamazônica e
Santarém-Cuiabá e a construção do porto de Santarém - obras que coincidiam com
a construção de um novo aeroporto na cidade e um hotel de luxo conseguido com
incentivos fiscais - novo ânimo passou a alimentar o anseio histórico de que,
por um ato discricionário, ditatorial, se repetisse no Baixo Amazonas o mesmo
que ocorrera no Amapá, separado do Pará por ato de Getúlio Vargas na década de
1940. No entanto, o interesse da segurança nacional não coincidia com o
interesse local.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A década de 1980,
com o regime militar já dando sinais de seu final, registraria uma inusitada
movimentação de grupos políticos, um período que seguramente mudou os rumos do
tema da criação de um Estado com capital em Santarém. Naquele momento, ocorreu
uma reunião de prefeitos de vários municípios do Baixo Amazonas, convocados
pelo prefeito de Santarém, Ronan Liberal. Gestor nomeado pelo regime militar,
Liberal parece ter interpretado o sentimento de frustração da década anterior,
quando o Estado não foi criado por um decreto. Naquela reunião, começou-se a
dar ênfase a uma retórica segundo a qual a luta deveria partir de dentro para
fora, e que o Estado do Baixo Amazonas, do Tapajós ou o território federal
teria que se concretizar, mas como fruto de uma luta que partiria do interior
da região.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span><span style="font-size: 14pt;"> </span><span style="font-size: 14pt;">Aquela reunião de
prefeitos marcou o início de um movimento autonomista que viria a tomar corpo
em 1985, informalmente, quando foi criado o Comitê Pró-Criação do Estado do
Tapajós. O nome cristalizou-se em Tapajós e a região começou a ser
politicamente conceituada de Oeste do Pará, de vez que o Baixo Amazonas
tradicional não englobava os novos núcleos criados ou que sofreram mudanças com
a abertura das rodovias Transamazônica e Santarém-Cuiabá e o plano de
colonização que acompanhou aquelas estradas. O Oeste passava a apresentar novas
realidades sócio-econômicas e culturais, as cidades ribeirinhas diferiam dos
núcleos afetados pela política de transportes rodoviários implantada em parte
da região, pelo governo federal, e a imigração exigia adaptações no campo
político.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A década foi de
relativa movimentação, começando também a chamar a atenção do poder central, em
Belém. Os reflexos externos cresceram. Governadores do Pará começaram a se
posicionar. Foi uma espécie de prenúncio do que aconteceria nos anos seguintes,
sobretudo durante a realização da Assembleia Nacional Constituinte. Os
ativistas do incipiente movimento autonomista começavam a sua busca de apoios
externos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span><span style="font-size: 14pt;"> </span><span style="font-size: 14pt;">Durante a
Constituinte, os deputados Paulo Roberto Matos, natural de Santarém; Gabriel
Guerreiro, natural de Oriximiná; e Benedicto Monteiro, de Alenquer,
apresentaram um projeto de criação do Estado do Tapajós, que esperavam ver
incluído nas disposições transitórias da Constituição que seria promulgada em
1988. O projeto foi derrotado na Comissão de Sistematização da Assembleia
Constituinte e não foi ao plenário, porém obteve um volume de votos favoráveis
que deixou animados os proponentes da autonomia. Após a promulgação da nova
Constituição, em 1988, foi criada uma Comissão de Estudos Territoriais,
composta de deputados e senadores, com o declarado objetivo de efetuar ampla
revisão dos limites internos, sobretudo na Amazônia.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O relator daquela
comissão foi o deputado Gabriel Guerreiro. De seu Relatório Final, publicado em
janeiro de 1990, constavam cinco projetos de novas unidades na Amazônia, sendo
o primeiro da lista o Tapajós. Todos esses projetos terminaram arquivados
definitivamente na Comissão de Constituição e Justiça do Senado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O ano de 1991 é
marcado pela institucionalização do Comitê, que adquire personalidade jurídica
e declara, em seu estatuto, que sua finalidade é “promover a criação do Estado
do Tapajós”. Daquele momento em diante, portanto, a ideia de autonomia passa a
ser objeto de luta de uma organização da qual participam diferentes setores
sociais. Para consegui-lo, naquele ano o Comitê estatui que deverá ser
promovida a “integração dos municípios de Itaituba, Faro, Juruti, Aveiro,
Rurópolis, Oriximiná, Óbidos, Alenquer, Monte Alegre, Prainha, Almeirim e Santarém,
que formarão a nova circunscrição estadual”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Entre os objetivos
do Comitê está a necessidade de “centrar esforços junto à classe política da
região” e, também, “junto à classe política nacional para que se sensibilize
com os problemas de nossa área”. A declaração resumia a disposição de a região
assumir a luta a partir de dentro, reunindo suas próprias forças e buscando
solidariedade externa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Naquele ano, o
embate parlamentar entrava em nova fase. O recém-eleito deputado federal
Hilário Coimbra (PSDB, ex-PTB) apresentou seu primeiro projeto de decreto
legislativo prevendo a realização de um plebiscito com vistas à criação do
Estado do Tapajós. A legalização do Comitê e o início da ação de Coimbra se dão
quase simultaneamente, havendo entre ambos uma grande interação, que um pouco
mais tarde viria a ser classificada, por outros políticos, como uma forma de
“partidarização” do Comitê, resultando na cisão da entidade promotora da
autonomia, da qual se afastaram alguns membros para fundarem a Frente Popular
Pró-Emancipação do Estado do Tapajós.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Outros momentos de
destaque se verificaram no movimento. Em 1992, o Comitê reuniu, num mesmo
documento intitulado Carta-Exposição de Motivos, o mais volumoso elenco de
representantes de amplos setores, encaminhando a deputados e líderes
partidários no Congresso Nacional um pedido de apoio para o momento da votação
do plebiscito previsto no projeto de Coimbra. Em nenhum outro documento
reuniram-se forças sociais em tal amplitude, autodenominadas “amazônidas-tapajônicos,
nativos ou não”, que falam de um “ciclo trintenário de luta pela criação dessa
unidade federativa”, embate que tem como fundamento “argumentos inúmeros e
verdadeiros”, com “a potencialidade econômica da região” representando “o
principal componente do elenco das nossas justificativas”, um elenco que é
“plural e formidável”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A Carta era
assinada por 30 representantes de entidades patronais e de empregados,
diretórios de partidos políticos, conselhos de profissionais liberais e pela Cúria
Diocesana. Era como se a sociedade local mostrasse que estava mobilizada em
torno da ideia de autonomia político-administrativa, num movimento
suprapartidário e de ampla penetração social. O resultado prático e imediato,
que seria a aprovação do plebiscito, não foi atingido naquele ano.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O I Encontro
Emancipacionista de Itaituba, em setembro de 1993, pretendeu dar sequência às
declarações constantes da Carta-Exposição de Motivos, além de tentar deslocar,
por um instante, a ação do movimento para fora da cidade de Santarém, mostrando
assim que se tratava de algo encetado por grupos de todo o Oeste do Pará.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Precedido por um hino de mobilização popular,
o encontro de Itaituba procurou ampliar os objetivos da Carta, traduzindo-se
numa forma de amplo apelo interno e externo em torno do movimento, chegando a
conclamar os eleitores da região a somente votarem em candidatos
“comprometidos” com os ideais de autonomia. O apelo aparentemente deu
resultados imediatos: na eleição parlamentar seguinte, o Oeste do Pará elegeu suas
maiores bancadas na Assembleia Legislativa do Estado e na Câmara Federal.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>No mesmo ano, a
Frente Popular conseguiu mais de 16 mil assinaturas com as quais encaminhou,
por intermédio do senador Jarbas Passarinho, um projeto de emenda popular,
pretendendo vê-lo aceito pelo chamado Congresso revisor. A revisão
constitucional fracassou e o projeto, que se justificava pela necessidade de
“afirmação nacional sobre estes territórios”, foi esquecido.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Em 1995, o
deputado Hilário Coimbra apresentou outros dois projetos na Câmara Federal: um
acrescentando artigo ao Ato das Disposições Constitucionais Transitórias,
criando o Estado do Tapajós, e, pouco depois, um projeto de lei complementar
criando o Território Federal do Tapajós. A retomada da ideia de um Território é
justificada por Coimbra como um primeiro passo para a transformação da região
em Estado, medida adotada diante das dificuldades encontradas nos projetos
anteriores.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Aqueles projetos
baseiam-se em justificativas semelhantes às alinhadas pelo relator da Comissão
de Estudos Territoriais relativas à criação de novas unidades federais na
Amazônia, dentre elas as seguintes:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>1. “Existência de
individualização do espaço objeto da divisão, em relação à capital do Estado no
qual se acha inserido. Entende-se essa particularidade da área não apenas
quanto às ligações internas, mas também nos aspectos culturais e vida
econômica;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>2. Homogeneidade
geo-sócio-econômica do espaço considerado para a divisão. Nesse ponto, as propostas
contam com o apoio da regionalização do espaço amazônico em microrregiões,
constante do estudo recentemente concluído pelo IBGE. Na quase totalidade das
propostas, os contornos das novas unidades territoriais acompanham as
microrregiões definidas para aquelas áreas;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>3. Preservação de
fronteiras atualmente desguarnecidas, dada a sua distância e seu acesso para a
capital do Estado”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Especificamente
quanto ao projeto do Estado do Tapajós, afirma o relatório da Comissão do
Congresso, que “há necessidade de aproximar o governo das áreas ora
abandonadas”, que “faltam <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>ao Tapajós
programas específicos de desenvolvimento de seus inegáveis recursos” e que “o
governo estadual [do Pará], de certa forma, retira da parte Oeste do Estado
recursos que poderiam estar concentrados aí, e que pulveriza sem realmente
suprir as carências próprias de cada região paraense”. E aduz: “A região do
Tapajós tem, portanto, características próprias que recomendam soluções
particulares”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Esse relatório, de
certa maneira, resume os diversos momentos da retórica autonomista, servindo
também de balizador para documentos produzidos posteriormente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Depois de buscar
apoio em Brasília, os ativistas vêem seu movimento fazer parte do debate
político no Estado do Pará. Em 1995, por proposta encabeçada pelo deputado
estadual José Carlos Lima (PT), é criada uma Comissão Especial na Assembleia
Legislativa, com o propósito de promover estudos e dar um parecer sobre as
demandas autonomistas das “sub-regiões” do Tapajós e Carajás, como subsídio aos
projetos em andamento no Congresso Nacional.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Audiências
públicas foram realizadas nos principais municípios daquelas zonas,
constituindo-se, para os militantes, momentos considerados excepcionais no
tocante à mobilização popular. O plenário da Assembleia votou majoritariamente
contra as pretensões autonomistas do Tapajós e Carajás, porém os ativistas de
ambas as regiões jamais viram o tema ser tão amplamente tratado na imprensa
paraense. Foi um momento destacado na produção da retórica separatista, com
aquelas falas, discursos, pontos de vista reproduzidos nos jornais e na
televisão.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Foi seguramente um
dos momentos mais altos do movimento, pela ampla divulgação que obteve, mesmo
sendo derrotado na votação parlamentar, como, aliás, era esperado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Importante, num
movimento regionalista, é tornar públicas as suas reivindicações num primeiro
momento, mesmo que o projeto seja adiado, como de fato foi naquele ano. Mas a
partir daquele instante, uma parcela maior da sociedade paraense tomou
conhecimento das aspirações do movimento autonomista do Tapajós. Isso contou
pontos a favor.<o:p></o:p></span></p>Manuel Dutrahttp://www.blogger.com/profile/07384053619976412822noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8700928726379055079.post-4278170109611124532022-07-08T16:16:00.001-03:002022-07-08T16:16:25.124-03:00O mal-estar social instala-se no País. Temos como sair disso?<p> <span style="font-size: x-large; text-align: center;">Um estado de mal-estar social instala-se rapidamente na alma e no corpo de cada brasileiro, podendo já estar ultrapassando os limites do que dizem os dicionaristas, que classificam o fenômeno como um estado de inquietação, de aflição mal definida; ansiedade, insatisfação; situação incômoda, falta de recursos, desassossego.</span></p><table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQU5nZjnQHag933pdVFB4Kybij3MLfW_eUBho9uDtaM_hbdjToNFDo6m7qRQVyaHhIY746LIvk0EMnkTSZ6PBKWAZtwSxESIutlvHLTENHinzbZoNSjOBYdoMMAUHo7g5AxlNXwQqM9UqZ/s1600/DEPRESS%25C3%2583OOOOOOOOOOO.jpg" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQU5nZjnQHag933pdVFB4Kybij3MLfW_eUBho9uDtaM_hbdjToNFDo6m7qRQVyaHhIY746LIvk0EMnkTSZ6PBKWAZtwSxESIutlvHLTENHinzbZoNSjOBYdoMMAUHo7g5AxlNXwQqM9UqZ/s320/DEPRESS%25C3%2583OOOOOOOOOOO.jpg" width="249" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">http://mentalvermelho.blogspot.com.br</td></tr></tbody></table><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">O Brasil está confuso, disso sabemos. O panorama é esse mesmo, situação babilônica de imensos mal-entendidos, desencontros simbólicos (por enquanto), como se estivéssemos dentro de um navio sem rumo, debaixo de uma tempestade, uma viagem cujo desfecho é inteiramente imprevisível. O País é vitimado por um descomunal aparato de desinformação, mas também com a verdade tão vizinha da mentira que nos deixa a todos atordoados.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Caos na política, na economia, milhões sem emprego vivendo de bicos, criminalidade descomunal, escolas inseguras, ruas perigosas. No centro do poder sentam-se indivíduos sem escrúpulos, filhos da mais velha forma de fazer política, sem o menor compromisso com o presente e menos ainda com o amanhã.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">O Brasil situa-se no mundo, óbvio, com o planeta tão cheio de incertezas que fica cada dia mais claro que estamos caminhando para uma guerra de amplo espectro, incluindo a utilização de armas nucleares. A ansiedade é universal. Como não existe guerra sem antes instalar-se uma situação que lhe crie as justificativas, com a disseminação da mentira e do ódio, hoje extremamente facilitada pelas tecnologias de fluxo imediato de informação, o que se mostra no horizonte não é nada promissor.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Nesse contexto, dentro do Brasil caminhamos rápido para um confronto. A democracia que vínhamos tentando construir nas últimas duas décadas parece, neste momento, difícil de ser retomada. O mal-estar avança e não vemos saída, já que o País está refém de grupos poderosos que se mostram, sem cerimônia, inimigos da maioria dos brasileiros.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">No entanto, não podemos deixar as águas rolarem, como diz a antiga música carnavalesca. Difícil a saída, sim, de vez que as instituições estão tomadas pelos porta-vozes e atores representantes do que há de pior no País,</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Temos a obrigação de deixar para trás a velha mania do “jeitinho”. O horizonte parece não ser nada acolhedor para o “deixa como está pra ver como é que fica”. Se pensamos assim, é o suicídio. O amanhã depende unicamente do aprofundamento da organização do povo trabalhador e gerador da riqueza do Brasil. Conseguiremos?</span></div>Manuel Dutrahttp://www.blogger.com/profile/07384053619976412822noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8700928726379055079.post-35565399459862547022022-06-20T16:02:00.001-03:002022-06-20T16:07:14.425-03:00 A Amazônia como campo de trabalho jornalístico<p><i> <span style="font-size: 14pt;">Por Manuel
Dutra</span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">O jornalista que vive e trabalha na Amazônia tem necessidade
e obrigação de conhecer a região a fim de produzir a notícia a partir de
dentro; temos que conhecer esta região tão falada no Brasil e no mundo e ser os
primeiros a deter esse conhecimento. Assim podemos dar uma contribuição para a
construção de uma nova sociedade, com mais autoestima, mais conhecimento de nós
mesmos.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt;">Este artigo é produto de notas para uma palestra que fiz,
como convidado, no encontroanual da Sociedade Brasileira de Estudos
Interdisciplinares da Comunicação - a Intercom, na sua versão Região Norte, na
Universidade Federal de Roraima, Boa Vista.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Fazer jornalismo na Amazônia, a rigor, não difere do fazer
jornalístico em qualquer outro lugar - espaço social, cultural ou histórico. O
jornalismo contemporâneo possui regras universais no que tange à procura, à
investigação e apuração dos fatos e à produção da notícia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Se quisermos identificar distinções, podemos apontar algumas
particularidades que nos levam a refletir sobre: a) as condições de mobilidade
física do repórter; b) o lugar de fala do profissional produtor do texto
noticioso ou interpretativo; c) a especificidade de ser a Amazônia um espaço
que atrai a atenção planetária; d) a profusão dos discursos sobre a região,
ensejando a mutação de conceitos a depender de diferentes atores.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Tal como exige a elaboração de qualquer pauta, cumpre ao
jornalista dispor do conhecimento prévio do fato/objeto a cobrir, sem o que ele
terá dificuldades de produzir o novo. É como se diz: ‘Como entrevistar um poeta
sem nunca ter lido uma poesia dele?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Vejamos item por item:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">a) Quando falamos da Amazônia vêm-nos logo à mente os velhos
estereótipos a respeito de sua extensão física com as suas particularidades de
“inferno e paraíso”, beleza e feiura, riqueza natural e pobreza humana. Nesse
sentido, somos quase sempre levados a pré-conceber uma Amazônia lá, e não uma
Amazônia aqui. Daqui surge também a fantasia da aventura, o jornalista
embrenhando-se no emaranhado de “mistérios” de florestas e rios cheios de
situações inesperadas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">b) O lugar de fala do jornalista: não necessariamente o lugar
físico, mas o lugar social, econômico, cultural e geopolítico. Há que se
analisar, por exemplo, as reportagens feitas com pautas elaboradas nos suportes
midiáticos hegemonicamente centralizados, como ocorre no Brasil, sendo nas
cidades de São Paulo e Rio de Janeiro que se constroem as pautas que geram
reportagens que serão emitidas nacionalmente. Então, qual a visão da Amazônia
que brota dessas matérias? Ou quando as pautas são supostamente elaboradas
localmente, pelas equipes das emissoras afiliadas das grandes redes, será que
essas equipes locais não seguem a gramática das emissoras matrizes, terminando
por pouco ou em nada diferir, nas suas visões e interpretações, daquelas pautas
construídas nos centros hegemônicos?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">c) A especificidade de ser a Amazônia um espaço que atrai a
atenção planetária. Este é um dos desafios ao jornalista que cobre as questões
desta região. Mesmo o repórter originário<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>e residente <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>que vasculha o
interior da região necessitará precaver-se diante do que testemunha e cobre, e
indagar-se: o que eu estou testemunhando e cobrindo tem como substrato uma
visão local ou estou, consciente ou inconscientemente, repercutindo pontos de
vista externos à região? Estou falando ou escrevendo para o
leitor/espectador/ouvinte sobre a Amazônia tal qual a percebo e conheço ou,
imaginando estar assim procedendo, na verdade estou dando visibilidade a temas
e interpretações externas, sem o necessário senso crítico ao senso comum e ao
imaginário distorcidos, construídos desde os cronistas da colonização?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">d) A profusão dos discursos sobre a região, ensejando a
mutação de conceitos a depender de diferentes atores, conforme as suas
ideologias, interesses ou desinformação. Vejamos este ponto com mais detalhes:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">A cobertura de fatos categorizados como “amazônicos”
pressupõe que o repórter já esteja de posse do conhecimento estabelecido sobre
a região: a sua extensão, a sua formação histórica, os seus aspectos naturais,
os povos aqui habitantes, enfim, penetrar na busca do novo pressupõe o domínio
do conhecimento preexistente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Assim como se faz indispensável o domínio sobre os aspectos
físicos, indispensável também é o conhecimento das formações discursivas que,
ao longo dos séculos até os dias atuais construíram e constroem uma “Amazônia”
que impregna o imaginário coletivo, dando origem a um senso comum que tende a
se tornar presente no texto jornalístico, seja no jornal/papel, nas revistas,
na televisão ou nos ambientes digitais. Estes, da mesma forma como os demais
suportes midiáticos, chamados de novas tecnologias, repetem e reforçam
estereótipos tão antigos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Podemos afirmar que o termo Amazônia seja uma palavra
caleidoscópica, que transporta os sentidos de um espaço histórico sobre o qual
se produziram os mais diversos tipos de sentidos e que hoje se torna objeto de
intensa disputa travada pela multidão de atores que buscam, de diferentes
posições, dar a sua definição, como que a última palavra sobre o que consideram
o real significado desta região. Na introdução de meu livro intitulado 'A
natureza da mídia', está escrito:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">"Distinta entre outros lugares, a Amazônia, como
enunciado catalisador de múltiplos discursos, mantém e realça fragmentos
daqueles sentidos que podemos considerar como fundadores dos relatos das
descobertas, produtos e produtores de uma polarização instituída por práticas
discursivas que estabelecem uma lógica dicotômica que dá visibilidade aos
recursos naturais e, no mesmo processo, promove a invisibilidade humana. No
interior dessa bipolaridade se estabelece como que um campo discursivo no
interior do qual se torna presente a disputa e se fabricam novos sentidos”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Prossigo: “Ao lado de uma Amazônia urbana e moderna subsistem
outras Amazônias singulares e dotadas de traços específicos que as tornam
frequentes itens de pauta da mídia. A Amazônia, entendida como espaço
físico-geográfico e humano, não constitui algo homogêneo nem um vazio. Aqui
sobrevivem grupos aos quais a mídia, com frequência, chama de “povos da floresta”,
às vezes “povos da Amazônia”, para os quais torna-se familiar a presença de
antenas parabólicas, sucedâneas do rádio, tornando presentes, no lugar,
realidades do mundo contemporâneo".<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Percebe-se que a Amazônia é tanto urbana como não urbana, no
entanto, é esta última característica que se sobressai nas reportagens: as
chamadas pautas nacionais sobre a região raramente revelam o seu lado
contemporâneo, detendo-se nos seus aspectos naturais, até contrapondo cultura e
natureza, como se a região fosse apenas natureza e não também cultura. Ou, ao
mesmo tempo, refazendo à exaustão, a produção de imagens mostrando os povos
originários como congelados no tempo, ou “povos sem história”, como diz Eric
Wolf em seu livro “Europa e la gente sin história”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">O debate ambiental,
palavras em mutação<o:p></o:p></span></u></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Um dos grandes desafios do jornalista quanto às temáticas
amazônicas é a cobertura do chamado debate ambiental. Para tanto, ele deve
possuir algo mais do que o conhecimento comum sobre a terminologia usual, uma
vez que são termos que carregam múltiplos sentidos. Por exemplo, o que vem a
ser “desenvolvimento sustentável” para o militante da Ong ambiental, ou para o
assessor de imprensa da Vale, ou para o pesquisador, ou para a pessoa de média
instrução? Há um inventário realizado pelo sociólogo ambiental Michael
Redclift, do King's College London, em que ele encontrou nada menos do que cem
significados para “desenvolvimento sustentável”. Este autor publicou um livro
cujo título já reflete essa multiplicidade, incluindo as contradições destes
dois termos: “Sustainable development: exploring the contradictions” <i style="mso-bidi-font-style: normal;">(Desenvolvimento sustentável: explorando as
contradições)</i>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Dessa forma, o jornalista que pauta matérias ambientais terá
que estar de posse dessas ferramentas teóricas e informativas a fim de escapar
da vulgarização de termos multifacetados e que podem transformar o repórter em
mero repassador de contradições, interesses diversos, interpretações ao gosto
dos entrevistados. Regra que, aliás, serve para toda e qualquer cobertura,
notadamente no ato da entrevista, em que o repórter pode resvalar para as aspas
no interior das quais nem o próprio jornalista saberá movimentar-se, menos
ainda o leitor.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">De posse desse conhecimento prévio, o repórter poderá
construir questões, por exemplo, bem atuais, sobre a construção de
hidrelétricas na Amazônia, poluição de inúmeros rios, incluindo um dos maiores
rios amazônicos, o Tapajós, desmatamento, violência pela posse da terra,
manifestações culturais, o protesto de grupos indígenas (por exemplo, todos os
indígenas são contrários à construção de hidrelétricas?), a relação entre
indígenas e garimpeiros, disputas intra-etnias pelo ouro dos garimpos e a venda
ilegal de madeira de dentro das reservas, etc.).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Nesse campo,
extremamente amplo, o repórter poderá, desde que desinformado, tornar-se
porta-voz tanto de Ongs quanto do governo ou de empresas interessadas na
exploração dos recursos naturais da Amazônia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Por exemplo, o que distingue ‘preservação’ de ‘conservação’?
E a infinitude de termos como ecologia, ecossistema, biota e toda a
terminologia que permeia, nas últimas décadas, as reportagens sobre a Amazônia?
São termos que transportam questões de fundo, como a desconexão entre meio
ambiente e pobreza, como se lê em Pablo González Casanova, em seu livro que
traz o título “O colonialismo global e a democracia”. Alguém já observou o
Greenpeace, por exemplo, empenhando-se em denunciar ao mundo a pobreza dos
povos originários e dos ribeirinhos da Amazônia? Esta multinacional do
ambientalismo, assim como outras, denuncia a construção de hidrelétricas e a
devastação das florestas. Mas esquecem (raras são as exceções) a pobreza
amazônica que contrasta com a exuberância de seus recursos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt;">Casanova adverte que esses conceitos centrais do
ambientalismo são gestados nos centros hegemônicos de pesquisa científica, no países
onde se localiza a biotecnologia, conceitos que são impostos a muitas Ongs e
governos dos países detentores dos recursos naturais que os recebem de modo
acrítico. Casanova aproxima-se de Eliseo Verón quando, no caso da sociologia,
este afirma que a pesquisa mista de cientistas locais e cientistas dos Estados
Unidos e da Europa, com dinheiro externo, termina servindo aos interesses dos
países industrializados. Diz Verón: “quem dá o dinheiro, dá também as
hipóteses”, isto é, quem financia a pesquisa torna-se dono de seus resultados.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Conhecendo a história da ocupação e da exploração dos
recursos amazônicos, o jornalista poderá, por exemplo, comparar a declaração do
médico-midiático Dráuzio Varela, num programa da Rede Globo, há algum tempo,
quando ele afirmou que "nós não temos nada a aprender com os índios”.
Mesmo assim ele estava lá no Rio Solimões, guiado por um descendente indígena,
coletando folhas e essências vegetais para levar para São Paulo. Para Varela,
essas folhas e óleos vegetais só se tornarão remédios depois que forem
transformados nos laboratórios.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">A afirmação de Dráuzio Varela lembra outra bem mais antiga,
do século 19, expressa pelo pesquisador bávaro Von Martius, para quem os índios
eram tão indolentes que sequer conheciam os remédios que podem ser retirados da
natureza. Bem mais tarde, no entanto, Sergio Buarque de Holanda escreveu que,
mesmo detratando o mérito dos indígenas, Von Martius escreveu a sua “Matéria
Médica” basicamente a partir dos conhecimentos da medicina indígena. Regra que
segue até os dias atuais e que vem sendo cultivada desde os tempos coloniais:
um discurso que torna invisíveis as pessoas e suas culturas e outro que
enaltece os recursos naturais.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Atualidades<o:p></o:p></span></u></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">O jornalista que vive e trabalha na Amazônia, ou qualquer jornalista
que se proponha a construir pautas sobre a região, precisa compreender as
políticas que hoje se impõem à região, relacionadas com a mineração, o
agronegócio, as questões indígenas, os aspectos urbanos e não urbanos, as
migrações, a garimpagem, a lógica multissecular da exportação de matérias
primas, a violência contra índios, ribeirinhos, mateiros, movimentos populares em
favor da floresta, as lutas em geral pela posse da terra. Ou seja, a
permanência da Amazônia, desde o primeiro momento do desencontro com o europeu,
como sendo um estoque de riquezas, ambiente destinado a resolver problemas que
lhe são externos, condição colonial secular.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">O jornalista que vive e trabalha na Amazônia tem necessidade e
obrigação de conhecer a região a fim de produzir a notícia e a reportagem a
partir de dentro, nós temos que conhecer esta região tão falada no Brasil e no
mundo, nós temos que ser os primeiros a deter o conhecimento e não permanecer
sendo pautados pelos dispositivos externos; precisamos fugir das angulações das
pautas da Rede Globo e demais cabeças de rede centralizadas no Rio e S. Paulo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Dessa forma, podemos dar uma contribuição para a construção
de uma nova sociedade, com mais autoestima, mais conhecimento de nós mesmos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Durante 40 anos, atuando como jornalista no dia a dia e como
professor, testemunhei o saque de uma parte da Amazônia, mais especificamente
uma parcela do Estado do Pará, produzindo matérias sobre a Transamazônica, a
Santarém-Cuiabá, a poluição do Vale do Tapajós, questões indígenas, a violência
pela terra, a garimpagem, incontáveis quedas de pequenos aviões, os teco-tecos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Fiz também muitas reportagens sobre a cultura, o Sairé, as
pescarias, sobre as riquezas regionais. Produzi notícias e reportagens sobre
literatura, artes em geral, cultura popular. Sobre a política e o
descompromisso dos políticos locais com a região, solidários com todas as
formas de espoliação da Amazônia. Pesquisei e produzi muitas reportagens sobre
a história da Amazônia; minhas teses de mestrado e doutorado têm como base a
história da região. Foi quando descobri que o conhecimento da história é
essencial para o jornalista produzir o relato do presente, não repetindo
simplesmente os fatos históricos, porém observando o passado para melhor
compreender os acontecimentos dos dias que correm.<o:p></o:p></span></p>Manuel Dutrahttp://www.blogger.com/profile/07384053619976412822noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8700928726379055079.post-56414154112631646612022-02-23T10:59:00.000-03:002022-02-23T10:59:35.318-03:00<p><span style="font-size: large;">A longa história da lama e do mercúrio nos rios do Oeste do Pará</span> </p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">Não é de hoje que se denuncia às autoridades o drama quilométrico da poluição e contaminação das águas do Tapajós e de seus afluentes, no Oeste paraense. Em janeiro de 2014, 1.700 pessoas assinaram uma carta pública endereçada ao então governador Simão Jatene. O resultado foi pouco mais que nada. Agora, remetemos ao atual governador Hélder Barbalho e às autoridades federais, mesmo depois que a Polícia Federal, em pesquisa in loco, constata a veracidade do que dissemos nesta carta, endereçada em 2014.</span></p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;"><b>A seguir a carta</b></span></p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;">Pedido
Público em Favor das Populações dos Municípios do Vale do Tapajós, da Economia
e da Natureza da Região Oeste do Pará</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt;">Exmos.
Srs.e Sras.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt;">Governador do
Estado do Pará, Simão Jatene<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt;">Vice-Governador,
Helenilson Pontes<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt;">Secretário
de Meio Ambiente, José Colares<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt;">Reitor
da Universidade Federal do Pará, Carlos Maneschy<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt;">Reitora
da Universidade Federal do Oeste do Pará, Raimunda Monteiro<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt;">Prefeito
de Santarém, Alexandre Von<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt;">Prefeita
de Belterra, Dilma Serrão<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt;">Prefeito
de Aveiro, Olinaldo Barbosa da Silva<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt;">Prefeita
de Itaituba, Eliene Nunes<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="background: white; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt;">Prefeito de Jacareacanga, Raulien de Oliveira Queiroz<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="background: white; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt;">Prefeito de Trairão, Danilo Vidal de Miranda<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="background: white; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt;">Prefeito de Novo Progresso,<span class="apple-converted-space"> Osvaldo
Romanholi<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">Senhor Governador,<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">Nós, que assinamos este
Pedido Público, vimos respeitosamente solicitar a V. Exa. e às demais
autoridades supranomeadas a adoção de medidas urgentes com o objetivo de
realizar uma pesquisa científica que comprove ou negue a hipótese de
contaminação do Rio Tapajós, tendo em vista o que segue:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="margin-left: 32.2pt; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="mso-list: Ignore;">1.<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><!--[endif]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">Nas
décadas de 1970 a 1990 a atividade garimpeira na bacia Tapajós/Jamanxim foi
responsabilizada pelo fenômeno de grave contaminação desse grande rio,
proveniente do desmanche de barrancos e despejo de produtos químicos, entre
eles o mais venenosos dos metais pesados, o mercúrio; naquele período cerca de
500 dos 800 quilômetros da extensão do Tapajós tiveram suas águas turvadas,
mudando de coloração, conforme amplamente noticiado na época;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 115%; text-indent: -18pt;">2.<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;"> </span></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 115%; text-indent: -18pt;">Agora,
do ano passado a este início de 2014, são cada dia mais frequentes informações
e notícias sobre a possível mudança de coloração do Rio Tapajós entre a sua
foz, diante de Santarém, e seu curso médio, acima da cidade de Itaituba.
Retornam, assim, as lembranças daquele período, quando as praias ficaram
enlameadas, cardumes foram contaminados conforme atestado na época, pessoas
adoeceram em virtude da contaminação da cadeia alimentar aquática, e a
população do Vale inteiro assistiu a seu belíssimo rio transformar-se em um
corpo estranho em pleno coração do Pará e da Amazônia;</span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 115%; text-indent: -18pt;">3.<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;"> </span></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 115%; text-indent: -18pt;">Não
pretendemos afirmar, de início, que o fenômeno esteja a se repetir. No entanto,
levantamos uma hipótese, obviamente a partir da observação <i>in loco</i>, que deixa poucas dúvidas sobre a positividade do fenômeno,
qual seja: o Tapajós está sendo novamente local de despejo de barro dos
garimpos e do derrame de produtos químicos, inclusive mercúrio altamente danoso
à saúde animal e humana;</span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 115%; text-indent: -18pt;">4.<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;"> </span></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 115%; text-indent: -18pt;">Tal
hipótese precisa ser urgentemente esclarecida, pela sua comprovação ou negação.
Como primeiro passo para tal esclarecimento propomos a V. Exa., Sr, Governador
e demais autoridades aqui mencionadas, as seguintes medidas:</span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 115%; text-indent: -18pt;">5.<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;"> </span></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 115%; text-indent: -18pt;">Realização
imediata de uma pesquisa de campo, de preferência a ser efetivada por equipes
de cientistas das Universidades Federal do Pará (UFPA) e Federal do Oeste do
Pará (UFOPA), com recursos do governo do Estado e grande empenho das
prefeituras de Santarém, Belterra, Aveiro e Itaituba, Jacareacanga, Trairão e
Novo Progresso. Quanto aos recursos, sabemos que eles serão pequenos,
necessários para o custeio de viagens das equipes para a coleta dos materiais a
serem analisados em laboratório. Quanto às equipes, temos certeza de que tal
proposta contará com a imediata adesão e entusiasmo de pesquisadores da UFPA e
da UFOPA. Solicitamos, no entanto, que a equipe de pesquisadores/pesquisadoras
seja composta tão somente por cientistas da área acadêmica que não tenham e nunca
tiveram vínculo com empresas mineradoras ou atividade de garimpagem no Tapajós
ou em qualquer outro lugar. Dessa forma, acreditamos que haverá maior
transparência e isenção nos resultados da investigação para benefício de todos,
tanto da população quanto dos próprios empresários.</span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 115%; text-indent: -18pt;">6.<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;"> </span></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 115%; text-indent: -18pt;">Sabemos
que o secretário de Meio Ambiente, José Colares, propôs um pré-acordo com os
donos de dragas dos garimpos, no sentido de realizar pesquisa idêntica à que
estamos aqui propondo, acordo pelo qual aqueles empresários teriam se
comprometido, em caso de os testes sobre a qualidade das águas serem positivados,
a contribuírem, eles também, para as medidas ambientais saneadoras do rio e seus
afluentes eventualmente afetados. Sabemos também que a Secretaria de Estado de
Indústria, Comércio e Mineração arrecada uma taxa dos mineradores cuja
destinação, em parte, contempla a manutenção da limpeza ambiental.</span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 115%; text-indent: -18pt;">7.<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;"> </span></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 115%; text-indent: -18pt;">Esta
pesquisa, em caráter emergencial, analisará amostras de pelo menos 20 trechos
do rio entre a foz, diante de Santarém, e o seu curso médio, diante da cidade
de Jacareacanga, abrangendo as partes mais largas e mais estreitas do rio. A
pesquisa também analisará amostras dos principais afluentes do Tapajós,
particularmente o Jamanxim, o Crepori, o Rio das Tropas e outros mais
significativos, devendo responder à pergunta básica: O Rio Tapajós e seus
principais afluentes estão sofrendo processo de contaminação por elementos
físicos e químicos estranhos à sua composição hídrica natural?</span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 115%; text-indent: -18pt;">8.<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;"> </span></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 115%; text-indent: -18pt;">Esta
pergunta se desdobra (em caso afirmativo): Que elementos contaminantes são
estes? Quais os níveis da presença de elementos estranhos nas águas do rio? Há
riscos para a saúde animal e humana? Há contaminação da fauna aquática,
especialmente das espécies mais consumidas na região? Há contaminação do
plâncton e da cadeia alimentar? Já existe contaminação humana? Há mudança de
coloração das águas do Tapajós?</span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 115%; text-indent: -18pt;">9.<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;"> </span></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 115%; text-indent: -18pt;">Se
prosseguir (em caso afirmativo) o processo de acumulação contaminante, quais as
consequências possíveis para o ecossistema natural e humano?</span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 115%; text-indent: -18pt;">10.<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;"> </span></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 115%; text-indent: -18pt;">Solicitamos
que as providências para a referida pesquisa sejam iniciadas de imediato e que
seus primeiros resultados conclusivos sejam divulgados até final de junho,
quando os rios estão cheios; dependendo da metodologia a ser adotada pelos
pesquisadores, uma nova investigação poderá ser levada a campo no mês de
outubro ou setembro, quando os rios estão com seus níveis baixos. E que, a
partir dos resultados, em caso afirmativo, V. Exa. e demais autoridades aqui
nomeadas anunciem de imediato as providências corretivas, a fim de salvaguardar
a saúde do grande rio e de suas populações, a economia de cerca de metade do
Estado do Pará, notadamente o turismo, que será fatalmente afetado caso se
comprove a contaminação das águas e das praias.</span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpMiddle"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: -18pt;">11.<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;"> </span></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: -18pt;">Após
o prazo aqui estabelecido, o grupo de cidadãos dinamizadores desta Petição
promoverá uma discussão pública de âmbito estadual e, se possível, com a
presença de entidades idôneas de âmbito nacional, já que se trata de um
problema que extrapola o interesse apenas regional. Durante essa discussão
sobre os resultados da referida pesquisa, será estabelecido um programa de ação
permanente com vistas a acompanhar a situação.</span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpMiddle"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: -18pt;">12.<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;"> </span></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt; line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: -18pt;">Contatos:
o grupo dinamizador desta Petição indica os nomes de dois participantes como
contatos, aos quais deverão ser encaminhadas correspondências e a entrega dos
laudos com os resultados da pesquisa:</span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpMiddle"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;"><o:p> </o:p></span><u style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">Anderson Dezincourt Almeida</span></u></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin-left: 32.2pt; mso-add-space: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">Rua Cel, Joaquim Braga, 169<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin-left: 32.2pt; mso-add-space: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">68005-270 Santarém Centro<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin-left: 32.2pt; mso-add-space: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">Cel: (93) 9122-3621<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin-left: 32.2pt; mso-add-space: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">Email:adezincourt@zipmail.com.br</span></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin-left: 32.2pt; mso-add-space: auto; text-align: justify;"><u><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></u></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin-left: 32.2pt; mso-add-space: auto; text-align: justify;"><u><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">Manuel Dutra</span></u></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin-left: 32.2pt; mso-add-space: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">Av. Nazaré, 275, ap. 803<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin-left: 32.2pt; mso-add-space: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">Edf. Orlando Souza Filho<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin-left: 32.2pt; mso-add-space: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">66035-170 Belém PA<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin-left: 32.2pt; mso-add-space: auto; text-align: justify;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-US;">Tel: (91)
3224-0428<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin-left: 32.2pt; mso-add-space: auto; text-align: justify;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-US;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>(91) 9633-5242<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpLast" style="margin-left: 32.2pt; mso-add-space: auto; text-align: justify;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-US;">Email:
dutra.manuel@gmail.com<u> <o:p></o:p></u></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">Sendo o que se apresenta
para o momento, Sr. Governador, aguardamos a sua resposta assim como o empenho
das demais autoridades aqui mencionadas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 16pt;">Santarém e Belém, 14 de
janeiro de 2014.</span></p>Manuel Dutrahttp://www.blogger.com/profile/07384053619976412822noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8700928726379055079.post-44266997678699864532022-02-08T19:22:00.001-03:002022-02-08T19:52:12.263-03:00Lendas em vez de notícias: o triunfo iminente das aparências e da ilusão<p><span style="font-size: x-large; text-align: center;">Matéria boa compõe um bom arquivo. E o bom arquivo, em vez de fenecer, torna-se cada vez mais vivo, acompanha o tempo. Segue entrevista com o jornalista e intelectual argentino Miguel Wiñaski.</span></p><p><span style="text-align: center;"><span style="font-size: medium;">Por Antonio Fausto Neto e Manuel Dutra</span></span></p><p><span style="font-size: x-large; text-align: center;">A internet interfere cada vez com mais força nas práticas jornalísticas, contribuindo velozmente para que as notícias, em vez de referências à concretude dos acontecimentos, com frequência tornem-se “lendas”, ilusão e, nalguns casos, alucinação.</span></p><table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWPZyXOlngV6nOPiQEt-fNUDIYd66XNBJXAkV6gl_UU_e5l_ZLN3lcyjPKbNGGVMshcRV4cy0dMYp93PZGYLun_Me-JPwtPhVH3kFMlS-fvVjVamMMBAqk6x1hbblG4FGIKxeKpTk-PO3M/s1600/DSC07681.JPG" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWPZyXOlngV6nOPiQEt-fNUDIYd66XNBJXAkV6gl_UU_e5l_ZLN3lcyjPKbNGGVMshcRV4cy0dMYp93PZGYLun_Me-JPwtPhVH3kFMlS-fvVjVamMMBAqk6x1hbblG4FGIKxeKpTk-PO3M/s1600/DSC07681.JPG" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Jornalista e escritor Miguel Wiñazki<br /><span style="font-size: xx-small;">(Foto: M.Dutra)</span></td></tr></tbody></table><br /><b>A análise é de Miguel Wiñazki (foto), secretário de Redação do Clarín, de Buenos Aires, durante entrevista concedida a este blog em 25 de setembro de 2014, por ocasião do encontro anual de jornalistas e pesquisadores em Comunicação, o Pentálogo, promovido pelo Centro Internacional de Estudos de Semiótica e Comunicação – Ciseco - em Japaratinga, Alagoas<a href="file:///C:/Users/Dutra/Documents/CISECO/ENTREVISTA%20texto%20Miguel%20Wi%C3%B1azki%2025set14.docx#_ftn1">[1]</a>.</b><br /><br /><div style="text-align: justify;">Na oportunidade, Wiñazki apresentou conferência intitulada “Jornalismo de denúncia, corrupção e espaço público: o caso Lanata”. Esta temática, assim como seu mais recente livro, “A notícia desejada” (ainda sem tradução para o Português) motivaram esta entrevista realizada por Manuel Dutra, com a contribuição valiosa de Antonio Fausto Neto, presidente do Ciseco.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Para o entrevistado, “a notícia desejada é a oferta às audiências daquilo que as audiências querem ouvir, não necessariamente a verdade. Na atualidade me parece que o jornalismo corre o risco de submeter-se à notícia desejada. Explico: os jornais diários, ao mirarem a internet, onde temos a instantaneidade e o imediato retorno da opinião pública, sabem qual é a notícia mais lida e quais os conteúdos que a audiência mais procura, e essa rapidez não assegura que aquilo que as audiências demandam é a verdade. Então, oferecemos aos leitores lendas em vez de notícias. Assim, abandonamos o jornalismo, isto é, a tarefa de exibir fatos tais como eles são, e oferecemos uma lenda que satisfaz o leitor”.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">A entrevista: </span><br /><br /></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: large;">Jornalismo como oposição política</span></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Pergunta</b> – Como secretário de redação, editor de temas relacionados aos meios de comunicação do Clarín, de Buenos Aires, e pesquisador acadêmico, você vem ao Pentálogo do Centro Internacional de Estudos de Semiótica e Comunicação, o CISECO, apresentar a temática “Jornalismo de denúncia, corrupção e espaço público”. Qual a sua motivação para trazer essas questões?</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Resposta</b> – O jornalismo de denúncia se tornou crucial na Argentina, pois o sistema político está em crise porque há corrupção e impunidade e porque o jornalismo e os jornalistas assumiram a condição de única voz da oposição política, isto é, ocuparam o lugar da oposição política, e isso não é bom. Não há oposição nem partidos hegemônicos, não havendo, portanto, partidos que equilibrem a vida política, por isso esse vácuo é ocupado pelo jornalismo. Esse fenômeno apresenta aspectos extraordinariamente positivos e outros negativos. Os positivos residem num fato irrefutável, pois, sem as denúncias jornalísticas, a cidadania ignoraria os flagrantes casos de corrupção oficial. O governo, como todos os governos, se esforça para encobrir a corrupção, creio que de maneira distinta do que ocorre no Brasil, porque se no Brasil há corrupção, não há impunidade. Na Argentina há impunidade. E as pessoas ignoravam essa realidade.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O aspecto negativo, que é bastante frequente – é a isso que chamo de “a notícia desejada”<a href="file:///C:/Users/Dutra/Documents/CISECO/ENTREVISTA%20texto%20Miguel%20Wi%C3%B1azki%2025set14.docx#_ftn2">[2]</a> -, que vou tentar explicar: o que é a notícia desejada? É oferecer às audiências aquilo que as audiências querem ouvir, não necessariamente a verdade. Explico: eu trabalhei alguns casos na Argentina, o mais dramático de todos talvez tenha sido a guerra das Malvinas, num momento em que havia uma ditadura no país; e qual seria a notícia desejada? Há que pensar em algumas questões: que a notícia desejada, por exemplo, era que a guerra das Malvinas fosse uma vitória, quando, na verdade, era uma dolorosa derrota. A notícia desejada é aquela que os governos tratam de propagandear, e os governos tratam de propiciar as notícias que os favorecem e de bloquear aquelas que os desfavorecem. A notícia desejada é também aquela que os donos dos meios de comunicação querem difundir, que são as notícias que favorecem a seus próprios interesses e tratam de não publicar aquelas que atentam contra seus interesses. E também há a notícia desejada pelos próprios jornalistas que, muitas vezes, por razões corporativas ou ideológicas se distanciam da notícia para produzir uma lenda, notícias-lendas. Na guerra das Malvinas isso coincidiu com o desejo do governo, que era uma ditadura: vamos tomar as Malvinas e reconquistá-las. Esse era o desejo dos argentinos que queriam ganhar uma guerra, embora sob uma ditadura atroz. Era o desejo dos donos dos meios de comunicação que vendiam muitos exemplares afirmando que se estava ganhando uma guerra, e o desejo dos jornalistas que fomos cúmplices desse esquema que foi um grande engano do qual fomos co-produtores. Foi o triunfo de uma ilusão, de uma aparência e de uma alucinação.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Aprecio muito um filósofo alemão que se chama Peter Sloterdijk, que fala do delírio tribal massivo, e foi ao que assistimos, de maneira delirante, na Argentina, com milhões de pessoas dando vivas ao ditador histericamente, que era o general Leopoldo Galtieri, na Plaza de Mayo. Era o ditador em comunhão com a multidão, já ao final da ditadura. Davam também vivas, ao mesmo tempo, aos meios de comunicação, que propagandeavam a guerra. A capa de uma famosa revista anunciava “Estamos ganhando” e uma semana depois a Argentina se rendia [às forças militares inglesas] e logo todos se deram conta dessa fantasia. Há inúmeros outros casos parecidos a este.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Na atualidade me parece que o jornalismo corre o risco de submeter-se à notícia desejada. Explico: os jornais diários, ao mirarem a internet, onde temos a instantaneidade e o imediato retorno da opinião pública, sabem qual é a notícia mais lida e quais os conteúdos que a audiência mais procura, e essa rapidez não assegura que aquilo que as audiências demandam é a verdade.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span style="color: red; font-size: large;">Então, oferecemos aos leitores aquelas lendas em vez de notícias. Assim, abandonamos o jornalismo, isto é, a tarefa de exibir fatos tais como eles são, e oferecemos uma lenda que satisfaz o leitor.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: justify;"><b><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt; line-height: 24px;"><o:p></o:p></span></b></div><div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Um outro exemplo ilustrativo: o filho do ex-presidente Carlos Menem envolveu-se num acidente com um helicóptero. Por alguma razão, os meios de comunicação levantaram a tese de que ele havia sido morto num atentado, que não teria sido um acidente, mas um assassinato. Era verossímil que o haviam matado, mas não era verdade, foi um acidente. O ex-presidente e sua esposa puseram-se a dizer que foi um atentado e todos os meios de comunicação replicam a versão mais atrativa para a audiência, os leitores, os espectadores e os ouvintes, ou seja, foi um atentado. E assim, diversas versões, em forma de lendas e não de notícias, passaram a circular, inclusive a de que o filho de Menem tinha sido vítima de narcotraficantes, e isso era falso.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span style="color: red; font-size: large;">Eu vejo que dentro da crise geral por que passa a imprensa, que é bastante profunda, há outra crise de ordem midiática e de ordem demagógica, isto é, o perigo do populismo midiático, que leva as pessoas a pretenderem as lendas e não necessariamente os fatos.</span></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Pergunta</b>: Esse populismo midiático de que você fala não teria a ver com o fato de que a imprensa vem substituindo a oposição política?</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Resposta </b>– Definitivamente, sim. Porque me parece que a lógica política é uma lógica eleitoreira, de caça ao voto, o que se busca é ampliar as audiências por meio de políticas para se ganhar as batalhas ante a opinião pública, o partido oficialista por um lado, e por outro a oposição e a mídia. Todos buscam a solidariedade da opinião pública.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span style="color: red; font-size: large;">Eu poderia citar aqui rapidamente o caso Lanata<a href="file:///C:/Users/Dutra/Documents/CISECO/ENTREVISTA%20texto%20Miguel%20Wi%C3%B1azki%2025set14.docx#_ftn3">[3]</a>, que é hoje o jornalista com maior audiência na Argentina, extraordinariamente relevante e que se converteu na voz mais poderosa da oposição.</span></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">E como ele chega a essa impressionante influência na opinião pública? Seu programa de investigação jornalística pode ser visto, em certa medida, como de humor, em que se imitam os políticos, utilizando uma linguagem corriqueira, insultuosa. O que é certo é que até hoje as acusações de Lanata não foram refutadas, tais como a grande corrupção, as rotas do dinheiro. Como reage o governo diante disso? Denegrindo o jornalista, tornando-o o grande rival da presidenta, pois hoje há dois personagens sob foco na Argentina: a presidenta Cristina Kirchner e Jorge Lanata, isto é, um político e um jornalista. Então, temos parte da opinião pública com a presidenta, que é uma comunicadora muito eficiente, inteligente e profissional, que se comunica pelo twitter, facebook e outros recursos que chegam à opinião pública sob a forma de redes sociais e, por outro, Jorge Lanata; são os dois grandes protagonistas. Então, trata-se de um tipo de distorção do sistema que põe em disputa uma presidenta e um jornalista, que não sabemos como terminará, pois não aparecem outros líderes de opinião.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Pergunta</b> – Quando você fala de dois protagonistas, pertencentes a categorias distintas, com a mídia assumindo a oposição, como você analisa os riscos desse processo esdrúxulo à democracia.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Resposta</b> – Para mim há um risco para o sistema democrático tal como o conhecemos, porque o escrutínio ao qual os políticos e, neste caso, os jornalistas se submetem, do ponto de vista imediato seria como uma superdemocracia direta. Num certo momento é possível saber quantas pessoas estão do lado da presidenta e quantos do lado do jornalista. Dessa forma as eleições tradicionais passam a ser um ato secundário. Vejamos: Lanata tem um programa na televisão nos domingos à noite (no Rádio são todas as manhãs). E o que faz o governo para contraditar o impressionante efeito do programa de Lanata?</div><div style="text-align: justify;"><span style="color: red; font-size: large;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="color: red; font-size: large;">O governo, no mesmo horário, transmite uma partida de futebol, a partida mais importante desse dia, e sabemos que para os argentinos, como para os brasileiros, o futebol é um grande atrativo. Dessa forma, ambos buscam capturar as audiências, e todos os domingos, entram em disputa os <i>ratings</i> de Lanata ou do futebol. É uma desnaturalização do sistema político.</span></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Pergunta </b>– O que você diz das afirmações, notadamente de partidos de esquerda, de que grupos de comunicação como o próprio Clarín, o Globo, no Brasil, a Televisa, na Venezuela, etc., estariam a serviço do grande capital, no sentido de contribuir, o quanto possível, no embate simbólico, para que não haja as reformas na América Latina de modo geral?</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Resposta</b> – Eu distingo entre os grupos midiáticos econômicos e os jornalistas que trabalhamos neles. Sem dúvida, esses grupos defendem os seus interesses capitalistas que tendem a concentrar-se e a expandir-se.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span style="color: red; font-size: large;">Eu defendo a posição daqueles que somos os jornalistas, os trabalhadores assalariados dentro do mundo jornalístico, porque não necessariamente coincidimos com os interesses dos donos dos meios.</span></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Em que zonas, em que espaços midiáticos se defendem os interesses explícitos dos donos dos meios de comunicação? Naqueles espaços onde as matérias jornalísticas não trazem assinaturas, ou seja, na capa e nos editoriais sem assinatura. Quando o jornalismo segue uma política de nome próprio – quando eu escrevo e assino a matéria – isso faz que não haja necessariamente coincidência com os interesses dos donos dos meios. Me parece que há uma divergência entre os jornalistas, enquanto trabalhadores, e os patrões.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Pergunta</b> – No Brasil há uma brincadeira segundo a qual se diz que aqui é o único país onde os jornalistas chamam os patrões de colegas...</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Resposta</b> – <i>Bueno, es muy bueno..</i>. É claro que há o problema da corrupção entre jornalistas e isso é outro perigo também na Argentina e em toda parte, talvez, porque atores importantes do campo político compram jornalistas, oferecem muito mais dinheiro do que o jornalista poderia ganhar por vias normais, para propagandear certos candidatos, especialmente quando há crise econômica. E todos os candidatos compram jornalistas...</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Pergunta</b> – Há poucos dias o Lula fez uma crítica à mídia, mas ele explicou que “não estou falando desses meninos e dessas meninas”, referindo-se aos jornalistas presentes ao ato. “Eu estou falando é dos patrões”, etc...</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Resposta</b> – Eu digo a mesma coisa, é preciso distinguir as coisas. Há políticos que compram a mídia, que pagam a jornalistas que se corrompem...</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Pergunta</b> (Antonio Fausto Neto) – Se estou correto, lendo o resumo da comunicação que você fará aqui no Pentálogo, você chamaria atenção para alguns problemas sobre as transformações na profissão de jornalista, algo que não é compreendido nos ambientes de formação do jornalista, como as escolas de comunicação. Eu gostaria que você pudesse nos adiantar um pouco, em linhas gerais, o que você pensa dessa questão, essa desconexão entre as mutações que acontecem na vida do jornalista e os ambientes formativos...</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Resposta </b>– ... falta de dimensão pragmática; há como que uma inflação da dimensão puramente teórica. Eu digo, parafraseando Kant, a conceptualização sem informação é vazia, e a informação sem o conceito é cega, daí a necessidade de integrar a informação e a conceptualização. Há que se trabalhar as ideias relativas à comunicação, porém saber como se dá o processo de captura e emissão da informação. Trata-se de uma discussão complicada. Eu creio que, efetivamente, construímos o acontecimento, porém há fatos que são informação, por exemplo, nós estamos aqui, a esta hora, em torno desta mesa de um restaurante em Japaratinga, não estamos, por exemplo, na guerra do Vietnã, nos anos 60. Isso é um fato, é uma informação. Sobre isso, nós construímos perspectivas diferentes, valorações. Nos parece maravilhoso que estejamos em Japaratinga a esta hora, à vontade, vestidos informalmente. Porém, há fatos puros, estes muito discutidos. Vejamos o caso do filho do ex-presidente Menem, ele foi morto ou se matou num acidente? Não é a mesma coisa. Pode-se ter acesso à informação: morreu num acidente, é diferente, não? Então, me parece que, com os alunos de jornalismo, é preciso trabalhar a questão da informação e como ter acesso à informação.</div><table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyr1giS6504kP9ficBq2eTO0RQg3J_QI9ZZEEkijFVuWYy3n9q33jFdxyqPmdc1GYM32vz0kFqjGpvH_oH3m3G5Ms8WHK4ZCH2yyoh4KUIPug2wy5Mrhhq5m25Tfn3JG7TbUUVOTTcYmpc/s1600/DSC07685.JPG" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyr1giS6504kP9ficBq2eTO0RQg3J_QI9ZZEEkijFVuWYy3n9q33jFdxyqPmdc1GYM32vz0kFqjGpvH_oH3m3G5Ms8WHK4ZCH2yyoh4KUIPug2wy5Mrhhq5m25Tfn3JG7TbUUVOTTcYmpc/s1600/DSC07685.JPG" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Fausto Neto ao participar da entrevista</td></tr></tbody></table><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Pergunta (Antonio Fausto Neto) – Insistindo nesse aspecto, eu lhe perguntaria em que medida o ambiente jornalístico estaria se preocupando com as mutações que afetam a profissão do ponto de vista da emergência de novas tecnologias que, passando às mãos de fontes e de usuários-leitores, estariam afetando, penso eu, a identidade e a performance do trabalho jornalístico. Como é que você vê isso e, sobretudo, como o meio profissional está encarando essa questão?</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Resposta – Essas transformações geram distintas reações. Nós vivemos no Clarín, na Argentina de modo geral, uma resistência ao que implica em trabalhar com as novas tecnologias.</div><div style="text-align: justify;"><span style="color: red; font-size: large;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="color: red; font-size: large;">O jornalista segue instalado, quer dizer, como uma autoridade comunicacional, vertical, de cima para baixo, e ele faz uma exegese do que está ocorrendo. É difícil perder esse lugar, o lugar do autor.</span></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">E surgem as resistências do tipo não quero trabalhar com as redes sociais, não me interessa escrever para o telefone celular... então há uma profunda resistência, por uma parte, em perder o espaço privilegiado que se tinha antanho. Por outro lado, há temores profundos que não se explicitam. Por exemplo, [jornalistas] me perguntam: o jornalismo continuará existindo? Iremos ser simplesmente substituídos pelo twitter, a informação com 140 caracteres? Pode ocorrer. Se pudermos saber o que ocorre na Argentina em apenas 140 caracteres, porque se haverá de procurar o jornal diário? Não sei ainda se os meios tradicionais irão subsistir em alguma medida. Em síntese, o que existe de resistência, por um lado, por outro não existe... Há um setor que já trabalha com as novas tecnologias, porém vemos aí um grande problema, que é a sustentabilidade econômica, com o dinheiro entrando nas empresas graças aos meios em papel. No caso do Clarín, de cada 100 pesos que entram, 95 são faturados pela publicidade nos meios em papel; os 5 restantes provenientes vêm da internet. E, no entanto, as audiências migram para a internet. E constata-se também esta cifra mágica: abaixo dos 37 anos de idade ninguém, estatisticamente falando, está lendo o diário em papel...</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Pergunta</b> (Antonio Fausto Neto) – São dados do contexto argentino?</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Resposta</b> – Sim, mas também na Inglaterra, onde as pesquisas indicam a mesma cifra. Creio que também no Brasil, onde a mídia em papel é rentável. Na Argentina, dentro de quatro ou cinco anos não sabermos ainda quantos leitores estarão com um jornal de papel nas mãos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Pergunta</b> – Antes da internet o jornal já dava sinais de crise. Neste novo contexto, como podemos prever seu futuro?</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Resposta </b>– Creio que não tem nenhum futuro. Se é que tem algum futuro, há de ser um suporte destinado a um núcleo minoritário, a uma elite, haja vista que as audiências da internet crescem de modo absoluto, e tudo vai mudando, pois estamos lendo as informações no celular quando estamos dentro do trem a caminho do trabalho. Há estudos também na Espanha onde a maior parte das notícias são consumidas nos aparelhos móveis. E mais, o tablet está sendo usado por pessoas acima dos 30 anos; os mais jovens usam o celular, menor e mais condensado. De tal forma que o papel tem futuro enquanto for rentável e enquanto vender papel for um bom negócio, porque está jogo também a indústria e o comércio de papel. Estes vão resistir, sem dúvida. Mesmo assim é previsível que o papel irá reduzir-se dento de uns cinco anos. A mim, pessoalmente, pouco importa, seja o papel, seja a internet.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Pergunta</b> (Antonio Fausto Neto) – E a emergência da ameaça dos amadores, das pessoas que manejam os equipamentos, sem ser jornalistas...</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Resposta </b>– Isso é complicado.</div><div style="text-align: justify;"><span style="color: red; font-size: large;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="color: red; font-size: large;">Creio ser crucial a contribuição dos jornalistas-cidadãos, aqueles que ocasionalmente produzem a informação, presenciam um acidente, tiram uma foto e a enviam ao jornal diário. Esse é um aliado.</span></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Creio que o grande experimento no mundo é do Huffington Post, nos Estados Unidos, que é feito por amadores, jornalistas não profissionais. Porém, até este momento, eu continuo acreditando na importância do jornalismo profissional, porque uma coisa é o amador ocasionalmente tirar uma foto, fazer uma nota, etc., e outra é seguir um tema durante anos sem ser um especialista. Aqui há uma superioridade informativa. Por exemplo, um jornalista esportivo que acompanhe o Boca Júnior da Argentina, que conhece o clube há anos, conhece o presidente, o vestiário, as regras do futebol e os jogadores por seus nomes. Outro exemplo: há um acidente em Maceió que requer a presença de um jornalista e de um fotógrafo. Para chegar ao local do acidente, há despesas, quem as custeará? E mais caro ainda é a cobertura de eventos como uma Copa do Mundo, quem a financiará? Quem paga a atividade jornalística? As empresas privadas ou o Estado? Na Argentina o Estado tem cada vez mais meios. Se o financiamento for de fonte pública, poderá servir para a propaganda do governo, tanto na Argentina como em qualquer outro país. Ora, o jornalista profissional necessita de uma margem de liberdade para produzir a informação livre de coerções de qualquer natureza. Assim, vejo o jornalismo cidadão como uma contribuição muito importante, no entanto, pelo que vejo neste momento, essa contribuição cidadã não substituirá o jornalismo profissional.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Pergunta</b> – A meu ver, a alma de uma notícia é a apuração, a investigação do fato a fim de revelá-lo tal qual aconteceu, tanto quanto possível. Me parece que o jornalista-cidadão não tem tempo nem as habilidades para essa prática, que é atributo do jornalista profissional, que tem tempo para a investigação e é pago para isso. Em Belém, no Pará, por exemplo, um jornal diário publicou uma foto-denúncia contra o governador, segundo a qual um hospital público não estava atendendo corretamente as pessoas. A matéria era acompanhada de uma foto que mostrava um recém-nascido dentro de uma caixa de papelão, no chão... Depois da publicação, constatou-se que a foto provinha de Honduras e que o hospital não era o mesmo... A imagem tinha sido pescada da internet.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Resposta</b> – Aí está um bom tema. Veja, o jornalista profissional é aquele que <i>está</i> no lugar e no momento do acontecimento, fisicamente. Posso escrever um texto desde Japaratinga ou de Buenos Aires, não é a mesma coisa. Há uma diferença entre esta ação e o fato de estar presente ao acontecimento.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span style="color: red; font-size: large;">E há também o problema do que chamo de jornalista de gabinete, ou de escritório. Pode estar havendo aí um processo de conversão de jornalistas em ciberproletários, uma forma de pós-fordismo em que você faz como um operário que constrói uma porta numa fábrica, você publica uma nota cujas “fontes” estão na internet, porém, de onde vem aquela informação?</span></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Por algo como uma razão estandardizada, o jornalista se torna um empregado, como operário de uma nova fábrica virtual, dentro de um sistema neo-fabril. O jornalista fica paralisado e não vai aos fatos, retendo-se no interior dessa fábrica, permanecendo como que dentro de um útero que é o clima de uma Redação, mais propício ao imaginário sobre o que está acontecendo no mundo. As relações passam a ser uteromórficas - para citar aqui Peter Sloterdijk - que protegem o jornalista e o levam a perder o contato com o mundo. Me refiro especialmente aos jornalistas jovens que retiram informações do Google.</div><table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMZvFHe6LR-mjrY5TnPU6mzC_sxCPBrl3q-Djhko7xJ2G_yRX8BE_nbG3fc4BRBNSqRL1qmUo5I-T8UzT4k34myUorjxxc6nglcqFt0WRGzvGBt-_grE6Sp3yoI7XwgWI_K68LoayQWdf5/s1600/DSC07678.JPG" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMZvFHe6LR-mjrY5TnPU6mzC_sxCPBrl3q-Djhko7xJ2G_yRX8BE_nbG3fc4BRBNSqRL1qmUo5I-T8UzT4k34myUorjxxc6nglcqFt0WRGzvGBt-_grE6Sp3yoI7XwgWI_K68LoayQWdf5/s1600/DSC07678.JPG" width="300" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">A capa do livro de Wñazki</td></tr></tbody></table><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Pergunta </b>(Antonio Fausto Neto) – Quais os teus projetos de pesquisa e publicação?</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Resposta</b> – Escrevi um livro sobre a presidenta Cristina Kirchner, com o título La Dueña (A dona). Agora, meu projeto é fazer um livro sobre as questões da ética jornalística. Um exemplo: eu sempre escrevo no diário, sou editor da página sobre meios de comunicação e sou contrário à publicação de imagens de corpos de pessoas mortas porque não agregam informação, além de que os mortos não têm como responder ao jornal. Na mesma empresa em que trabalho, o Clarín, há outros diários sensacionalistas, um deles se chama Muy, publica imagens de mortos na capa, inclusive já publicou a foto de uma adolescente desnuda que foi assassinada. E o que me disse a direção do diário? Me perguntaram por que, quando há uma guerra, publicam-se as fotos dos mortos? Qual é a diferença? Eu argumentei que não era o caso, porque há antinomias éticas...</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/Dutra/Documents/CISECO/ENTREVISTA%20texto%20Miguel%20Wi%C3%B1azki%2025set14.docx#_ftnref1">[1]</a> Miguel Wiñazki é secretário de Redação, editor de assuntos da comunicação social e chefe do programa de capacitação do diário Clarín, em Buenos Aires. É também diretor do mestrado em jornalismo realizado pelo grupo Clarín, a Universidade San Andrés e a Universidade de Colúmbia, em N. Iorque. Tem uma vasta produção bibliográfica sobre jornalismo. Em 2013 publicou La Dueña, sobre a presidenta Cristina Kirchner, e recentemente republicou La noticia deseada.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/Dutra/Documents/CISECO/ENTREVISTA%20texto%20Miguel%20Wi%C3%B1azki%2025set14.docx#_ftnref2">[2]</a> “La noticia deseada”, título de um dos livros de M. Wiñazki, B. Aires, Ed. Marea, 2014</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/Dutra/Documents/CISECO/ENTREVISTA%20texto%20Miguel%20Wi%C3%B1azki%2025set14.docx#_ftnref3">[3]</a> Jorge Lanata (12 de setembro de 1960) é um jornalista, escritor, documentarista, editor e radialista argentino. Juntamente com Jorge Fontevecchia e Eduardo Aliverti, Lanata é um dos representantes do jornalismo investigativo na Argentina, fenômeno surgido após a volta da democracia na década de 1980, onde a realidade dos fatos é mostrada de maneira crítica e não tão otimista ou positiva. Atualmente apresenta o programa “Periodismo para todos”, que vai ao ar todos os domingos no Canal 13.12. Entre suas características particulares, destacam-se um senso de humor ácido e o uso abundante da ironia para apresentar uma notícia. Numa pesquisa realizada em 2005, Lanata foi considerado a terceira personalidade mais confiável da Argentina, superado pelo escritor Ernesto Sabato e o então presidente Néstor Kirchner.</div></div>Manuel Dutrahttp://www.blogger.com/profile/07384053619976412822noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8700928726379055079.post-64037976043985102712022-02-01T14:20:00.002-03:002022-02-01T14:33:41.172-03:00Não permita que estas águas se misturem! Contaminação do Tapajós e Amazonas pode chegar perto de Belém<p><span style="font-size: large;">1 de fevereiro de 2022 - A matéria que segue eu a publiquei em 1 de fevereiro de 2014, há 8 anos, portanto. Porém, no final da década de 1970 e na década de 1980 eu fiz inúmeras e grandes reportagens mostrando que naquela época o mesmo fenômeno de hoje estava acontecendo.</span></p><p><span style="font-size: large;">Com uma diferença: hoje é muito mais volumosa a poluição dos dois grandes rios e com muito mais produtos químicos venenosos despejados n'água. O governo precisa, urgentemente, realizar uma pesquisa de grande porte a fim de verificar a situação das populações dos 6 municípios do Oeste do Pará afetados pelo lamaçal.</span></p><p><span style="font-size: large; text-align: center;">1 de fevereiro de 2014 - No coração da Amazônia a natureza fez os rios Amazonas e Tapajós assim, um verde-azul, outro amarelo. E dessa forma devem permanecer para sempre. Ocorre que hoje estas águas estão sendo canal de despejo de lama e produtos químicos venenosos da mineração de ouro no médio e alto Tapajós.</span></p><p><span style="font-size: large; text-align: center;">Década de 1970 - Estes rios e seus afluentes podem morrer como quase aconteceu há 35 anos, quando esse encontro dos dois rios sumiu, suas águas ficaram quase da mesma cor, porque a poluição amarelou o Tapajós. </span></p><p><span style="color: blue; text-align: center;">A seguir, galeria de fotos:</span></p><div style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;"><b>Fotos: MDutra</b></span><br /><div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgR8ZH8F6H_1uXFZL0sOJKfDzW7dYkkCYQ9eaKY5YLwnfV7e9HbNTtf75xVn9WD48ptKDQRDclBwZ4WFNgJpM9wDWpVJfbpFg-FXZ3GXPPTXp0b0dd2vEEX3jtdE_8muJhvgL5ye4Ok6R5S/s1600/DSC01348.JPG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgR8ZH8F6H_1uXFZL0sOJKfDzW7dYkkCYQ9eaKY5YLwnfV7e9HbNTtf75xVn9WD48ptKDQRDclBwZ4WFNgJpM9wDWpVJfbpFg-FXZ3GXPPTXp0b0dd2vEEX3jtdE_8muJhvgL5ye4Ok6R5S/s1600/DSC01348.JPG" width="640" /></a></div><b>1) Esta foto eu fiz do alto do Mirante, local do antigo Forte colonial, em Santarém. Por aqui se passa subindo para Manaus e descendo para Belém. Caso não haja medidas de contenção da poluição, águas contaminadas podem chegar ao Marajó e às proximidades de Belém, destino natural do Rio Tapajós depois que ele se mistura com o Amazonas, muitos quilômetros abaixo de Santarém. No caminho, podem ameaçar boa parte dos municípios do Oeste do Pará, isto é, cerca de metade do Estado.</b><br /><br />Foto 2 - Este é o Lago do Jacaré, perto de Alter do Chão, município de Santarém. Isso poderá desaparecer se a poluição do Tapajós prosseguir<br /><div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj2TIg-jIYOwSw2iL4v-UjREArpw_xhK4-6WzW8DREXw5jrfpc0B-IeSm-Cn8lcGNgYy5VJgeqwG7tQxo2N1ISjQncyht42QCcBhy6vQfkXTXGpgliZipvs6xmQIUAwKFxMgBzMYkYD5vy5/s1600/DSC01226.JPG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj2TIg-jIYOwSw2iL4v-UjREArpw_xhK4-6WzW8DREXw5jrfpc0B-IeSm-Cn8lcGNgYy5VJgeqwG7tQxo2N1ISjQncyht42QCcBhy6vQfkXTXGpgliZipvs6xmQIUAwKFxMgBzMYkYD5vy5/s1600/DSC01226.JPG" width="640" /></a></div><br />Foto 3 -Margem do Rio Tapajós, na Ponta do Cururu. Essa paisagem pode ser varrida do mapa se continuar o despejo de barro e químicos nas águas desse grande rio<br /><div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivgyAeYYv9yH1mHwffFdy0hl__ADTgYjZK4-u98WegqeoExsoEE6E-AihrWEK9hoSuiUefBXRsjVQFjSovz5IeujoE-3WocCNFBNZkWYrRZuoYA8DfTFhaJ1lH8bfXDYF8dIO5UlXhep-X/s1600/DSC01224.JPG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivgyAeYYv9yH1mHwffFdy0hl__ADTgYjZK4-u98WegqeoExsoEE6E-AihrWEK9hoSuiUefBXRsjVQFjSovz5IeujoE-3WocCNFBNZkWYrRZuoYA8DfTFhaJ1lH8bfXDYF8dIO5UlXhep-X/s1600/DSC01224.JPG" width="640" /></a></div><br />Foto 4 - Lancha navega em frente à vila de Alter do Chão<br /><div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjbpmC59jzPXfJBvi9SjOm0E0-j1IZV97roasYzHQwNeRiiPGETxEYbWPt-gkGzJJRuJ8d1qesoEWbP_LY27bNkVeoLEbFV_XHhKYCfit3MjsJJkvPcbznvvZbhI4cTopdod28JwJn0GH-Z/s1600/DSC01207.JPG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjbpmC59jzPXfJBvi9SjOm0E0-j1IZV97roasYzHQwNeRiiPGETxEYbWPt-gkGzJJRuJ8d1qesoEWbP_LY27bNkVeoLEbFV_XHhKYCfit3MjsJJkvPcbznvvZbhI4cTopdod28JwJn0GH-Z/s1600/DSC01207.JPG" width="320" /></a></div><br />Foto 5 - A Pedra da Moça, perto da Ponta do Cururu. Que isso não seja o prenúncio do funeral dos rios e toda a vida que eles encerram<br /><div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzHy8u5G24XswN64ItHHLYQ4Fe4xyPmHG1QFfHQ8G1LP8vDjwNBT4kIqkywJBCIof8M2OTsOp-yh0ux76xmXBNwB70lLwM9z3ErCt3XfHzoHPlwvZhWFk9DFafGYX-0mCz68KHaTsTBG8K/s1600/DSC01213.JPG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzHy8u5G24XswN64ItHHLYQ4Fe4xyPmHG1QFfHQ8G1LP8vDjwNBT4kIqkywJBCIof8M2OTsOp-yh0ux76xmXBNwB70lLwM9z3ErCt3XfHzoHPlwvZhWFk9DFafGYX-0mCz68KHaTsTBG8K/s1600/DSC01213.JPG" width="320" /></a></div><br />Foto 6 - Essa paisagem eu fotografei de dentro de um avião a 600 metros de altura. Já se percebe que o Tapajós (à sua direita) já muda de cor provavelmente por efeito da poluição. A água azulada é o Lago de Alter do Chão.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLHxiBpRwIF2DMVdZkySHC0V6Cyw88wIQ8ANOj6nn7h8ZDdoFSuxu3lNof7H3Ctt0Rdd6ot15ssI3eJkeuMpVvg2jcUG9vjmqa36lkN2uIG9_pQMJndmMAAlIyvgubTz54zPmRSMjoBrjx/s1600/DSC03130.JPG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLHxiBpRwIF2DMVdZkySHC0V6Cyw88wIQ8ANOj6nn7h8ZDdoFSuxu3lNof7H3Ctt0Rdd6ot15ssI3eJkeuMpVvg2jcUG9vjmqa36lkN2uIG9_pQMJndmMAAlIyvgubTz54zPmRSMjoBrjx/s1600/DSC03130.JPG" width="400" /></a></div><div><br /></div>Manuel Dutrahttp://www.blogger.com/profile/07384053619976412822noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8700928726379055079.post-20706632183168081772022-01-10T16:01:00.001-03:002022-01-10T16:22:15.922-03:00Santarém: justiça impede prefeitura de destruir o sítio de fundação da cidade. Como se destrói a beleza, a memória e a arte!!!<p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">A justiça de Santarém impediu hoje o prefeito Nélio Aguiar de prosseguir a destruição da Praça Rodrigues dos Santos, no centro da cidade e próximo ao Mercado Municipal Modelo. A justificativa do prefeito é construir 100 barracos de alvenaria e distribuí-los aos camelôs que ocupam áreas desorganizadas nas proximidades.</span></p><p style="text-align: justify;"><span><i>Texto e fotos: M. Dutra</i></span></p><p style="text-align: justify;"><span></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjzKuUXu7gUZQG7H7ySHhr2O2H4txLPrvwXTPWLkoF2qekts67W-FwNBsYKJbaYPs-KGKq0FQbcKxUjNlXyXko3Al4oZSRmr1E_3G4M6P1jrDlMJ4sm1eAqMT1SIuRWvErUDndcsjPAeukifUMrTyEjz6WxcRl8yzq66LG2isbeNVKICpVAqGMRyJEx-g=s4608" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-size: large;"><img border="0" data-original-height="3456" data-original-width="4608" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjzKuUXu7gUZQG7H7ySHhr2O2H4txLPrvwXTPWLkoF2qekts67W-FwNBsYKJbaYPs-KGKq0FQbcKxUjNlXyXko3Al4oZSRmr1E_3G4M6P1jrDlMJ4sm1eAqMT1SIuRWvErUDndcsjPAeukifUMrTyEjz6WxcRl8yzq66LG2isbeNVKICpVAqGMRyJEx-g=w400-h300" width="400" /></span></a></span></div><p style="text-align: justify;"><span> Parede lateral esquerda da Catedral da Sé, de Belém do Pará</span></p><p></p><p style="text-align: justify;"><span></span></p><div class="separator" style="clear: both; font-size: large; text-align: center;"><span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEg7Qo1XR1JC3zQPX9ONB5rUauFdh5jTqPt00-ufwASxFAlWeHcX8H2IroCMRhITSc3FE4OPuwCLOm85d7xixM19AhsOargygmz8XqR2bp72Vzm9hRgu0fLoyEZGrhyGo5oK0hoQHRh9LfMqPL3-lirrNXioEg4ZYOs_ej7sM97phOQ1OOkkE6Ke3gBcsw=s4608" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3456" data-original-width="4608" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEg7Qo1XR1JC3zQPX9ONB5rUauFdh5jTqPt00-ufwASxFAlWeHcX8H2IroCMRhITSc3FE4OPuwCLOm85d7xixM19AhsOargygmz8XqR2bp72Vzm9hRgu0fLoyEZGrhyGo5oK0hoQHRh9LfMqPL3-lirrNXioEg4ZYOs_ej7sM97phOQ1OOkkE6Ke3gBcsw=w400-h300" width="400" /></a></span></div><span> <span style="font-size: x-small;"> </span>Parede lateral esquerda da Catedral de Santarém, Pará<br /><div class="separator" style="clear: both; font-size: large; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiAvKLQtsDWiPyJ7v5Qt9T-j_PiqhJgr_6VSXj8wPz9RP0lyl31v1MgicOZtF7BPeTIkUqkrCj5fFDxXjxRkXutftDOWipJK3xfa5688Q8t4dU0UuY2hMIe9ThWUziEfyiHHi5QJKTsRR6-8x4WFOWHl_AwHZ-UDMv5EhLQ7WAeTy7crz2YVXvQy7ODDQ=s4608" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3456" data-original-width="4608" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiAvKLQtsDWiPyJ7v5Qt9T-j_PiqhJgr_6VSXj8wPz9RP0lyl31v1MgicOZtF7BPeTIkUqkrCj5fFDxXjxRkXutftDOWipJK3xfa5688Q8t4dU0UuY2hMIe9ThWUziEfyiHHi5QJKTsRR6-8x4WFOWHl_AwHZ-UDMv5EhLQ7WAeTy7crz2YVXvQy7ODDQ=w400-h300" width="400" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">Parede lateral direita da Catedral de Santarém, Pará</div></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: medium;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhj0nGNlR1_1CPYitMdBqVkyX2Gcunu8Z730AhyphenhyphenT4qAjIBz7NCMGC7NuecnZVDkBRGOIOzuu2tAtDcoj2TTjgHgTTTFZy0nbMaqeXNfcamDxgQ5nJgPsgdVUMBHmwDRz2iQWyI1t-32HHFy/" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="268" data-original-width="496" height="216" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhj0nGNlR1_1CPYitMdBqVkyX2Gcunu8Z730AhyphenhyphenT4qAjIBz7NCMGC7NuecnZVDkBRGOIOzuu2tAtDcoj2TTjgHgTTTFZy0nbMaqeXNfcamDxgQ5nJgPsgdVUMBHmwDRz2iQWyI1t-32HHFy/w400-h216/image.png" width="400" /></a></span></div><span style="font-size: medium;"> </span><span>A estátua em homenagem ao fundador na praça posta quase toda abaixo<br /><br /></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">A decisão judicial tem como explicação o fato de que, segundo os historiadores de Santarém, aquele praça abriga o sítio onde a cidade foi fundada no ano de 1661, 45 anos após a fundação da capital da Província do Grão-Pará, como se chamava Belém. No local existe uma estátua de João Felipe Betendorff, o luxemburguês que fundou a missão dos jesuítas onde mais tarde seria criada a cidade.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Um numeroso grupo de pessoas conhecedoras da história da cidade (aliás, pouco conhecida) acionou a justiça conseguindo uma vitória temporária, depois de dezenas de árvores já tinham sido derrubadas na semana passada, destruindo uma obra que levou anos para ser erguida.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">OUTROS CASOS GRAVES</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Transformar o local de fundação de Santarém em camelódromo sem consultar a ninguém é apenas um dos episódios tristes numa cidade que vai pondo abaixo obras de arte, de domínio público, como se pode apontar o Theatro Vitória que, depois de ter sido depósito de fibra de juta, biblioteca pública, secretaria municipal, hoje virou prédio onde funciona o Ministério Público Estadual. Ou a Igreja dos Pretos, dedicada a São Sebastião, construída pouco antes da abolição da escravidão, pelos próprios escravos. Foi posta abaixo para dar lugar a um barracão que serve de templo.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Outro caso grave são as "reformas" da Catedral de Nossa Senhora da Conceição, ao lado da residência antiga dos bispos. Basta tão somente mencionar a mais recente "reforma", que é na verdade uma monstruosa destruição de uma das mais belas obras de arte sacra do norte do Brasil, que felizmente ainda guarda o famoso "Crucifixo de von Martius", mandado fundir pelo cientista bávaro após uma tempestade ao chegar a Santarém no século 19, e fazer uma promessa a N. S. da Conceição pela sua salvação frente ao perigo de morrer afogado no Rio Amazonas.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">O que houve ali na Catedral foi uma obra de devastação do interior da belíssima igreja que não é nem era patrimônio apenas dos católicos, mas de toda a comunidade santarena. Quem ama a arte barroca ou neoclássica e entrar ali, irá chorar quando o verá. A quantidade de peças de arte sacra, assim como imagens, pinturas nas paredes os altares laterais sumiram. O forro foi derrubado já há cerca de 40 anos, por outra "reforma" tresloucada.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Para esta reportagem eu fiz fotos do interior da Catedral de Santarém e da Catedral da Sé, de Belém, que também passou por uma reforma, em 2012. Quanta diferença! Por que fizeram aquilo numa das mais belas obras de arte do período da colonização da Amazônia? Quem contraiu essa tão grande dívida com o povo de Santarém?</span></p>Manuel Dutrahttp://www.blogger.com/profile/07384053619976412822noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8700928726379055079.post-27558589219339011912022-01-07T14:31:00.001-03:002022-01-07T14:36:58.677-03:00A guerra da Amazônia, luta única na história das revoluções<p><span style="font-size: large;"> <b style="mso-bidi-font-weight: normal; text-align: justify; text-indent: 28.3pt;"><span style="line-height: 27px;">“A própria cultura e o modo de vida do povo pobre da Amazônia serviu pra definir as motivações rebeldes”.</span></b></span></p><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 28.3pt;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: medium; line-height: 27px;"><br /></span></b></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 28.3pt;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: medium; line-height: 27px;">Entrevista a Manuel Dutra</span></b></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 28.3pt;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: medium; line-height: 27px;"><br /></span></b></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 28.3pt;"><span style="font-size: medium;"><span style="line-height: 27px;"><i>Hoje, 7 de janeiro de 2022, a Guerra da Cabanagem, que ensanguentou a Amazônia no século 19, completa 187 anos de seu início. Retiro aqui do meu arquivo a entrevista que fiz com o antropólogo Mark Harris, em 2009, com o intento de que aquela guerra, com todo o seu significado histórico e suas repercussões ainda presentes, seja melhor conhecida da atual geração e melhor ensinada nas escolas, onde quase sempre é apresentada como uma ação limitada de bandoleiros quando, na verdade, foi uma das mais sangrentas guerras internas do Brasil, contemporânea da Guerra dos Farrapos no sul do Brasil.</i></span><span style="text-indent: 35.45pt;"> </span></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9zMRNDCklkC22et3WS-Tpdzn7yAWBv3rJFYMlu8KAKF8kVI4B2mAoeh77OSwAJ8tkGBw3U-J9cI0NnvQNgaJ66BkAnUfqLMGS5CkshhXmaBorEnoiA6qtygJTkLRn8a2jAAxtfsujUPZU/s1600/REBELLION.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-size: medium;"><img border="0" data-original-height="499" data-original-width="331" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9zMRNDCklkC22et3WS-Tpdzn7yAWBv3rJFYMlu8KAKF8kVI4B2mAoeh77OSwAJ8tkGBw3U-J9cI0NnvQNgaJ66BkAnUfqLMGS5CkshhXmaBorEnoiA6qtygJTkLRn8a2jAAxtfsujUPZU/s400/REBELLION.jpg" width="265" /></span></a></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin: 0cm 85.1pt 0.0001pt 7.1pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin: 0cm 85.1pt 0.0001pt 7.1pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="color: #2b00fe;">Por Manuel Dutra, 2009<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin: 0cm 85.1pt 0.0001pt 7.1pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="color: #2b00fe;">Entrevista com o antropólogo </span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin: 0cm 85.1pt 0.0001pt 7.1pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="color: #2b00fe;">Mark Harris</span><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Ecuipiranga, no município de Santarém, foi o principal centro de resistência cabana fora de Belém, até julho de 1837. Pela primeira (e última vez) um número expressivo de povos distintos – mestiços, índios, negros e brancos pobres – juntou-se, com relativo sucesso, para promover uma revolução que, embora de caráter heterogêneo, tinha como objetivo comum botar um fim ao regime de exploração humana que reinava na Amazônia. Chegou a tomar o poder provincial por quase um ano e meio.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Esta constatação brota das pesquisas documentais e de campo que vêm sendo realizadas há mais de 15 anos pelo antropólogo Mark Harris, doutor em Antropologia Social, professor e pesquisador da Universidade St. Andrews, na Escócia. Como um dos estudiosos contemporâneos da cabanagem, ele já residiu no Pará, tendo permanecido no interior de Óbidos por um ano e meio, pesquisando para sua tese de doutorado. Também morou em Ananindeua, na região metropolitana de Belém, tendo lecionado e pesquisado na Universidade Federal do Pará.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Sobre Ecuipiranga, afirma Harris, aquela localidade teve um significado muito importante no correr da guerra. Para lá quis se refugiar, para prosseguir a resistência às forças imperiais, o governador cabano Eduardo Angelim. Afirma o pesquisador: “Sim, há provas conclusivas de que Ecuipiranga foi o principal centro cabano fora de Belém, até julho de 1837, quando foi completamente destruída por Antônio Sanches de Brito e Bararoá”. Diz ele que “segundo o historiador Domingos Antonio Raiol, o governador cabano Eduardo Angelim decidiu ir pra lá quando Belém foi retomada pelas forças imperiais”, porém sem ter tido tempo de pôr em prática o projeto.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Para Harris, diversas fontes citam Ecuipiranga como sendo o centro das operações militares dos cabanos entre 1836 e 1837, no interior. Mas a importância dessa localidade e de outros agrupamentos rebeldes (e consequentemente a dimensão apropriada da rebelião) foi ofuscada pela importância dada, pelos historiadores, a Belém e seus líderes.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A seguir, a entrevista que nos concedeu Mark Harris, desde sua casa, na cidade de Saint Andrews, Escócia. Embora fale Português, combinamos que as respostas seriam dadas em inglês, por óbvias razões de maior clareza nas respostas. A tradução é de Moisés Dutra:<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Pergunta (P)</b> - Na sua mais recente viagem, em 2004, à região do Tapajós/Arapiuns, que indícios o senhor encontrou que podem ser apontados como sinais materiais da cabanagem?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Mark Harris (MR)</b> - Encontrei indícios de trincheiras defensivas em Pinhel. Havia vários tipos delas por lá. Uma delas era um grande fosso arrendondado de cerca de vinte metros de diâmetro. Muito provavelmente serviu de armadilha, com algum tipo de camuflagem como cobertura e grandes estacas pontiagudas na base. Havia também pequenas valas, talvez usadas pelas pessoas para defender suas posições e rechaçar algum eventual ataque. Algumas valas estavam mais visíveis do que outras. Toda a região estava coberta de árvores e muito mato, o que dificultava ter uma visão completa.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Não encontrei o mesmo tipo de indícios fora de Pinhel. É preciso deixar claro, no entanto, que tenho apenas a palavra dos moradores da região de que esses vestígios encontrados são da época da Cabanagem. Mas considerando o fato de não ter ocorrido nenhum outro conflito ou rebelião na região (que seja documentado), parece provável que as trincheiras sejam mesmo dos anos 1830. Documentos históricos em Belém descrevem a organização defensiva dos rebeldes, que inclui trincheiras em Santarém cobertas com peles de animais e esteiras, entre outros. Até aqui não encontrei nos registros oficiais nenhum outro local que teria tido defesas, com a exceção de Ecuipiranga, que tinha um forte. Mas considerando-se a existência das trincheiras em Pinhel, parece provável supor que a maioria dos agrupamentos rebeldes tenha tinha tido algum tipo de defesa. Afinal, trincheiras já eram usadas comumente nos mocambos, como proteção.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Eu fui a Ecuipiranga em julho de 2004, seguindo uma trilha bem acidentada, no sentido sul-norte. Lá eu não encontrei nenhum vestígio da Cabanagem. Mas esta foi apenas uma curta viagem exploratória, sem muito contato com os moradores. Deve haver vestígios de trincheiras ou algo mais nas redondezas.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Além disso, a ausência de documentação detalhada sobre as atividades dos cabanos durante a Cabanagem é significativa. Indica que os rebeldes não tinham que prestar contas de suas atividades ou reportar-se a superiores. Claramente as provas materiais indicam a possibilidade de que Pinhel tenha sido de fato um importante centro cabano no Tapajós, contando com cerca de uma centena de homens, ou mais. Caso contrário, o sistema defensivo encontrado lá não teria sido construído. Meu palpite é que ele seja do final de 1836, depois do período em que Santarém foi tomada pelas forças imperiais (após Belém já ter sido reconquistada e a região do Baixo Amazonas pacificada). Isto acabou empurrando os rebeldes interior a dentro. Há muita coisa não documentada sobre a Cabanagem. Felizmente, devido às trincheiras, agora sabemos um pouco mais.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">A tradição oral é também outra fonte na qual podemos nos basear. Porque, apesar de não apresentar provas materiais concretas, é certamente útil em nos ajudar a montar os pedaços que faltam no quebra-cabeças da compreensão da dimensão da Cabanagem e do que foi a sua repressão. Embora eu tenha levado a cabo uma pesquisa um tanto limitada, fiquei surpreso, durante minhas visitas a certas vilas no Tapajós, com a abrangência e vitalidade dos relatos sobre a Cabanagem, mesmo cerca de 180 anos depois.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">P</b> – O senhor encontrou covas onde eram jogados os corpos dos revoltosos? Em que localidades observou essas sepulturas comuns?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">MH</b> – Não ouvi falar e nem encontrei vestígios de covas coletivas. Mas não me surpreenderia descobrir que elas existem. Como eu disse anteriormente, há tantas coisas sobre as quais nós não sabemos que temos que procurar fontes alternativas para alargar o nosso conhecimento. É válido dizer também que diversos textos e documentos mencionam que corpos eram jogados diretamente no rio, e não enterrados. Dada a dificuldade de se cavar uma cova coletiva, é possível se imaginar que ela só seria construída se realmente houvesse uma boa razão para tal. Eu não assumiria automaticamente que houve covas coletivas durante a Cabanagem. Por exemplo, elas poderiam ter sido feitas nos séculos 17 e 18, durante o etnocídio de indígenas que viviam na região do Tapajós.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">P – </b>Em decorrência de suas pesquisas, concorda que Ecuipiranga (hoje Cuipiranga) foi de fato um palco destacado ao longo da guerra pelo interior do Pará?</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><b style="font-size: large; mso-bidi-font-weight: normal; text-indent: 35.45pt;">MH</b><span style="font-size: large; text-indent: 35.45pt;"> – Sim, há provas conclusivas de que Ecuipiranga foi o principal centro cabano fora de Belém até julho de 1837, quando foi completamente destruída por Antônio Sanches de Brito e Bararoá. Segundo Raiol, Angelim decidiu ir para lá quando Belém foi retomada pelas forças imperiais. Diversas fontes citam este local como sendo o centro das operações militares dos cabanos entre 1836 e 1837 no interior. Mas a importância de Ecuipiranga e de outros agrupamentos rebeldes (e consequentemente a dimensão apropriada da rebelião) foi ofuscada pela importância dada a Belém e seus líderes.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Quando o agrupamento militar de Ecuipiranga foi destruído, os cabanos se refugiaram em outros locais, cada vez mais isolados e de difícil acesso, a maior parte na região entre os rios Madeira e Tapajós, perto de Maués ou Luzea, como eram conhecidas na época.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">P</b> – A escolha de Cuipiranga, justamente na confluência do Tapajós com o Arapiuns,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>foi uma escolha estratégica inteligente dos revoltosos? Essa localidade tem fundos para o rio Amazonas: foi essa topografia que fez com que os cabanos ali resistissem durante dois anos? Ou o que fez com eles resistissem por tanto tempo?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 28.3pt;"><span style="font-size: medium;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">MH – </b>Não há nada documentado com relação à escolha de Ecuipiranga pelos rebeldes. Mas objetivamente falando, o local é uma posição militar extraordinária. Ao sul, a baía da boca do Tapajós pode ser vista, então toda a movimentação vinda de Santarém podia ser observada. Ao norte o rio Amazonas margeia barrancos íngremes. E havia também fácil acesso ao rio Arapiuns e às trilhas terrestres que iam para oeste. Era um bom lugar para se iniciar ataques às regiões vizinhas e para se esconder, mas não tão bom para se defender. As forças imperiais conseguiram bloquear a área, provavelmente apenas parcialmente, mas de qualquer maneira o suficiente para enfraquecer a posição rebelde até o ataque de larga escala que estava por vir.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 28.3pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">P</b> – As suas pesquisas estão revelando quais as verdadeiras raízes da cabanagem?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">MH – </b>Sim, eu acredito ter uma certa compreensão do que motivava a revolta cabana. Penso que seja realmente importante começar com o que foi escrito e dito sobre eles. Embora pouca coisa tenha restado, há o bastante nos escritos de Domingos Antônio Raiol e em diversas outras fontes (como por exemplo, o Arquivo Público de Belém) para nos dar uma boa idéia a respeito da motivação existente.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Raiol transcreve alguns pronunciamentos e anúncios e algumas cartas de Eduardo Angelim. Para começo de conversa, os soldados de Ecuipiranga se auto-intitulavam as “Forças dos Brasileiros Reunidos”. Esta auto-descrição indicava a lealdade deles a um Brasil independente, e aversão aos que exploravam o país sem legitimidade. Além disso, o termo “reunidos” indicava plenamente quais eram os reais interesses. Em Belém, Angelim e Antonio Vinagre, os líderes da tomada da cidade em 1835, referiam-se a si mesmos como “defensores da pátria e da liberdade”. Ou seja, eles se viam primordialmente como brasileiros e, mais importante, como cidadãos com direito a participar do processo político, que podiam escolher seus líderes e serem tratados em igualdade de direitos perante a lei. Importante ressaltar que não há sustentação na tese de que os rebeldes queriam se separar do Brasil e abolir a escravatura. Eles reconheciam a autoridade de D. Pedro II. Poderíamos dizer que as motivações da Cabanagem foram a participação popular e a interpretação das instituições do Estado.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Os políticos liberais da época deram ao povo a linguagem e a estratégia prática para dar vazão a seus anseios e suas reclamações (tais como cidadania e direitos individuais; justiça social e igualdade perante a lei para todos, e não apenas para os ricos e para a elite; auto-determinação; e por aí vai). Entretanto eu diria que, tanto quanto o liberalismo, a própria cultura e o modo de vida do povo pobre da Amazônia serviu pra definir as motivações rebeldes. Isto, eu acredito, tem sérias implicações. A retórica liberal dos rebeldes patrióticos faz a rebelião se parecer com as outras do período regencial.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Mas, se por um lado, a Cabanagem pode ser contextualizada dentro do momento político dos anos 1830, por outro lado é importante ressaltar que a Amazônia não era a mesma coisa que o resto do Brasil – ela tinha a sua própria história e sociedade. Assim sendo, existem muitas características específicas e locais da Cabanagem que não podem ser facilmente contextualizadas dentro do período regencial.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">E que características são essas? A Amazônia tinha um estilo de vida dependente do rio, que conectava toda uma vasta região geográfica; uma sociedade heterogênea e menos hierárquica, se comparada com o resto do Brasil; uma maior integração social entre diferentes identidades étnicas; uma presença indígena mais forte na cultura e na organização social; uma economia baseada na extração e não na produção, entre outras. Se seguirmos esta argumentação, precisaremos entender a Cabanagem em termos da história da região. E isso significa começar pelo período colonial e, em particular, pelas políticas portuguesas durante a segunda metade do século 18.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">A partir daí vamos para o início do século 19, com o surgimento das plantações de cacau e o desalojamento de índios da terra ao longo da calha do rio Amazonas. Depois disso, o período da Independência e a divisão dos grupos existentes em diversas correntes. A simples existência destas correntes já é suficiente para mostrar que a Cabanagem não era um movimento homogêneo. Mas, ao invés disso, era composto de múltiplas tendências, que compartilhavam as mesmas motivações, mas que não agiam juntas.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">P - </b>As razões essenciais daquela guerra continuam presentes na região amazônica? De que modo – total ou parcialmente? Em que sentido?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">MH – </b>De certa forma elas continuam presentes, sim. E eu acrescentaria também o estado de semi-escravidão do pobre, seja através de dívidas ou de clientelismo político, e a imposição de planos de desenvolvimento e gestão completamente desconectados da realidade e das condições locais. Os de fora parecem achar que sabem o que é a Amazônia sem, de fato, fazer nenhum esforço para entendê-la. Neste sentido a Amazônia permanece marginal.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">P </b>– Se uma pessoa que tenha somente vagas informações sobre aquela guerra, de repente lhe perguntasse: Professor Mark, o que foi a cabanagem? <span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">O que responderia?<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">MH</b> – Eu diria que a Cabanagem foi um movimento de pessoas pobres da Amazônia, que queriam poder escolher seus líderes, que queriam ser reconhecidos como legítimos cidadãos brasileiros e queriam lutar por uma terra com a qual se identificavam.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">P – </b>Concorda com alguns autores que a debilidade da cabanagem se deu por causa das lideranças localizadas em Belém, após a morte de Batista Campos?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">MH</b> – Não, eu não concordo que a fraqueza da Cabanagem era devido aos líderes de Belém. Primeiro, porque não acho que a Cabanagem foi um fracasso. Comparada com outras revoltas da época da Regência, ela foi muito mais bem-sucedida. Ela obteve êxito, como nenhuma outra rebelião conseguiu, em ocupar o governo da Província do Pará durante 15 meses. Os presidentes cabanos, Vinagre e Angelim, eram os chefes de governo durante este período, tentando trazer ordem e coesão a um movimento heterogêneo. Eles pagavam professores para ensinar, coletavam impostos, o mercado de escravos continuava ativo, e tudo mais.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">O problema para a liderança era a natureza desorganizada do movimento. A dispersão geográfica da rebelião tornava difícil a conexão entre todas as posições. Além do mais, algumas vilas e centros urbanos permaneceram leais às forças imperiais, tais como Gurupá, Óbidos, Cametá e Macapá. Sem contar com os liberais radicais que mudaram de lado durante o conflito, como os irmãos Sanches de Brito, no Baixo Amazonas, que acabaram por lutar ao lado das forças imperiais.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><b>“Desconfio de Batista Campos”</b><o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Por esta razão, desconfio de liberais radicais como Batista Campos. Eu o vejo mais como um político aproveitador, que precisava do apoio dos índios e dos pobres. Tudo o que ele queria, de fato, era o poder. Se ele tivesse sobrevivido, não creio que teria liderado da mesma maneira que Angelim. Batista Campos possuía claramente uma oratória brilhante e persuasiva. Mas não estou tão certo de que ele era um político habilidoso o suficiente para construir pontes seguras entre as diversas correntes existentes. Eu acho que o Angelim entendeu a importância da unidade e da disciplina.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Para completar, diria que não precisamos apenas compreender o que foi a Cabanagem, mas também a repressão sofrida e porque essa repressão foi tão brutal. Foi difícil resistir à repressão liderada pelo general Soares Andréa, embora pequenos grupos o tenham feito até 1840. Eu penso que as demandas dos cabanos não eram intrinsicamente diferentes das outras do período: elas não ameaçavam e nem pretendiam fazer uma revolução no Brasil. Ao invés disso, o tipo de pessoas que fazia estas demandas é que era visto como ameaçador. A elite do novo Brasil independente, na metade do período regencial, havia acordado do seu sonho liberal. Eles perceberam que não queriam compartilhar com os pobres, que haviam ajudado a lutar pela independência, o controle do processo político.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">P</b> – Concorda com Pasquale Di Paolo de que a cabanagem tem características de um genocídio?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">MH</b>- De maneira geral, não concordo com o Di Paolo, de que tenha sido um genocídio. Contudo, há indícios contraditórios.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">P</b> – De que modo os interesses das potências estrangeiras da época, particularmente Inglaterra e França, interferiram no conflito?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">MH</b> – Como todos sabem, os britânicos estavam envolvidos no transporte da corte de D. João VI de Lisboa ao Rio, em 1807/08, e vários mercenários britânicos ajudaram o Brasil a solidificar a Independência. Havia um grande número de negociantes britânicos, franceses, americanos e russos na Amazônia durante a Cabanagem.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Além disso, havia alguns negociantes clandestinos, como John Priest, o americano, que assassinou parte da tripulação britânica do navio Clio, nas proximidades de Salinas, na entrada do Pará. Durante o conflito propriamente dito, os franceses e britânicos estavam envolvidos de diversas maneiras. O cônsul francês, me parece, foi morto ou gravemente ferido no mês de janeiro, da insurreição. Os detalhes e as circunstâncias deste evento ainda não foram analisados.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">O historiador paraense Jorge Hurley menciona a presença de franceses no Amapá e os esforços do general Andréa para tirá-los de lá. O problema é que grupos franceses estavam armando os rebeldes (talvez não oficialmente), talvez através das rotas comerciais da Guiana. Mas, porque eles estavam fazendo isso, ainda não está claro, é necessário pesquisar mais sobre este assunto. Graças a David Cleary, antropólogo britânico (autor de pesquisas sobre garimpos na Amazônia), nós sabemos mais sobre a participação britânica, que era significativa.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Através do massacre da tripulação do Clio, a marinha britânica se fez presente na baía de Belém. Eles negociaram com o governador cabano Eduardo Angelim, pedindo ressarcimento pela mercadoria perdida com o ataque ao Clio, por grupos cabanos. Eu não estou tão certo de que o Raiol estava falando a verdade quando disse que os britânicos ofereceram apoio a Angelim, caso eles quisessem a separação do resto do Brasil. Não há nada que sustente este ponto de vista nos documentos publicados por Cleary. A participação internacional no conflito ainda necessita de mais pesquisa.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">P </b>– Qual o significado histórico e contemporâneo da cabanagem para a Amazônia de hoje? Como o senhor vê o presente debate ambiental, que tem a Amazônia como item destacado, e a sua relação com aquele acontecimento do século 19?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">MH</b> – O significado histórico da Cabanagem é que ela foi uma rebelião em larga escala, que juntou todo tipo de gente – índios, mestiços, brancos e africanos. Ela conectou todo esse pessoal numa causa comum, mesmo que não totalmente homogênea. Esta foi a primeira e última vez que um número tão expressivo de povos se juntou. Isto para mim é super importante. Hoje em dia a ação política é bem mais fragmentada. Os movimentos indígenas e ambientais são mais cuidadosamente construídos ao redor de determinados tipos de identidade.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">P</b> - Em que estágio se encontram as suas pesquisas? Quando vai sair o seu livro e como será o título?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">MH</b> – Meu livro está quase pronto <i style="mso-bidi-font-style: normal;">(foi publicado em 2010, e ainda não tem tradução para o português, talvez porque não interessa às elites intelectuais paraenses de hoje remexer esse passado em geral mal contado).</i> Eu quero comparar a Cabanagem com outras rebeliões no Brasil e contextualizá-la dentro da política imperial. Isso significa que esta discussão interessaria não apenas àqueles interessados na Amazônia, mas a um público muito mais amplo. Uma das motivações por trás deste livro é refletir sobre o lugar da Amazônia no continente sul-americano. Então, eu sinto que seja importante considerar como a Cabanagem torna a Amazônia ao mesmo tempo parecida e diferente do resto do Brasil, mas também de outros países sul-americanos. O livro vai se chamar ‘Rebellion on the Amazon: Race, Popular Culture and the Cabanagem in the North of Brazil’ (“Rebelião na Amazônia: Raça, Cultura Popular e Cabanagem no Norte do Brasil”) e será publicado pela Cambridge University Press.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Depois tenho dois projetos subsequentes. O primeiro diz respeito a recolher e analisar histórias da Cabanagem, particularmente na região do Tapajós. O segundo é o estudo da história das tradições e experiências religiosas na Amazônia. Ele se baseará num trabalho de campo na região do Baixo Amazonas e também em documentos da Inquisição (que datam dos anos 1760) existentes, em Lisboa.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">P – </b>Por que pesquisar a Cabanagem a partir da Escócia e da Europa?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 85.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 85.1pt 0cm 7.1pt; mso-para-margin-bottom: 0cm; mso-para-margin-left: 7.1pt; mso-para-margin-right: 7.09gd; mso-para-margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">MH</b> – Como você sabe, eu fui à Amazônia pela primeira vez em 1992. Passei um ano e meio vivendo numa comunidade de várzea perto de Óbidos. Uma das pessoas que me ajudaram lá me pediu para contar mais a respeito da história colonial da região, e em particular, dos povos dos quais ele é descendente. Ele tinha ouvido falar que eles lutaram na Cabanagem, mas sabia muito pouco sobre eles. A resposta a esta pergunta me fez escrever o livro. Espero que meu informante<sup> </sup>fique satisfeito com ele.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div>Manuel Dutrahttp://www.blogger.com/profile/07384053619976412822noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8700928726379055079.post-75609272029299975842021-12-21T10:34:00.000-03:002021-12-21T10:34:20.352-03:00 Estado do Tapajós, uma história feita em surtos <p><i> <span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;">Por </span><span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt; text-align: center;">Manuel Dutra</span></i></p><p><span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt; text-align: center;"> </span><span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt; text-align: justify;">As ideias de criação do Estado do Tapajós vão
e vêm como em surtos. Há momentos, como o atual, de pouca efervescência, pois a
história mostra que houve períodos de grande silêncio para, mais adiante,
retornar à ordem do dia.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;">O texto que segue tenta mostrar esse vaivém. Mas
sobretudo procura mostrar a quantos acusam o movimento de abrigar aspirações
tão somente oportunistas, que a ideia do Estado do Tapajós acompanha a história
de criação da Província e depois Estado do Amazonas e também grande parte da
história do Pará e da Amazônia.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Helvetica",sans-serif; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-themecolor: text1;">Se oportunistas há, onde não os há? Na Assembleia Legislativa do Pará? No
Congresso da República? Hoje, há duas presenças marcantes nas bordas do
movimento emancipacionista, que são os grupos legais ou ilegais que vasculham a
região do médio e alto Tapajós, com seus empreendimentos altamente invasores da
floresta e dos rios por meio da mineração desvairada e do agronegócio.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="color: black; font-size: 14.0pt; line-height: 107%; mso-themecolor: text1;"><b>O juiz governador</b><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="color: black; font-size: 14.0pt; line-height: 107%; mso-themecolor: text1;">Na primeira metade do século XIX, a Comarca do Baixo
Amazonas tinha o mesmo status jurídico que as comarcas do Grão-Pará e do Alto
Amazonas, quando da reforma do Código do Processo Criminal pela Regência, em
1832. Segundo o historiador amazonense, Ferreira Reis, o juiz de Santarém
funcionava como verdadeiro governador do Baixo Amazonas, num momento em que os
poderes de um juiz iam além das atividades forenses.</span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Esse fato histórico está na raiz da longa aspiração por </span><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">autonomia, com a criação de uma nova unidade entre
o que são hoje o Pará e o Amazonas.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;">Em 1883, em Santarém, surgiu o primeiro movimento
organizado com o objetivo de alcançar a autonomia. Foi fundada, naquele ano,
uma sociedade literária que tinha em seu estatuto social um item pelo qual se
dispunha a propugnar pela “separação do Baixo Amazonas da Província do Pará”,
segundo se lê em Paulo Rodrigues dos Santos.</span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;">Como se percebe, as motivações do atual movimento
emancipacionista são antiquíssimas. Embora as razões históricas não sejam as
únicas, elas estão presentes e perpassaram as mentes de diversas gerações.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;">A seguir, um trecho de um dos capítulos históricos
de meu livro, publicado em 1999, com o título “O Pará Dividido – discurso e
construção do Estado do Tapajós”. Uma obra que, para alguns defensores da
autonomia, é contra a autonomia; e que, para os adversários, é a favor. Uns e
outros não leram o que escrevi, com certeza.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span style="color: black; font-family: "Helvetica",sans-serif; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-themecolor: text1;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;">A história</span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;">Em 1849, o historiador Francisco Adolfo de
Varnhagen, o Barão de Porto Seguro, elaborou o primeiro estudo de reordenamento
territorial e político do Brasil, aparecendo o Pará como objeto de três subdivisões,
sem mencionar o Tapajós.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Helvetica",sans-serif; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-themecolor: text1;">Logo após desmembrar-se o Pará, com a criação da Província do Amazonas em 1850,
permaneceram pendentes questões de limites entre as duas províncias. Como forma
de evitar possíveis conflitos, surgiu a ideia de se criar uma terceira
província, situada mais ou menos entre aquelas duas, englobando as comarcas de
Óbidos, Parintins e Santarém, com a capital nesta última cidade. Em 1853 o
assunto foi debatido no Parlamento, no Rio de Janeiro. Segundo Arthur Reis, em
1869 “a idéia volta a ser admitida para conjurar as diferenças que estavam
surgindo a propósito dos limites entre o Pará e o Amazonas”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Helvetica",sans-serif; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-themecolor: text1;">O militar Augusto Fausto de Souza, mais tarde
integrante do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, propôs,
em 1877, a divisão do Império em 40 províncias, aparecendo em sua
proposta o Tapajós. Souza preocupava-se com a “desigualdade de território, de
população e de recursos” que então identificava na divisão imperial, além da
“desigualdade do número de seus representantes nas Câmaras Legislativas” e da
“preponderância de umas províncias sobre as outras”, o que, na opinião do
estudioso militar, “provoca ciúmes e rivalidades que retardam o progresso e
podem até comprometer a integridade do Império”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Helvetica",sans-serif; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-themecolor: text1;"><b>Propostas</b><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Helvetica",sans-serif; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-themecolor: text1;">Do meado do século passado até a promulgação da
Constituição de 1988, são muitas as propostas de reorganização territorial. Na
maioria dos estudos e projetos referentes à Amazônia encontra-se a região do
Tapajós, como dotada de especificidades que a tornam uma frequente candidata a
unidade autônoma.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;">Já no século XX, o militar Segadas Viana propõe, em
1933, uma profunda divisão territorial da Amazônia. Entre as novas unidades
aparecem as denominadas Tapajós e Óbidos, na região Oeste do Pará. Na década de
1940, outro militar, Juarez Távora, apresenta a sua sugestão, com o Pará
dividido em três unidades, entre elas o Tapajós. Em 1960, Antônio Teixeira
Guerra propõe a criação dos territórios federais de Monte Alegre, Trombetas e
Alto Tapajós, zonas do Oeste do Pará, dentro de um conjunto de mudanças
territoriais.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;">Em 1966, o historiador amazonense, Samuel
Benchimol, sugere uma reformulação física da Amazônia, aparecendo em seu estudo
os territórios federais do Baixo Amazonas, Tapajós e Trombetas. O autor
acredita que, por meio desse ordenamento, serão solucionados problemas criados
pelo que ele chama de “geografia voluntária”. Segundo Benchimol, “a ausência de
uma estrutura social e organizacional para apoiar e servir de logística à
população embarga o esforço produtivo, inibe a iniciativa privada, destrói os
laços de solidariedade humana...”.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;"><b>Espaço </b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Helvetica",sans-serif; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-themecolor: text1;">No resumo dessas ideias percebe-se, por exemplo, na
proposta de Benchimol, a preocupação em ordenar o espaço para o capital, onde a
“população” seja disposta de tal forma que sua presença sirva ao “esforço
produtivo” do empresariado. Os estudos promovidos por militares sugerem o
controle do território, com o estabelecimento de algo como uma ordem
territorial, pressuposto para que o Brasil alcance o progresso.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;">As ideias de autonomia, de origem interna ao que
hoje se denomina </span><i style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;">Oeste do Pará</i><span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;">, começaram a brotar com certa frequência
no século XX, com os registros demarcando a década de 1950 como o ponto de
partida para o que viria tornar-se um movimento pela criação do Estado do
Tapajós e a construção do conceito de </span><i style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;">Oeste do Pará</i><span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;">.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Helvetica",sans-serif; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-themecolor: text1;">Muito antes, porém, as pendências sobre limites entre o Pará e o Amazonas e as
sugestões de nova divisão territorial do Brasil, surgidas na segunda metade do
século XIX, resultaram em alguma sonorização interna, sobretudo em Santarém. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;">Proponentes</b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Helvetica",sans-serif; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-themecolor: text1;">Nos anos 1950, o assunto aparece esporadicamente na
imprensa, dependendo da projeção de seus proponentes. Nesse período, destaca-se
a ação do então deputado estadual Elias Ribeiro Pinto, sugerindo a autonomia do
Baixo Amazonas, na Assembleia Legislativa do Pará.</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;">A ação política de Pinto, descendente de
imigrantes nordestinos, mostrava-se como uma voz estranha aos integrantes dos
grupos de poder tradicional, sobretudo de Santarém. Ele era, para essas elites,
um arrivista que buscava espaço político-partidário utilizando a ideia de
autonomia como biombo. Embora sem combater a proposta de criação de um
território federal ou de um Estado, a imprensa ligada àqueles grupos combatia o
projeto de Pinto.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;">Nos momentos que antecedem a inauguração do </span><i style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;">regime
militar</i><span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;">, na década de 1960, registram-se três propostas divisionistas, de
autoria dos deputados paraenses Alfredo Gantuss, na Assembléia Legislativa, e
dos deputados Burlamaqui de Miranda e Epílogo de Campos, na Câmara Federal. Era
como se o tema da autonomia fosse penetrando lentamente no ideário local, antes
de constituir-se o núcleo de um movimento regionalista.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;">As propostas de Campos, Gantuss e Miranda
apresentavam os mesmos pressupostos, essencialmente iguais às sugestões elaboradas
externamente, ou seja, o Pará era fisicamente grande demais e o poder central
paraense muito distante do interior, que necessitava de um governo próximo para
se desenvolver.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;"><b>Silêncio</b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Helvetica",sans-serif; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-themecolor: text1;">O <i>regime militar</i> declarou cinco
municípios do Oeste do Pará como áreas de interesse da segurança nacional.
Nesse período, registra-se como que um silêncio sobre a ideia separatista,
talvez até pelo fato mesmo de a região ter sido particularmente visada pelos
governos militares. Na década de 1970, com as elites embevecidas pelos projetos
do Plano de Integração Nacional que, entre outras medidas, determinava a
abertura das rodovias Transamazônica e Santarém-Cuiabá e a construção do porto
de Santarém </span><span style="color: black; font-family: Symbol; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: Helvetica; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-themecolor: text1;">-</span><span style="color: black; font-family: "Helvetica",sans-serif; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-themecolor: text1;"> obras
que coincidiam com a construção de um novo aeroporto na cidade e um hotel de
luxo conseguido com incentivos fiscais </span><span style="color: black; font-family: Symbol; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: Helvetica; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-themecolor: text1;">-</span><span style="color: black; font-family: "Helvetica",sans-serif; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-themecolor: text1;"> novo
ânimo passou a alimentar-lhes o anseio de que, por um ato discricionário,
ditatorial, se repetisse no Baixo Amazonas o mesmo que ocorrera no Amapá,
separado do Pará por ato de Getúlio Vargas na década de 1940. No entanto, o
interesse da segurança nacional não coincidia com o interesse local.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;">A década de 1980, com o </span><i style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;">regime militar</i><span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;"> já
dando sinais de seu final, registraria uma inusitada movimentação de grupos
políticos, um período que seguramente mudou os rumos do tema da criação de um
Estado com capital em Santarém. Naquele momento, ocorreu uma reunião de
prefeitos de vários municípios do Baixo Amazonas, convocados pelo prefeito de
Santarém, Ronan Liberal. Gestor nomeado pelo </span><i style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;">regime militar</i><span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;">,
Liberal parece ter interpretado o sentimento de frustração da década anterior,
quando o Estado não foi criado por um decreto.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Helvetica",sans-serif; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-themecolor: text1;">Naquela reunião, começou-se a dar ênfase a uma retórica segundo a qual a luta
deveria partir de dentro para fora, e que o Estado do Baixo Amazonas, do
Tapajós ou o território federal teria que se concretizar, mas como fruto de uma
luta que partiria do interior da região.<br />
<br /><b>
Comitê</b><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Helvetica",sans-serif; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-themecolor: text1;">Aquela reunião de prefeitos marcou o início de um
movimento autonomista que viria a tomar corpo em 1985, informalmente, quando
foi criado o Comitê Pró-Criação do Estado do Tapajós. O nome cristalizou-se em
Tapajós e a região começou a ser politicamente conceituada de Oeste do Pará, de
vez que o Baixo Amazonas tradicional não englobava os novos núcleos criados ou
que sofreram mudanças com a abertura das rodovias Transamazônica e
Santarém-Cuiabá.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;">O </span><i style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;">Oeste</i><span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;"> passava a apresentar novas
realidades sócio-econômicas e culturais, as cidades ribeirinhas diferiam dos
núcleos afetados pela política de transportes rodoviários implantada em parte
da região</span><i style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;"> </i><span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;">pelo governo federal e a imigração maciça exigia
adaptações no campo político.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;">A década foi de relativa movimentação, começando
também a chamar a atenção do poder central, em Belém. Os reflexos externos
cresceram. Governadores do Pará começaram a se posicionar. Foi uma espécie de
prenúncio do que aconteceria nos anos seguintes, sobretudo durante a realização
da Assembleia Nacional Constituinte. Os ativistas do incipiente movimento
autonomista começavam a sua busca de apoios externos.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Helvetica",sans-serif; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-themecolor: text1;"><b>Projeto</b><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Helvetica",sans-serif; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-themecolor: text1;">Durante a Constituinte, os deputados Paulo Roberto
Matos, natural de Santarém; Gabriel Guerreiro, natural de Oriximiná; e
Benedicto Monteiro, de Alenquer, apresentaram um projeto de criação do Estado
do Tapajós, que esperavam ver incluído nas disposições transitórias da
Constituição que seria promulgada em 1988.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;">O projeto foi derrotado na chamada Comissão de
Sistematização e não foi ao plenário, porém obteve um volume de votos
favoráveis que deixou animados os ativistas da autonomia. Após a promulgação da
nova Constituição, foi criada a Comissão de Estudos Territoriais, composta de
deputados e senadores, com o declarado objetivo de efetuar ampla revisão dos
limites internos, sobretudo na Amazônia.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;">O relator daquela comissão foi o deputado Gabriel
Guerreiro. De seu Relatório Final, publicado em janeiro de 1990, constavam
cinco projetos de novas unidades na Amazônia, sendo o primeiro da lista o
Tapajós. Todos esses projetos terminaram arquivados definitivamente na Comissão
de Constituição e Justiça do Senado.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;"><b>Integração</b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Helvetica",sans-serif; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-themecolor: text1;">O ano de 1991 é marcado pela institucionalização do
Comitê, que adquire personalidade jurídica e declara, em seu estatuto, que sua
finalidade é “promover a criação do Estado do Tapajós”<i>.</i> Daquele momento
em diante, portanto, a ideia de autonomia passa a ser objeto de luta de uma
organização da qual participam diferentes setores sociais. Para consegui-lo, o
Comitê estatui que deverá ser promovida a “integração dos municípios de
Itaituba, Faro, Juruti, Aveiro, Rurópolis, Oriximiná, Óbidos, Alenquer, Monte
Alegre, Prainha, Almeirim e Santarém, que formarão a nova circunscrição
estadual”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;">Entre os objetivos do Comitê está a necessidade de
“centrar esforços junto à classe política da região” e, também, “junto à classe
política nacional para que se sensibilize com os problemas de nossa área”. A
declaração resumia a disposição de a região assumir a luta a partir de dentro,
reunindo suas próprias forças e buscando solidariedade externa.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Helvetica",sans-serif; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-themecolor: text1;">Naquele ano, o embate parlamentar entrava em nova fase. O recém-eleito deputado
federal Hilário Coimbra (PSDB, ex-PTB) desconheceu o projeto resultante da
Comissão de Estudos Territoriais, do ano anterior, e apresentou, ele próprio,
seu primeiro projeto de decreto legislativo prevendo a realização de plebiscito
com vistas à criação do Estado do Tapajós.<br />
<br /><b>
"Partidarização"</b><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Helvetica",sans-serif; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-themecolor: text1;">A legalização do Comitê e o início da ação de
Coimbra se dão quase simultaneamente, havendo entre ambos uma grande interação,
que um pouco mais tarde viria a ser classificada, por outros políticos, como
uma forma de “partidarização” do Comitê, resultando na cisão da entidade
promotora da autonomia, da qual se afastaram alguns membros para fundarem a
Frente Popular Pró-Emancipação do Estado do Tapajós.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;">Outros momentos de destaque se verificaram no
movimento. Em 1992, o Comitê reuniu, num mesmo documento intitulado </span><i style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;">Carta-exposição
de motivos</i><span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;">, o mais volumoso elenco de representantes de amplos setores,
encaminhando a deputados e líderes partidários no Congresso Nacional um pedido
de apoio para o momento da votação do plebiscito previsto no projeto de
Coimbra. Em nenhum outro documento reuniram-se forças sociais em tal amplitude,
autodenominadas “amazônidas-tapajônicos, nativos ou não”, que falam de um
“ciclo trintenário de luta pela criação dessa unidade federativa”, embate que
tem como fundamento “argumentos inúmeros e verdadeiros”, com “a potencialidade
econômica da região” representando “o principal componente do elenco das nossas
justificativas”, um elenco que é “plural e formidável”.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;">A Carta</span><i style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;"> </i><span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;">era assinada por 30
representantes de entidades patronais e de empregados, diretórios de partidos
políticos, conselhos de profissionais liberais e pela Cúria Diocesana. Era como
se a sociedade local mostrasse que estava mobilizada em torno da campanha pela
autonomia político-administrativa, num movimento suprapartidário e de ampla
penetração social. O resultado prático e imediato, que seria a aprovação do
plebiscito, não foi atingido.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;"><b>Declarações</b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;">O Primeiro Encontro Emancipacionista de Itaituba pretendeu
dar sequência às declarações constantes da Carta-exposição de motivos, além de
tentar deslocar, por um instante, a ação do movimento para fora da cidade de
Santarém, mostrando assim que se tratava de algo encetado por grupos de todo
o </span><i style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;">Oeste</i><span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;">.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;">Precedido por um hino de mobilização popular,
o encontro de Itaituba procurou ampliar os objetivos da Carta, traduzindo-se
numa forma de amplo apelo interno e externo em torno do movimento, chegando a
conclamar os eleitores da região a somente votarem em candidatos “comprometidos”
com os ideais de autonomia. O apelo aparentemente deu resultados imediatos: na
eleição parlamentar seguinte, o Oeste do Pará elegeu suas maiores bancadas na
Assembleia Legislativa do Estado e na Câmara Federal.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;">No mesmo ano, a Frente Popular, dissidente do
Comitê, conseguiu mais de 16 mil assinaturas com as quais encaminhou, por
intermédio do senador Jarbas Passarinho, um projeto de emenda popular,
pretendendo vê-lo aceito pelo chamado Congresso revisor. A revisão
constitucional fracassou e o projeto, que se justificava pela necessidade de
“afirmação nacional sobre estes territórios”, foi esquecido.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Helvetica",sans-serif; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-themecolor: text1;"><b>Retomada</b><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;">Em 1995, o deputado Hilário Coimbra apresentou
outros dois projetos na Câmara Federal: um acrescentando artigo ao Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias, criando o Estado do Tapajós, e, pouco
depois, um projeto de lei complementar criando o Território Federal do Tapajós.
A retomada da ideia de um Território é justificada por Coimbra como um primeiro
passo para a transformação da </span><i style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;">região</i><span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;"> em Estado, medida adotada
diante das dificuldades encontradas nos projetos anteriores.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Helvetica",sans-serif; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-themecolor: text1;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 14pt;">No presente momento novos atores entram na jogada
política pela separação e criação de novo Estado. O ambiente em Santarém e
municípios componentes do projeto não parece, por enquanto, entusiasmar
sobretudo a massa dos eleitores. A não ser que surjam fatos novos e a adesão do
governo Bolsonaro e dos militares que o cercam, com a participação da força do
agronegócio e dos mineradores artesanais ou não. É isso que parece dar alento a
mais essa arrancada separatista. Antes, os militantes terão que refazer a legislação
que, inicialmente, concentrava o plebiscito apenas na região desejosa de
emancipar-se. Com um plebiscito envolvendo todo o Pará, virá nova derrota,
mesmo que o Carajás esteja fora da contenda. Da primeira vez o Oeste do Pará
deu mais de 90% dos votos ao “sim”, mas o cômputo estadual não passou dos 60% e
poucos votos. Porém, naquele momento havia a campanha pelo Estado do Carajás, o
que mudou profundamente o panorama da luta tradicional do Tapajós.</span></p>Manuel Dutrahttp://www.blogger.com/profile/07384053619976412822noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8700928726379055079.post-12910777255055840702021-11-27T21:04:00.000-03:002021-11-27T21:04:45.022-03:00Quem são os povos da floresta?<p> <span style="text-align: right;">Manuel Dutra</span></p><p align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">In: A natureza na TV<o:p></o:p></p><p align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;"><i> UFPA/NAEA, 2005</i></p><p align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;"><o:p></o:p></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;"><i style="text-align: left;"><span style="font-size: 14.0pt;"> </span><span style="font-size: 14pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Afinal,
em relação a “povos sem história”, aos quais sempre foi negado o poder do
discurso, torna-se fácil e cômodo recolocá-los na posição de invisibilidade por
meio de </span><span style="font-size: 14pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">realidades inventadas</span><span style="font-size: 14pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">, dadas
estas, no discurso, como realidades sem adjetivo</span></i><span style="font-size: 14pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">.</span><span style="font-size: 14pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; font-size: 14pt; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFggm8B7ILywrGQKi_zQwwAyLQREq7jtq2zb76N2NmWYvv1MQYxPgGFks83oD5iYuAZ_KKvU_ny0MYVd-1dqgzN93sALxIqRByFpVthp5urF4wuMEAibXd7YoH5ZjYYzzXEwa2B20PsdWI/" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="490" data-original-width="780" height="294" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFggm8B7ILywrGQKi_zQwwAyLQREq7jtq2zb76N2NmWYvv1MQYxPgGFks83oD5iYuAZ_KKvU_ny0MYVd-1dqgzN93sALxIqRByFpVthp5urF4wuMEAibXd7YoH5ZjYYzzXEwa2B20PsdWI/w473-h294/image.png" width="473" /></a></div><span style="background-color: #fefefe; color: #0a0a0a; font-family: "Open Sans", sans-serif; text-align: start; text-indent: 0px;"><span style="font-size: x-small;"> Acervo Memorial Chico Mendes</span></span><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: 14pt; text-indent: 35.45pt;">Reiteradas
vezes a mídia, especialmente a televisão, emprega a terminologia “povos da
floresta”, cujos significados somente podem ser buscados na superfície mesma do
discurso. Não há definições verbais explícitas, no entanto, por meio de alguns
enunciados podemos inferir alguns sentidos. Estes se tornam mais explícitos no
visual, ou seja, mostrando as imagens daqueles a quem a opacidade do discurso
categoriza como “povos da floresta” vai-se realizando uma forma de definição,
percebe-se que é do imaginário que a mídia recupera e recria esse tipo de
terminologia.</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: 14pt; text-indent: 35.45pt;"><br /></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">O que
se mostra, nesses textos, é que a classificação de “povos da floresta”
refere-se à posição de grupos que ocupam espaços considerados distantes da
cultura urbana, territórios radicalmente distintos em relação ao universo da
cultura civilizada, por isso mesmo invisibilizados, esses “povos”, no processo
de sua midiatização. Em todos os programas que analisamos, em alguns mais, em
outros menos, o espaço <i>natural</i>
midiatizado parece ser inteiramente estranho ao espaço cultural, sendo o espaço
natural exibido sempre como algo distante, uma espécie de “alhures” (SEMPRINI,
1996, p. 194).</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Dessa forma, esse “distanciamento geográfico e temporal” induz
um efeito de deslocamento conceitual e cultural, já que o objeto natureza é
percebido como radicalmente estranho, que não nos diz respeito nem nos
interpela como usufrutuários ou habitantes em potencial desses espaços, mas
somente como espectadores, observadores descompromissados e distantes do
cenário natural, sugerindo, assim, uma espécie de ficcionalidade do espaço
natural (idem).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Realiza-se,
dessa forma, um tipo de confrontação entre uma temporalidade cultural e uma
temporalidade natural, cuja estruturação tem consequências diretas sobre a
construção do imaginário midiático da natureza (idem, p. 192). É nesses territórios
que habitam aqueles a quem a mídia chama de “povos da floresta”, terminologia
que passou a integrar o imaginário a partir da década de 1980, quando
movimentos sociais como o dos seringueiros da Amazônia, de grupos atingidos por
barragens de hidrelétricas, os quilombolas, etc., foram obtendo espaço na mídia
em decorrência de suas ações reivindicatórias, como componentes de “sociedades
não-urbanas contemporâneas da Amazônia”, social e politicamente invisíveis, tal
como se refere Barreto Filho (2001, p. 2) à categoria “populações
tradicionais”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Embora
tal invisibilidade seja perceptível em programas de TV analisados, seria
metodologicamente imprudente incluir os “povos da floresta” na categoria
“populações tradicionais” visto que aqueles, tal como suas falas e imagens são
mostradas, são midiatizados como grupos que podem ser tanto não-urbanos como <i>urbanos</i>, pois suas falas e imagens
ocorrem também em ambientes como feiras típicas da vida nas cidades, são
entrevistados diante do Teatro Amazonas, de Manaus, tanto são coletores de
açaí, como são caracterizados como “índios, somos nós, os brasileiros”,
produzindo este enunciado um efeito de proximidade que, na verdade, realça a
distância entre os “povos da floresta” e “nós”. O não-urbano, nesses textos, perpassa
o urbano, pois “eles podem estar por toda parte”, como enuncia um repórter da TV
Globo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Embora
não se confundam com a categoria “populações tradicionais”, com ela os “povos
da floresta” guardam particular proximidade, ressalvando-se, aqui, a questão da
territorialidade que, nos programas televisivos, se apresenta como fluida, ou
seja, uma característica não essencial aos “povos da floresta”. Os
“tradicionais”, segundo conceituam Diegues et al. (2001, p. 31-2), são aqueles
grupos possuidores de um conhecimento que é definido como “o conjunto de
saberes e saber-fazer a respeito do mundo natural e sobrenatural, transmitido
oralmente de geração em geração”. Segundo essa visão, a categoria extrapola os
grupos indígenas para incluir outros grupos entre os quais “há uma interligação
orgânica entre o mundo natural, o sobrenatural e a organização social”, não
existindo, entre eles, uma classificação dualista ou uma linha divisória rígida
entre <i>natural</i> e <i>social</i>, mas sim um <i>continuum</i>
entre ambos. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">E
quem seriam, então, os “povos da floresta”? Seriam eles classificados por sua
origem étnica, como indígenas, nativos, povos tradicionais, portadores de
estilos de vida tradicionais, comunidades autóctones, agricultores de
subsistência ou populações locais? Nesse caso, sua categorização não se vincula
necessariamente ao território, de vez que são midiatizados em distintos
lugares, ora pescando, ora coletando, ora referindo roçados, ora presentes em
ambientes urbanos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBlockText" style="text-align: justify; text-indent: 28.3pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Em certo sentido, esses “povos” aproximam-se conceitualmente,
mas apenas parcialmente, das “populações tradicionais”, na forma como Barreto
Filho (idem, p. 9) afirma deste conceito: “Trata-se de construto ideológico
cuja força reside exatamente na generalidade do seu significado e na flutuação
do seu emprego, não sendo possível o exercício do rigor científico nessa
matéria”. No trabalho de Barreto Filho (idem) as noções de “tradicional”
associam-se às noções de “áreas protegidas”, ou seja, de conservação e proteção
dos recursos naturais. Por isso,<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 63.8pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 42.55pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt;">a diversidade de situações referidas reflete-se na
variedade de termos empregados. Se alguns apontam para a ab-originalidade e
outros para a etnicidade, outros sinalizam apenas para a escala espacial – a
proximidade de áreas ecologicamente críticas e frágeis ou áreas protegidas.</span><span style="font-size: 14pt;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="margin-right: 35.45pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt;">Talvez seja possível também
recorrer à noção de “povos sem história” apontados por Wolf (1994, p. 464),
para quem, a partir do século XV, a dispersão dos europeus, através dos
oceanos, conjuntou as “redes regionais pré-existentes” em uma orquestração
global e as submeteu a um ritmo de alcance mundial. Dessa forma, povos com
origens e modos de ser diversos “foram arrastados por essas forças para
atividades convergentes, ... levados a participar na construção de um mundo
comum”, pelo encontro de marinheiros mercantes europeus e soldados de várias
nacionalidades, mas também “povos naturais” da América, África e Ásia:</span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 63.8pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 42.55pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt;">Nesse processo, as sociedades e culturas de todos
esses povos experimentaram transformações profundas, transformações que
afetaram tanto os povos considerados como portadores de história ‘real’ como
também as populações que os antropólogos chamaram de ‘primitivas’ e que, em
geral, foram estudadas como sobreviventes prístinos de um passado intemporal
(idem, p. 465).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 42.55pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt;"> <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-right: 35.45pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Para
Wolf, a história desses povos “primitivos” também está constituída pelos
processos mundiais que a expansão europeia pôs em marcha, não sendo, pois,
“antecessores contemporâneos”, nem “povos sem história, nem povos cujas
histórias, usando a expressão de Lévy-Strauss, permanecem congeladas” (p. 465).
No processo de expansão europeia, diz Wolf (idem, p. 469), que o controle da
comunicação permite aos administradores estabelecer as categorias por meio das
quais se vai perceber a realidade. E, de modo inverso, esse mesmo processo
carrega em si a faculdade de negar a existência de categorias outras, de
remetê-las ao reino da desordem e do caos, de torná-las social e simbolicamente
invisíveis. </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-right: 35.45pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Além disso, esse processo de conjuntar povos portadores de história
“real” e aqueles “sem história” esforça-se por manter <i>em seu lugar</i> os significados assim gerados, isto é, de que os
“primitivos” não têm mesmo história “real”. Esses significados, assim
produzidos, constituem “proposições básicas sobre a natureza da realidade
inventada” (idem, p. 469).<o:p></o:p></span></p>
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt;">No </span><i style="font-size: 14pt;">corpus</i><span style="font-size: 14pt;"> televisivo
investigado, o emprego da terminologia “povos da floresta” traz, na verdade,
uma desfocagem dos grupos que aí são midiatizados. Os textos televisivos não os
definem explicitamente. A despeito da diversidade de seus modos de vida, contato
com a natureza e com o urbano, o discurso da mídia busca construir a
homogeneização de grupos diferenciados. Nesse tipo de discurso, todos esses
“povos” são mostrados como distintos daqueles outros que não são “da floresta”,
portanto urbanos, civilizados, com modos de vida </span><i style="font-size: 14pt;">modernos</i><span style="font-size: 14pt;">.</span></div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> Essa é a distinção produzida nesse tipo de discurso, cujo
autor coletivo se sente à vontade para incluir unidades de sentido tais como
“garimpeiro de copaíba” (<i>Globo Repórter</i>),
misturando noções associadas à mineração artesanal e à coleta de essências
florestais. Afinal, em relação a “povos sem história”, aos quais sempre foi
negado o poder do discurso, torna-se fácil e cômodo recolocá-los na posição de
invisibilidade por meio de <i>realidades
inventadas</i>, dadas estas, no discurso, como realidades sem adjetivo. <i> </i></span></div>Manuel Dutrahttp://www.blogger.com/profile/07384053619976412822noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8700928726379055079.post-77522436718984688822021-10-23T18:50:00.001-03:002021-10-23T18:52:13.911-03:00 Cametá, Santarém, Manaus, quando idade não é documento<p><span style="color: red;">Várias vezes já retirei do meu arquivo esta matéria, com o desejo de que os historiadores da terra se interessem pelo tema e por temas correlatos </span></p><div class="article-header" style="display: table; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: center; width: 750px;"><h1 class="title entry-title" itemprop="name" style="color: #333333; display: table-cell; font-size: 20px; font-weight: normal; margin: 0px; padding: 0px 40px 0px 0px; position: relative; vertical-align: middle; width: 670px;"><a data-id="8126299959858574487" data-item-type="post" href="http://blogmanueldutra.blogspot.com/2013/10/24-de-outubro-cameta-santarem-manaus.html" itemprop="url" rel="bookmark" style="color: #333333; outline: none; text-decoration-line: none; transition: color 0.3s ease 0s;">24 de outubro - Cametá, Santarém, Manaus, quando idade não é documento</a> <span class="blog-admin" style="display: inline;"><a class="edit" href="https://www.blogger.com/post-edit.g?blogID=8700928726379055079&postID=8126299959858574487&from=pencil" style="background-image: url("data:image/png;base64,iVBORw0KGgoAAAANSUhEUgAAABUAAAAVCAYAAACpF6WWAAAA+UlEQVR42s3U2QmDQBAG4JRgKZbio4qieIAniniiYgkpwRIsISVYQkqwhMlMiHkIhITNhGRgYNeHz/1xncPhn0pV1dkwjNW2bYkNRAzCMIQ4jj+HdzBJEmiaBtq2hSzLxOFHcBgGGMcRuq4Tg5+Be9/gmQ2kxmdrnucSG9j3/TxNEy/IGvl3oKIokqZpC+sJdV1fHceBNE2vl5oDlC3LInBjAakw9tF13TPeNRljbwh8BlKZpnnGAXGkdRRFclEUd1gIpOj0cQijPa6VIAhOdV2LgXt03/cBoy8Ib57n0QvWsixz4XFG0XEuQlVVC8a23/6HX6A80DfrAlIMSJorw8fYAAAAAElFTkSuQmCC"); background-position: 50% 50%; background-repeat: no-repeat; color: #333333; cursor: pointer; display: inline-block; height: 21px; opacity: 0.8; outline: none; position: relative; text-decoration-line: none; top: 3px; transition: color 0.3s ease 0s; width: 21px;" target="_self" title="Edit"></a></span></h1></div><div class="article-content entry-content" itemprop="articleBody" style="clear: both; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; line-height: 1.4; margin: 10px auto 5px; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; color: #333333; font-size: 14px; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: center;"><b style="text-align: start;">Três cidades amazônicas fazem aniversário hoje, 24 de outubro. Lembram a data de sua elevação à categoria de cidades. Longe no tempo, tiveram lá os seus significados geopolíticos. Evoluíram e se distanciaram, embora permanecendo sem tanta diferença até o meado do século 20. Nas últimas 5 ou 6 décadas começaram a distanciar-se, seja em população, seja nos índices macro-econômicos.</b></div><div class="separator" style="clear: both; color: #333333; font-size: 14px; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: start;"><span style="font-size: x-small;"><br /></span></div><div class="separator" style="clear: both; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: start;"><span style="color: red; font-size: x-small;">(Arquivo: publicado pela primeira vez em 24 de outubro 2011)</span></div><div class="separator" style="clear: both; color: #333333; font-size: 14px; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhIlkdwa5QYlfP0oO-rAa3-E3KJsA9wHyuYLTL7CFnQiVZ11AcPRtckwOqQmHR4Hj3JAv3WzayM-h4iaEKcNYvlURarXL-GuzLvFKpFu83WtCXLzT5d3m0dHT7RNLN1AZESviqJLZau3S-7/s1600/Camet%C3%A1+1.jpg" style="color: #009eb8; display: inline; margin-left: 1em; margin-right: 1em; outline: none; text-decoration-line: none; transition: color 0.3s ease 0s;"><img border="0" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhIlkdwa5QYlfP0oO-rAa3-E3KJsA9wHyuYLTL7CFnQiVZ11AcPRtckwOqQmHR4Hj3JAv3WzayM-h4iaEKcNYvlURarXL-GuzLvFKpFu83WtCXLzT5d3m0dHT7RNLN1AZESviqJLZau3S-7/s400/Camet%C3%A1+1.jpg" style="-webkit-border-image: url("data:image/png;base64,iVBORw0KGgoAAAANSUhEUgAAABQAAAAUCAMAAAC6V+0/AAAAOVBMVEUAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAD///+8yHYvAAAAEnRSTlMAAgEDBAUJBwYzCw0UChARDghnBteEAAAAhElEQVR4XnWRSxJDIQgEEx1Axd/L/Q8bKCuuyOzsohHxdZLS25LSOV2ULQdflgEiIDu9KqiIFILXXpeEx2ChXwdnKNxUGxc4dZbNfXjPufkp5H0Nwtymq/dltUIweNy9qmXt08EgydDZ6+dT+9Qh9AeGenhROFI0fPjMaCHx6uIlh9/xBSJuB3l0A/6JAAAAAElFTkSuQmCC") 9 fill / 9px stretch; border-color: initial; border-image-outset: 0; border-image-repeat: stretch; border-image-slice: 9; border-image-width: 9px; border-image: url("data:image/png;base64,iVBORw0KGgoAAAANSUhEUgAAABQAAAAUCAMAAAC6V+0/AAAAOVBMVEUAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAD///+8yHYvAAAAEnRSTlMAAgEDBAUJBwYzCw0UChARDghnBteEAAAAhElEQVR4XnWRSxJDIQgEEx1Axd/L/Q8bKCuuyOzsohHxdZLS25LSOV2ULQdflgEiIDu9KqiIFILXXpeEx2ChXwdnKNxUGxc4dZbNfXjPufkp5H0Nwtymq/dltUIweNy9qmXt08EgydDZ6+dT+9Qh9AeGenhROFI0fPjMaCHx6uIlh9/xBSJuB3l0A/6JAAAAAElFTkSuQmCC") 9 / 9px / 0 stretch; border-style: none; border-width: 9px; box-sizing: border-box; display: inline-block; height: auto; margin: 10px auto; max-width: 100%; padding: 8px; position: relative;" width="400" /></a></div><i style="color: #333333; font-size: 14px;">Cametá e os casarões típicos da arquitetura colonial, presentes também em<br />Santarém, Manaus e outras cidades antigas da Amazônia</i><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiK_uu9ZGAxB6_Yd61ddaQLQDS2vxVam2Xn9vTnL47Mr52jDmLHTXE8x413-XaYfaX_VLWU8GOAh0Y9-yk_AfXu5c2rY5jqFF-D3NpVfjqN2_IhcyROa8yMJ3r5axO8EUD-c9q8Cfu9ato6/s1600/camet%C3%A1222222222222.JPG" style="color: #009eb8; display: inline; font-size: 14px; margin-left: 1em; margin-right: 1em; outline: none; text-align: center; text-decoration-line: none; transition: color 0.3s ease 0s;"><img border="0" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiK_uu9ZGAxB6_Yd61ddaQLQDS2vxVam2Xn9vTnL47Mr52jDmLHTXE8x413-XaYfaX_VLWU8GOAh0Y9-yk_AfXu5c2rY5jqFF-D3NpVfjqN2_IhcyROa8yMJ3r5axO8EUD-c9q8Cfu9ato6/s400/camet%C3%A1222222222222.JPG" style="-webkit-border-image: url("data:image/png;base64,iVBORw0KGgoAAAANSUhEUgAAABQAAAAUCAMAAAC6V+0/AAAAOVBMVEUAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAD///+8yHYvAAAAEnRSTlMAAgEDBAUJBwYzCw0UChARDghnBteEAAAAhElEQVR4XnWRSxJDIQgEEx1Axd/L/Q8bKCuuyOzsohHxdZLS25LSOV2ULQdflgEiIDu9KqiIFILXXpeEx2ChXwdnKNxUGxc4dZbNfXjPufkp5H0Nwtymq/dltUIweNy9qmXt08EgydDZ6+dT+9Qh9AeGenhROFI0fPjMaCHx6uIlh9/xBSJuB3l0A/6JAAAAAElFTkSuQmCC") 9 fill / 9px stretch; border-color: initial; border-image-outset: 0; border-image-repeat: stretch; border-image-slice: 9; border-image-width: 9px; border-image: url("data:image/png;base64,iVBORw0KGgoAAAANSUhEUgAAABQAAAAUCAMAAAC6V+0/AAAAOVBMVEUAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAD///+8yHYvAAAAEnRSTlMAAgEDBAUJBwYzCw0UChARDghnBteEAAAAhElEQVR4XnWRSxJDIQgEEx1Axd/L/Q8bKCuuyOzsohHxdZLS25LSOV2ULQdflgEiIDu9KqiIFILXXpeEx2ChXwdnKNxUGxc4dZbNfXjPufkp5H0Nwtymq/dltUIweNy9qmXt08EgydDZ6+dT+9Qh9AeGenhROFI0fPjMaCHx6uIlh9/xBSJuB3l0A/6JAAAAAElFTkSuQmCC") 9 / 9px / 0 stretch; border-style: none; border-width: 9px; box-sizing: border-box; display: inline-block; height: auto; margin: 10px auto; max-width: 100%; padding: 8px; position: relative;" width="400" /></a><br /><i style="color: #333333; font-size: 14px;">A Catedral de N. S. da Conceição, em Santarém, cidade a meio<br />caminho entre Belém e Manaus</i><br /><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="color: #333333; font-size: 14px; margin-bottom: 0.5em; margin-left: auto; margin-right: auto; padding: 4px; text-align: center;"><tbody><tr><td><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_lWyTPdkyhk876cARfNwdfQ1WlNLcERSkE9JqXl3rh2eIUdjfq3R3ajT8F-2NStapnyFsaFMo2D6dDx2RaelEazKhgqoMYvXf6ATe3VQBBQtoADgA2tBl9jQA8rtJtfSixSBc_wRpY-oU/s1600/DSC00341.JPG" style="color: #009eb8; display: inline; margin-left: auto; margin-right: auto; outline: none; text-decoration-line: none; transition: color 0.3s ease 0s;"><img border="0" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_lWyTPdkyhk876cARfNwdfQ1WlNLcERSkE9JqXl3rh2eIUdjfq3R3ajT8F-2NStapnyFsaFMo2D6dDx2RaelEazKhgqoMYvXf6ATe3VQBBQtoADgA2tBl9jQA8rtJtfSixSBc_wRpY-oU/s400/DSC00341.JPG" style="-webkit-border-image: url("data:image/png;base64,iVBORw0KGgoAAAANSUhEUgAAABQAAAAUCAMAAAC6V+0/AAAAOVBMVEUAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAD///+8yHYvAAAAEnRSTlMAAgEDBAUJBwYzCw0UChARDghnBteEAAAAhElEQVR4XnWRSxJDIQgEEx1Axd/L/Q8bKCuuyOzsohHxdZLS25LSOV2ULQdflgEiIDu9KqiIFILXXpeEx2ChXwdnKNxUGxc4dZbNfXjPufkp5H0Nwtymq/dltUIweNy9qmXt08EgydDZ6+dT+9Qh9AeGenhROFI0fPjMaCHx6uIlh9/xBSJuB3l0A/6JAAAAAElFTkSuQmCC") 9 fill / 9px stretch; border-color: initial; border-image-outset: 0; border-image-repeat: stretch; border-image-slice: 9; border-image-width: 9px; border-image: url("data:image/png;base64,iVBORw0KGgoAAAANSUhEUgAAABQAAAAUCAMAAAC6V+0/AAAAOVBMVEUAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAD///+8yHYvAAAAEnRSTlMAAgEDBAUJBwYzCw0UChARDghnBteEAAAAhElEQVR4XnWRSxJDIQgEEx1Axd/L/Q8bKCuuyOzsohHxdZLS25LSOV2ULQdflgEiIDu9KqiIFILXXpeEx2ChXwdnKNxUGxc4dZbNfXjPufkp5H0Nwtymq/dltUIweNy9qmXt08EgydDZ6+dT+9Qh9AeGenhROFI0fPjMaCHx6uIlh9/xBSJuB3l0A/6JAAAAAElFTkSuQmCC") 9 / 9px / 0 stretch; border-style: none; border-width: 9px; box-sizing: border-box; display: inline-block; height: auto; margin: 10px auto; max-width: 100%; padding: 8px; position: relative;" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="font-size: 11.2px;"><span style="font-size: small;"><i>A Pracinha de São Raimundo, no coração do bairro da Aldeia, em Santarém, oficialmente Praça do Centenário, homenagem à elevação à categoria de cidade, em 1948</i></span></td></tr></tbody></table><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="color: #333333; font-size: 14px; margin-bottom: 0.5em; margin-left: auto; margin-right: auto; padding: 4px; text-align: center;"><tbody><tr><td><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEizYHh6vldAVXBukWO1qMbWQ4Swrzzu0mUwFWZ4pKGPq8DTiRYDlGrAML_KbBJzzHVuT2dRypDQ3KytKO4GwzNm1FmDjKRnGzp6Wj9-6VZURKVdRzPacYVv2lwr7fQEeyYBACZ-IgVOLqTw/s1600/DSC00338.JPG" style="color: #009eb8; display: inline; margin-left: auto; margin-right: auto; outline: none; text-decoration-line: none; transition: color 0.3s ease 0s;"><img border="0" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEizYHh6vldAVXBukWO1qMbWQ4Swrzzu0mUwFWZ4pKGPq8DTiRYDlGrAML_KbBJzzHVuT2dRypDQ3KytKO4GwzNm1FmDjKRnGzp6Wj9-6VZURKVdRzPacYVv2lwr7fQEeyYBACZ-IgVOLqTw/s400/DSC00338.JPG" style="-webkit-border-image: url("data:image/png;base64,iVBORw0KGgoAAAANSUhEUgAAABQAAAAUCAMAAAC6V+0/AAAAOVBMVEUAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAD///+8yHYvAAAAEnRSTlMAAgEDBAUJBwYzCw0UChARDghnBteEAAAAhElEQVR4XnWRSxJDIQgEEx1Axd/L/Q8bKCuuyOzsohHxdZLS25LSOV2ULQdflgEiIDu9KqiIFILXXpeEx2ChXwdnKNxUGxc4dZbNfXjPufkp5H0Nwtymq/dltUIweNy9qmXt08EgydDZ6+dT+9Qh9AeGenhROFI0fPjMaCHx6uIlh9/xBSJuB3l0A/6JAAAAAElFTkSuQmCC") 9 fill / 9px stretch; border-color: initial; border-image-outset: 0; border-image-repeat: stretch; border-image-slice: 9; border-image-width: 9px; border-image: url("data:image/png;base64,iVBORw0KGgoAAAANSUhEUgAAABQAAAAUCAMAAAC6V+0/AAAAOVBMVEUAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAD///+8yHYvAAAAEnRSTlMAAgEDBAUJBwYzCw0UChARDghnBteEAAAAhElEQVR4XnWRSxJDIQgEEx1Axd/L/Q8bKCuuyOzsohHxdZLS25LSOV2ULQdflgEiIDu9KqiIFILXXpeEx2ChXwdnKNxUGxc4dZbNfXjPufkp5H0Nwtymq/dltUIweNy9qmXt08EgydDZ6+dT+9Qh9AeGenhROFI0fPjMaCHx6uIlh9/xBSJuB3l0A/6JAAAAAElFTkSuQmCC") 9 / 9px / 0 stretch; border-style: none; border-width: 9px; box-sizing: border-box; display: inline-block; height: auto; margin: 10px auto; max-width: 100%; padding: 8px; position: relative;" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="font-size: 11.2px;"><span style="font-size: small;"><i>A placa comemorativa do centenário, 24 de outubro de 1948, dia em que foi fundada a Rádio Clube de Santarém</i></span></td></tr></tbody></table><div style="color: #333333; font-size: 14px; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">Hoje, a comparação entre as três quase não faz sentido. Manaus, com mais de 2 milhões de habitantes, 80% deles atraídos pela Zona Franca; Santarém, já superando os 300 mil habitantes e uma economia ainda baseada na atividade extrativa, de entreposto comercial e um projeto inacabado de principal porto do centro da Amazônia, e Cametá, com 120 mil habitantes, vivendo do extrativismo, da pequena agricultura, da pesca e de festas periódicas que acionam o turismo. E do passado, pois Cametá foi capital do Pará por um período de 11 meses durante o governo popular da Cabanagem, nos idos de 1835.<br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1ErXqj_i4p8oVh1OCwyhgdNl-wJa1ha1BGNzaDdeho4jSRA8-8XhVANy5wCsGGyh245igqVLb9-LU4R7HNB7XUmKrfqN5nj-EuuQLDGnlqsF6ZiGJ-Jbe7MntRPVJ7bxUA5fVNWca67xb/s1600/camet%C3%A1+333333333.jpg" style="color: #009eb8; display: inline; margin-left: 1em; margin-right: 1em; outline: none; text-align: center; text-decoration-line: none; transition: color 0.3s ease 0s;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1ErXqj_i4p8oVh1OCwyhgdNl-wJa1ha1BGNzaDdeho4jSRA8-8XhVANy5wCsGGyh245igqVLb9-LU4R7HNB7XUmKrfqN5nj-EuuQLDGnlqsF6ZiGJ-Jbe7MntRPVJ7bxUA5fVNWca67xb/s400/camet%C3%A1+333333333.jpg" style="-webkit-border-image: url("data:image/png;base64,iVBORw0KGgoAAAANSUhEUgAAABQAAAAUCAMAAAC6V+0/AAAAOVBMVEUAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAD///+8yHYvAAAAEnRSTlMAAgEDBAUJBwYzCw0UChARDghnBteEAAAAhElEQVR4XnWRSxJDIQgEEx1Axd/L/Q8bKCuuyOzsohHxdZLS25LSOV2ULQdflgEiIDu9KqiIFILXXpeEx2ChXwdnKNxUGxc4dZbNfXjPufkp5H0Nwtymq/dltUIweNy9qmXt08EgydDZ6+dT+9Qh9AeGenhROFI0fPjMaCHx6uIlh9/xBSJuB3l0A/6JAAAAAElFTkSuQmCC") 9 fill / 9px stretch; border-color: initial; border-image-outset: 0; border-image-repeat: stretch; border-image-slice: 9; border-image-width: 9px; border-image: url("data:image/png;base64,iVBORw0KGgoAAAANSUhEUgAAABQAAAAUCAMAAAC6V+0/AAAAOVBMVEUAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAD///+8yHYvAAAAEnRSTlMAAgEDBAUJBwYzCw0UChARDghnBteEAAAAhElEQVR4XnWRSxJDIQgEEx1Axd/L/Q8bKCuuyOzsohHxdZLS25LSOV2ULQdflgEiIDu9KqiIFILXXpeEx2ChXwdnKNxUGxc4dZbNfXjPufkp5H0Nwtymq/dltUIweNy9qmXt08EgydDZ6+dT+9Qh9AeGenhROFI0fPjMaCHx6uIlh9/xBSJuB3l0A/6JAAAAAElFTkSuQmCC") 9 / 9px / 0 stretch; border-style: none; border-width: 9px; box-sizing: border-box; display: inline-block; height: auto; margin: 10px auto; max-width: 100%; padding: 8px; position: relative;" width="266" /></a><br /><i>Manaus, buscando novas imagens além daquela do<br />Teatro Amazonas, na sua ânsia por integrar-se<br />ao mundo contemporâneo</i><br /><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">Há 165 anos, no dia 24 de outubro de 1848, o presidente da Província do Pará, Jerônimo Francisco Coelho, promulgou a Lei nº 145, que elevou as vilas de Cametá, Santarém e Barra do Rio Negro, hoje Manaus, à categoria de cidades. No mesmo dia, pela lei nº 146, foi elevada à categoria de vila a freguesia de Parintins, então pertencente ao município de Maués, Estado do Amazonas. Naquele ano a terra dos bois Caprichoso e do Garantido se chamava Vila Bela da Imperatriz.</div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">Os primórdios da hoje capital da Zona Franca vêm de 1669, com a construção do Forte de São José do Rio Negro. Foi elevada a vila em 1832 com o nome de Manaos, em homenagem à nação indígena do mesmo nome, sendo transformada em cidade no dia 24 de outubro de 1848 com o nome de Cidade da Barra do Rio Negro. Somente em 4 de setembro de 1856 voltou a ter seu nome atual.</div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">A história oficial da ocupação de Santarém se dá a partir de 1661, quando o jesuíta Felipe Betendorf chega à confluência do Tapajós com o Amazonas. A proximidade de datas entre as três cidades coincide também com o fato de que Betendorf, após deixar a cidade do Pará, ou seja Belém, para fundar a missão entre os tapajós, primeiro entrou no Tocantins e foi abastecer-se em Cametá para a longa viagem.</div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">A fundação de Belém vem de 1616, como resultado da construção do Forte do Castelo, sentinela na entrada do vale do Amazonas pela Baía do Guajará. Portanto, do início até pouco mais que o meado do século 17 os portugueses se apressaram em marcar presença ao longo do grande rio e de seus principais afluentes. Era uma das formas de avisar aos concorrentes europeus que “esta terra já tem dono”. Aliás, novos donos, pois os primeiros proprietários, os indígenas, começavam a ser expulsos do lugar que lhes pertenceu por milênios.</div></div><div style="color: #333333; font-size: 14px; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></div><div style="color: #333333; font-size: 14px; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">Leia também: </div><h3 class="post-title entry-title" itemprop="name" style="background-color: white; color: #191919; font-family: "Times New Roman", Times, FreeSerif, serif; font-size: 14px; font-weight: bolder; margin: 0px; padding: 0px; position: relative;"><span style="font-size: small; font-weight: normal;"><u><a href="http://blogmanueldutra.blogspot.com.br/2013/10/zf-de-manaus-no-para-santarem-uma.html" style="color: #009eb8; display: inline; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; outline: none; text-decoration-line: none; transition: color 0.3s ease 0s;">ZF de Manaus no Pará: Santarém, uma cidade a meio caminho</a></u></span></h3></div><div class="article-footer" style="clear: both; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: center;"><div class="publish-info" style="color: grey; margin: 0px; outline: none; padding: 5px 0px;">Postado há <abbr class="time published" itemprop="datePublished" style="border: none; color: #333333; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-decoration-line: none; text-decoration-style: initial;" title="2013-10-23T14:43:00.002Z">23rd October 2013</abbr> por <a class="url fn" href="http://www.blogger.com/profile/07384053619976412822" itemprop="author" rel="author" style="color: #009eb8; outline: none; text-decoration-line: none; transition: color 0.3s ease 0s;">Manuel Dutra</a></div><div class="share-controls delay" data-defer="" data-delay="1000" style="display: inline-block; margin: 10px 5px; outline: none; overflow: hidden; padding: 0px; white-space: nowrap;"><span class="share-twitter twitter-share-button delay" data-count="" data-href="http://twitter.com/share" data-size="" data-text="24 de outubro - Cametá, Santarém, Manaus, quando idade não é documento" data-url="http://blogmanueldutra.blogspot.com/2013/10/24-de-outubro-cameta-santarem-manaus.html" style="background-position: 0% 50%; background-repeat: no-repeat; display: inline-block; height: 20px; margin: 0px; transition: width 0.3s ease 0s; width: 110px;"><iframe allowtransparency="true" frameborder="0" scrolling="no" src="http://platform.twitter.com/widgets/tweet_button.html?url=http%3A%2F%2Fblogmanueldutra.blogspot.com%2F2013%2F10%2F24-de-outubro-cameta-santarem-manaus.html&count=horizontal&text=24%20de%20outubro%20-%20Camet%C3%A1%2C%20Santar%C3%A9m%2C%20Manaus%2C%20quando%20idade%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20documento&size=medium" style="height: 20px !important;"></iframe></span> <span class="share-facebook delay" data-count="" data-layout="" data-text="24 de outubro - Cametá, Santarém, Manaus, quando idade não é documento" data-url="http://blogmanueldutra.blogspot.com/2013/10/24-de-outubro-cameta-santarem-manaus.html" style="background-position: 0% 50%; background-repeat: no-repeat; display: inline-block; height: 20px; margin: 0px; transition: width 0.3s ease 0s; width: 90px;"><iframe allowtransparency="true" frameborder="0" scrolling="no" src="http://www.facebook.com/plugins/like.php?href=http%3A%2F%2Fblogmanueldutra.blogspot.com%2F2013%2F10%2F24-de-outubro-cameta-santarem-manaus.html&send=false&layout=button_count&action=like&show_faces=false&colorscheme=light" style="height: 20px !important;"></iframe></span></div></div><div class="comments" data-defer="" style="clear: both; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin: 10px 0px 0px; min-height: 0px; outline: none; padding: 0px; position: relative;"><div class="comments-header toggle-switch" style="margin: 0px 0px 10px; outline: none; padding: 0px; text-align: center;"><span class="bubble comments-count" style="background-color: #666666; background-position: 50% 50%; border-radius: 3px; border: 1px solid rgb(102, 102, 102); color: white; cursor: default; display: inline-block; font-size: 12px; padding: 2px 0px; position: relative; top: -2px; transition-duration: 0.5s; transition-property: background-color, border-color; transition-timing-function: ease-in; width: 26px;" title="0 comments"><span class="bubble-content">0</span><span class="bubble-tail" style="border-color: rgb(102, 102, 102) transparent transparent; border-style: solid; border-width: 5px; bottom: -10px; content: ""; height: 0px; left: 13px; margin-left: -5px; position: absolute; transition: border-color 0.5s ease-in 0s; width: 0px;"></span></span> <h3 style="display: inline-block; font-size: 14px; font-weight: normal; margin: 0px; padding: 5px; position: relative;">Adicionar um comentário</h3></div></div>Manuel Dutrahttp://www.blogger.com/profile/07384053619976412822noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8700928726379055079.post-23519379784419555702021-10-12T09:55:00.002-03:002021-10-12T09:56:40.349-03:00Há saída para essa “esperança trágica”?<p> <i><span style="font-size: medium;">Do meu arquivo, 16 anos depois: artigo que publiquei no Diário do Pará em novembro 2005</span></i></p><blockquote class="tr_bq" style="text-align: center;"><span style="font-size: large;">“Um dia tudo estará bem, eis a nossa esperança. Tudo está bem agora, eis a nossa ilusão!”</span></blockquote><table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrbuvRgin8o6fy0kTUlpOcv4q16nrk4_8NlyEmhRUCOGDeF5ZEvfEo64MV0nqlsiOaHpjEEFfKFzY3FDC0xWEpVaOo67m5BVYVa90S68rj_VbxK6JH0A-k29WBlXnwZBZVjvqQEDjkgX0f/s1600/BARCOOOOOOOOOOOOOOOOOO.jpg" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="228" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrbuvRgin8o6fy0kTUlpOcv4q16nrk4_8NlyEmhRUCOGDeF5ZEvfEo64MV0nqlsiOaHpjEEFfKFzY3FDC0xWEpVaOo67m5BVYVa90S68rj_VbxK6JH0A-k29WBlXnwZBZVjvqQEDjkgX0f/s320/BARCOOOOOOOOOOOOOOOOOO.jpg" width="320" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption">Era um barco parecido com este, com capacidade para 180<br />passageiros sentados. (<span style="font-size: xx-small;">g1.globo.com)</span></td></tr></tbody></table><span style="color: blue; font-size: large;">E eu nunca tinha usado salva-vidas ...</span><br /><br /><b>Por M. Dutra</b><br /><div><br /><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Foi no dia 7 de julho de 2005, às 11h20, entre Juruti e Parintins, ali pelos limites do Pará com o Amazonas. Foi a primeira vez que encarei a indesejável necessidade de fazer alguma coisa de imediato para não morrer. Interessante que não entrei em pânico e, quando tomei consciência de que precisava de um salva-vidas, só restavam três peças perto de mim. Peguei uma ao mesmo tempo em que outras mãos em desespero agarravam as outras.</span></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Foi também a primeira vez que me vi dentro de uma situação a que só assistira em filmes, ali dentro daquele mini-Titanic adernando depois de bater num banco de areia, a plena velocidade de 28 milhas por hora, quatro a cinco vezes mais veloz que um barco convencional.</span></div><span style="font-size: large;"></span><br /><div style="text-align: justify;"><b><span style="font-size: medium;">Era uma dessas lanchas modernosas, chamada “Dona Regina”, levando 180 passageiros e 11 tripulantes, acomodados no salão principal e nos dois outros salões menores acima e abaixo do maior.</span></b></div><div style="text-align: justify;"><b><span style="font-size: medium;"><br /></span></b></div><span style="font-size: medium;"><b></b></span><div style="text-align: justify;"><b><span style="font-size: medium;">O piloto errou o caminho. Em vez de seguir pela margem direita do rio Amazonas em direção a Parintins, para onde eu viajava a fim de ministrar uma semana de curso para radialistas, o jovem piloto entendeu de disparar para a imensidão daquela baía amazônica, uma das partes mais largas do grande rio. Larga e necessitando de tripulantes que conheçam as armadilhas de seus escassos canais.</span></b></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Com outras pessoas, ajudei a segurar as pernas de uma mulher que tentava se jogar ao rio por uma janela e, com outros dois passageiros, começamos a gritar para as pessoas se afastarem do lado da lancha que estava a um palmo de ser tomada pela água. Começaram a se movimentar para o centro do salão e a “Dona Regina” parou de adernar. Aí percebemos pratos quebrados, pessoas caídas no chão liso pela comida esparramada, gente ensanguentada, desmaiada, desespero.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Para mim, tudo aconteceu quando eu acabava de entregar o prato do almoço ao comissário (carrinhos no corredor, ar condicionado, como nos aviões) e apanhara o livro de Armand Mattelart, “A globalização da comunicação”, para continuar a leitura.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Após o sufoco maior, por alguma razão, deixei de lado a página antes marcada e comecei a ler o livro de trás para a frente, quando Mattelart se reporta a Voltaire e aos iluministas. O trecho é este: “Um dia tudo estará bem, eis a nossa esperança. Tudo está bem agora, eis a nossa ilusão!”. E li as últimas letras do último parágrafo: “Nossa esperança deve abandonar qualquer possibilidade de salvação. É por isso que prefiro falar em esperança trágica”. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Sem botar essa coincidência na conta da metafísica, indago a quem de direito (a quem, mesmo?) até quando os ribeirinhos da Amazônia continuarão assujeitados à irresponsabilidade e à não-punição de quem os mata nos rios como, mais uma vez, aconteceu com os passageiros do “Almirante Sergiomar”, novamente perto de Partintins, assim como tatos outros naufrágios?</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Na “Dona Regina”, muitos passageiros não conseguiram salva-vidas, porque essas peças estavam em sacos fechados no porão de carga. O grave acidente foi comunicado às Capitanias de Santarém, Parintins e Manaus, e o barco continuava navegando até quando fui informado, sem que se saiba de alguma investigação (ao menos até a data da publicação desta crônica).</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Será que os pobres da Amazônia, necessitados do vital transporte fluvial, terão mesmo que “abandonar qualquer possibilidade de salvação?”, permanecendo <i>ad aeternum</i> na tragédia de uma esperança sem fim?</span></div></div><div style="text-align: justify;"><br /></div>Manuel Dutrahttp://www.blogger.com/profile/07384053619976412822noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8700928726379055079.post-46968558075342353202021-10-11T17:17:00.000-03:002021-10-11T17:17:09.334-03:00 Do zelo aguerrido das amazonas, às remosas piracaias<p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Por Carlos Chocrón</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">As pessoas que acompanham as narrativas sobre a Amazônia possuem o
conhecimento de que, há muito tempo, membros das populações ribeirinhas se
contaminam e chegam a vir a óbito intoxicados por altos níveis de mercúrio - fato esse
que se atribui ao consumo continuado de peixes, como o tucunaré. Por ser piscívora,
essa espécie certamente se contamina ao consumir outros peixes de hábitos
alimentares diferenciados.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">As pessoas que se dedicam a esses estudos costumam
ser hostilizadas pelas "elites" econômicas e políticas locais, e o assunto costuma ser
"abafado", tendo a menor divulgação possível. Nos recantos interioranos, até mesmo
pela indisponibilidade de meios, podem ser eventualmente diagnosticados e tratados
como portadores de hepatite, às vezes associada a malária, e o "cabra" termina embarcando na "viagem" despachado com esse bilhete de passagem.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Pelo fato de o agente causal da doença da urina preta aparentemente não ser
eliminado pelas temperaturas de resfriamento ou aquecimento dos pescados, creio
no caso amazônico e em águas interiores, na possibilidade de que algumas das
complicações da saúde humana que afligem os ribeirinhos amazônicos, possam ter
origem na presença de altos níveis de metais pesados nos alimentos, com ênfase na
cadeia alimentar dos peixes, e devam merecer destaque fazendo jus ao
aprofundamento de estudos independentes, conclusivos e esclarecedores.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Padecemos de um processo acelerado e contínuo de desmatamentos e
queimadas, da garimpagem de ouro com o uso de azougue para a aglutinação do
metal, da instalação dos grandes depósitos de rejeitos das mineradoras, do despejo
em nossos rios das águas de lastro dos navios provenientes de outras regiões, da
formação de lavouras com o emprego descontrolado da mecanização e de pesticidas
agrícolas, da decomposição de grandes volumes de material orgânico nas águas
represadas pelas hidrelétricas, do descarte inapropriado de resíduos de todos os
tipos no meio ambiente natural pela insuficiência de esgotos e de estações de
tratamento, e de tudo o mais que possa acelerar o saque e a produção de riquezas a
qualquer custo ambiental.
É certo que até a natureza criada como obra-prima pelo Divino deva ter um
limite de tolerância e de retorno de suas múltiplas insatisfações !!!</span></p>Manuel Dutrahttp://www.blogger.com/profile/07384053619976412822noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8700928726379055079.post-33712966776182791542021-09-23T17:35:00.005-03:002021-09-23T19:51:01.624-03:00<p><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: medium; text-align: justify;">O Instituto Cultural Boanerges Sena (ICBS) festeja hoje os seus 40 anos, sob a direção de Cristóvam e Rute Sena, em Santarém. Um mundo de cultura à espera de quem desejar visitá-lo.</span></p><p><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: medium; text-align: justify;">xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx</span></p><p><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: medium; text-align: justify;">A Amazônia é vista, inclusive por nós mesmos, como um mundo onde a natureza exuberante impera, o que é verdade. Nos orgulhamos das nossas florestas, dos imensidão dos rios e da infinitude de seus peixes, dos animais, da grandeza de tudo que é amazônico.</span></p><p><span style="font-family: "Times New Roman", serif; text-align: justify;">Fotos: Cristovam e esposa Rute e Boanerges Sena</span></p><p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgK9ITElPTryVK_B3qv-HxRDApV9cP6roUCHL4GJjfdMuzPNO4PVLCyZbQ6PpBypDPtx0CaJmbRd3uFGCNBBpR8lQXxDYDMqiuo0wLF0jB50u8ZhOznoLOve61gNIQWuQBJf9FIfdQOkPSr/s280/RUTE.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="186" data-original-width="280" height="186" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgK9ITElPTryVK_B3qv-HxRDApV9cP6roUCHL4GJjfdMuzPNO4PVLCyZbQ6PpBypDPtx0CaJmbRd3uFGCNBBpR8lQXxDYDMqiuo0wLF0jB50u8ZhOznoLOve61gNIQWuQBJf9FIfdQOkPSr/s0/RUTE.jpg" width="280" /></a></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiIFqkagAN7dNlSOU2Z3rkg3R5XKfQiW_0Vm0TBlVz5RdwKikhE48784tBpblt9WEGv1jHKqXDCZVbi9_Dx0Z1PkYzrwfp5W0gV23Y09pXSvezKZ4L_NQYJJfczE7gU6Ie3iYyxVsJNjSry/s1184/Cristovam.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="666" data-original-width="1184" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiIFqkagAN7dNlSOU2Z3rkg3R5XKfQiW_0Vm0TBlVz5RdwKikhE48784tBpblt9WEGv1jHKqXDCZVbi9_Dx0Z1PkYzrwfp5W0gV23Y09pXSvezKZ4L_NQYJJfczE7gU6Ie3iYyxVsJNjSry/s320/Cristovam.jpg" width="320" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEizscts1Lr0ugHKtyUgGEILaJrDZg4KUASlps1hxSDN5QgV9NzVOaqZVfs31_qu4G5Dv0cpvdiDnKRjbHIpL8znVfhErOK51Fnlk-vuGFNENkIHPWe5NIW4DPJE1eQtQ87KWnyokDdKk1He/s800/BOA.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="800" data-original-width="523" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEizscts1Lr0ugHKtyUgGEILaJrDZg4KUASlps1hxSDN5QgV9NzVOaqZVfs31_qu4G5Dv0cpvdiDnKRjbHIpL8znVfhErOK51Fnlk-vuGFNENkIHPWe5NIW4DPJE1eQtQ87KWnyokDdKk1He/s320/BOA.jpg" width="209" /></a></div><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: medium;">É essa a imagem que nos passam, e passam a todos os
brasileiros e estrangeiros desde os livros escolares até os recorrentes e
intermináveis programas de TV mundo afora. Imagem positiva, mas redutora. A
questão não é essa.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: medium; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A questão é que a Amazônia é vista, de perto ou de
longe, tão somente como um mundo natural, onde a cultura inexiste ou, quando
existe, trata-se de culturas rudimentares, “tradicionais” como dizem os
antropólogos.<o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: medium; text-align: justify;">A
Amazônia é vista, inclusive por nós mesmos daqui, como um mundo onde a natureza
exuberante impera, o que é verdade. Nos orgulhamos das nossas florestas, dos
imensidão dos rios e da infinitude de seus peixes, dos animais grandes ou dos
seres microscópicos, da grandeza de tudo que é amazônico. É essa a imagem que
nos passam, e passam a todos os brasileiros e estrangeiros desde os livros
escolares até os recorrentes e intermináveis programas de TV mundo afora.
Imagem positiva, mas redutora. A questão não é essa. A questão é que a Amazônia
é vista, de perto ou de longe, tão somente como um mundo natural, onde a
cultura inexiste ou, quando existe, trata-se de culturas rudimentares,
“tradicionais” como dizem os antropólogos.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif;">É claro
que essas culturas existem e têm valor inestimável, pois, como observou
Cristóbal de Acuña em 1637, somente descendo o rio Amazonas, de Quito a Belém,
ele contabilizou mais cem povos distintos, com suas línguas, seus costumes.
Ora, onde há povo, há cultura. E há também a cultura chamada erudita,
propiciada pelos povos que aqui chegaram da Europa e se fixaram há mais de 4
séculos. Nem este tipo de cultura costuma ser visualizado nem por nós nem pelos
de fora. Cultura erudita que não é, por si, superior às culturas tradicionais,
apenas distinta.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif;">Conectando
estas duas formas de cultura, existe na cidade de Santarém, na paisagem onde se
encontram os rios Tapajós e Amazonas, uma instituição organizada por um
engenheiro florestal que deixou o trabalho com a floresta verde para se dedicar
à floresta dos livros e de diversificadas formas de cultura. É o Instituto
Cultural Boanerges Sena (ICBS), organizado e dirigido por Cristovam e Ana Rute
Sena.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif;">Ali se
harmonizam as várias formas de cultura. No ICBS estão mais de 5 mil livros, 100
mil fotografias grande parte delas em negativo, documentos, uma hemeroteca com
milhares de jornais contando o dia-a-dia de épocas passadas nesta parte da
Amazônia. Em vez de ficar descrevendo as atividades do ICBS, como se tornou
conhecida a instituição, melhor ler o que diz seu idealizador e dirigente.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span><b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Veja a
entrevista:</span></b><span style="font-family: "Times New Roman", serif;"> </span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif;">Quantos e
que tipos de jornais há na hemeroteca do ICBS? É difícil quantificar, mas temos
coleções completas de jornais, alguns que já circularam, outros que ainda
circulam em Santarém. Possuo o Jornal Pessoal do Lúcio Flávio Pinto quase
completo, desde o nº 1. De um bom tempo pra cá que ele envia de Belém o
indispensável JP para a nossa biblioteca, sem cobrar nada. Aproveito a
oportunidade para agradecer essa deferência do amigo com o ICBS.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif;">E
documentos? Não tenho noção de quantos documentos existem no nosso acervo. E
fotos? Só de negativos são uns 100 mil.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif;">Há obras
de arte? São 34 obras de arte.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif;">Qual a
ênfase dos conteúdos do acervo (tipo, história, geografia, economia, Amazônia,
etc.); Nosso acervo é variado, mas a ênfase do ICBS é Amazônia.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif;">Quais as
razões da criação e manutenção do ICBS?</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif;">O ICBS é
um projeto de vida que consegui implantá-lo com a cumplicidade da Rute. Nosso
maior lucro com o ICBS é a satisfação pessoal de viver em paz, sem
subserviência.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif;">Quantas
visitas recebe o ICBS, locais, nacionais, estrangeiras? Em 2010, até agora,
recebemos a visita de 453 consulentes, das mais variadas profissões:
(estudante, professor, bibliotecário, contador, dentista, corretor de imóveis,
auxiliar de escritório, agricultor, autônomo, nutricionista, aposentado,
economista, veterinário, jornalista, historiador, arquiteto, fotógrafo,
pedagogo, florestal, antropólogo), das seguintes procedências: Belém, Manaus,
São Paulo, Óbidos, Alenquer, Monte Alegre, Rio de Janeiro, Brasília,
Ananindeua, Estados Unidos.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif;">Que tipo
de visitante é mais comum: estudante, cientista/pesquisador, turista curioso? A
maioria dos nossos visitantes é formada por estudantes de Santarém.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif;">Que tipo
de informações são mais procuradas? História de Santarém e região, em todos os
seus aspectos. Já a turma de fora vem em busca de informações principalmente
sobre meio ambiente (mineração, grãos, reserva indígena, quilombolas,
desmatamento, etc.).</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif;">Qual a
interação ICBS com instituições universitárias locais? </span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif;">Praticamente
nenhuma.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif;">Como é
mantido o ICBS: recursos próprios, arrecadação por visitas, editoração, verba
pública?</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif;">Não cobramos
de quem nos visita para pesquisar na Biblioteca. Se quiserem, os alunos podem
passar o dia estudando/pesquisando sem pagar nada, com direito ao café e água
gelada. Cobramos somente pelo serviço de cópia que disponibilizamos aos
visitantes. Arrecadamos também com digitação, encadernação e plastificação.
Para a editoração de livros contamos com a valiosa colaboração dos amigos,
empresas e do governo municipal. Com relação a verba pública, nesses 27 anos de
funcionamento da Biblioteca Boanerges Sena e 15 do Instituto Cultural Boanerges
Sena, não efetivamos nenhum convênio com alguma instituição pública ou privada.
Recebemos muito “apoio moral”. A editoração é uma das principais atividades do
Instituto?</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif;">A
editoração não chega a ser a principal atividade do ICBS. Quantos livros já
editou? Já editamos 33 livros. A relação vai anexada (será publicada em outra
postagem).</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif;">Já que
não somos eternos, que futuro prevês para o ICBS? Sinceramente que ainda não
estou pensando no final desse enredo. No livro editado este ano pela Record,
“Não contem com o fim do livro”, que até comentaste sobre ele no teu blog, a
última pergunta do Jean Tonnac ao Umberto Eco e ao Jean-Claude é a mesma que me
fazes agora. Penso como o escritor de “O nome da rosa”, que diz que quando morrer
não deseja que sua coleção seja dispersada, que a família poderá doá-la ou
mesmo vendê-la.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif;">Se
tivesse grana suficiente, faria como o José Mindlin que construiu uma casa só
para guardar seus livros e criou uma fundação para que o governo mantenha sua
biblioteca após sua morte. Possuímos no ICBS um bom acervo sobre a Amazônia. Na
revista Rolling Stone de outubro de 2008, numa reportagem sobre a Cidade
Fantasma de Fordlândia, o repórter que escreveu a matéria, e que visitou o
ICBS, diz que possuímos a “mais invejável fonte de arquivos sobre Fordlândia do
Brasil”.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: large;">Lógico
que o Daniel Augusto exagerou na afirmação, creio que seja porque ficamos
amigos e tomamos umas boas geladas viajando pelo Tapajós. Mas, se for verdade,
quem sabe um dia não aparece alguma instituição, de preferência santarena,
interessada na manutenção desse acervo? O que mais sobre a Biblioteca? Acredito
que vale a pena falar um pouco da nossa história: A Biblioteca Boanerges Sena
foi criada em 1980 e registrada no Conselho Regional de Biblioteconomia – 8ª
Região, em 1986, sob o número 114. Tornou-se de Utilidade Pública em novembro
de 1994, quando a Câmara Municipal de Santarém aprovou o projeto da vereadora
Socorro Pena, sendo o mesmo, em janeiro de 1995, transformado na Lei de n.º 15.395/95
pelo prefeito Ruy Imbiriba Corrêa. Nesse mesmo ano fundamos o Instituto
Cultural Boanerges Sena, que abriga a Biblioteca Boanerges Sena.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif;">Além
daquilo que já comentei anteriormente, o ICBS possui também uma vasta videoteca
com mais de 100 fitas de vídeo, onde parte registra depoimentos e testemunhos
de personalidades que fazem parte da história santarena. Dentre eles posso
citar Dom Tiago, Ubaldo Corrêa, Agapito, Arara, Laudelino Silva, Isoca, Emir,
Dororó, Zeca BBC, Balão, Cecebuta, Eymar Franco, seu Gualberto Dutra. A esses
depoimentos colhidos a partir de 1988 dei o nome de “Projeto Memória
Santarena”, que pretendo transformá-los em livro, iniciando com o Zeca BBC
ainda em 2010.</span></span></p>Manuel Dutrahttp://www.blogger.com/profile/07384053619976412822noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8700928726379055079.post-76651336432011048452021-09-05T14:49:00.003-03:002021-09-05T14:49:38.373-03:00O "dia da Amazônia" é um esconderijo?<p> <span style="font-size: x-large; text-align: justify;">O dia</span><span style="font-size: x-large; text-align: justify;"> </span><span style="font-size: x-large; text-align: justify;">5 de setembro é lembrado como sendo o Dia da Amazônia. O que será isso? Existe também um Dia do Nordeste, um dia do sul, do sudeste?</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUvtCRgpCZRYGHaP-9rIAFzWlMcX2JAYaXAPsIZnsz6C1q2d7LlJ6PmTDOu8ul2ZuaPVLDHInrPjrU58QDrMJeSMKjqqxk9nF81tZEk7zjmcBmT_EGm_XJQmMwV4P531bhmCVSHPFOM8FC/s750/Fogo+AmazOnia.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="430" data-original-width="750" height="257" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUvtCRgpCZRYGHaP-9rIAFzWlMcX2JAYaXAPsIZnsz6C1q2d7LlJ6PmTDOu8ul2ZuaPVLDHInrPjrU58QDrMJeSMKjqqxk9nF81tZEk7zjmcBmT_EGm_XJQmMwV4P531bhmCVSHPFOM8FC/w524-h257/Fogo+AmazOnia.jpg" width="524" /></a><span style="font-size: large;">Se existem, nunca ouvi falar.</span><span style="font-size: large; mso-spacerun: yes;"> </span><span style="font-size: large;">Por que então inventar esse tal Dia da Amazônia?</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: red; font-family: times; font-size: medium;"><i><span class="ILfuVd" style="background-color: white; line-height: 24px; text-align: left;"><span class="hgKElc" style="padding: 0px 8px 0px 0px;">A <b>Amazônia</b> registrou 4.977 focos de <b>queimadas</b> em julho deste ano, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (Inpe). Isso apesar de o uso do fogo no bioma estar proibido desde 29 de junho, quando o governo federal publicou um decreto suspendendo a prática por 120 dias no território nacional.</span></span></i></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Imagino que a invenção desse "dia" tem a ver com o seu contrário, ou seja, a Amazônia vai tendo cada vez menos dias, em decorrência das agressões físicas e culturais que esta região recebe todos os dias e todas as noites. Agressões às florestas, aos rios e, acima de tudo, agressões aos povos que aqui vivem secularmente, aos quais chamamos de povos indígenas, povos ribeirinhos, povos da floresta, caboclos. É esta a Amazônia que pretensamente ganha um dia especial no calendário.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Se, de fato, existe esse Dia da Amazônia, oficial, e como esta imensa região apresenta uma variedade incalculável de realidades naturais e culturais, seria interessante explicar aos brasileiros qual Amazônia é reverenciada no dia 5 de setembro: as florestas, os rios, os animais silvestres, o solo, os povos, as múltiplas culturas aqui existentes? Ou como ter condição de homenagear isso tudo? Talvez por causa dessa dificuldade, nada se ouviu de especial sobre a Amazônia neste dia 5, a não ser notícias sobre as queimadas, a invasão das terras indígenas, líderes indígenas infectados pelo coronavírus, e muito mais notícias do gênero.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Com certeza, oficialmente não são homenageados os <i>Indios e demais povos tradicionais,</i> como são chamados. Isso porque esses povos vão aos poucos reconstruindo a sua História, a sua cultura e todos os seus bens materiais e espirituais tão brutalmente destruídos ao longo dos últimos cinco séculos. E a reconstrução dessa história não interessa ao poder dominante atual, bem ao contrário. Nem nunca interessou, a não ser como força de trabalho.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Especialmente nos últimos anos, depois dos governos Lula e Dilma, os povos tradicionais vêm recebendo uma carga pesada com vistas a fazê-los desaparecer dessa Amazônia que pretensamente e falsamente se quer festejar hoje.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Torna-se como oficial, isso sim, a invasão das terras indígenas, o derrame de lama, mercúrio, graxa e outros venenos nas águas onde outrora os indígenas pescavam e utilizavam as águas para todas as suas necessidades. Hoje, impossível isso, pois os rios viram lama.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Será que o tal dia da Amazônia não é uma forma de esconder isso tudo?</span><span style="font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">............................................................................................................</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><i>PS: Comentário publicado nas 20 emissoras de Rádio da Rede de Notícias da Amazônia, autoria de Manuel Dutra</i></span></p>Manuel Dutrahttp://www.blogger.com/profile/07384053619976412822noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8700928726379055079.post-65245761888401729862021-08-27T21:12:00.002-03:002021-08-27T21:18:44.934-03:00Biodiversidade e Desenvolvimento Sustentável: considerações sobre um discurso de inferiorização dos povos da floresta<p> <span style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"> </span><span style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"> </span><span style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Manuel Dutra, UFPA/Belém, 2013 </span><a href="file:///C:/Users/Manuel%20Dutra/Documents/aaa2018%20MESTRADO%201%20SEM/Dutra%20Artigo%20Inferioriza%C3%A7%C3%A3o%20povos%20floresta.doc#_ftn1" name="_ftnref1" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[1]</span></span></span></a></p>
<h1><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Resumo<o:p></o:p></span></span></h1>
<p class="MsoBlockText" style="line-height: normal; text-align: center;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: large;">Este artigo trata da abordagem de temas ambientais na mídia brasileira,
em programas produzidos e emitidos por redes nacionais de televisão de circuito
aberto.</span></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: large;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiny_81DUcFItoGBJvItjQifflT-lyNAHwutRtz1FLaz3rlFWVoZ6jKDkSqY65c1BnxyQD9BJa-5W9nSV-hSe7FNnVIoOBVEbLNop9FCLwxQycnQXk9k7QTgG5uT9RRe0flpQNQvUiA5Ebz/" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="189" data-original-width="283" height="252" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiny_81DUcFItoGBJvItjQifflT-lyNAHwutRtz1FLaz3rlFWVoZ6jKDkSqY65c1BnxyQD9BJa-5W9nSV-hSe7FNnVIoOBVEbLNop9FCLwxQycnQXk9k7QTgG5uT9RRe0flpQNQvUiA5Ebz/w490-h252/image.png" width="490" /></a></span></div><span style="font-size: large;"><br /> Nessas emissões o enunciado <i>Amazônia</i>
catalisa tipos de discursos nos quais se verifica uma recorrente tendência em
exaltar a excelência dos recursos naturais e, no mesmo conjunto textual,
promover a desfocagem de grupos humanos classificados pela antropologia como <i>povos tradicionais</i> aos quais a mídia ora
chama de <i>povos da floresta</i>, ora de <i>caboclos</i>. Trata-se de um processo
histórico, o de inferiorizar grupos subalternos, porém hoje as formas
depreciativas produzem-se por meio da tecnologia sedutora que a TV emprega de
modo eficaz, reiterando preconceitos e estereótipos historicamente fabricados. <o:p></o:p></span><p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 35.45pt 0.0001pt 7.1pt; text-align: center; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Palavras-chaves</span></b><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">: televisão; biodiversidade;
desenvolvimento sustentável; povos da floresta.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: large; text-align: left;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="text-align: left;"><b><span style="font-size: large;">Introdução</span></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Não é fácil decifrar os sentidos dos termos destacados no título deste
artigo, utilizados no intenso jogo discursivo que hoje se produz tendo o meio
ambiente como objeto. Esse jogo exige ao pesquisador uma atenção acurada no
trato desse tipo de terminologia, sem o que o trabalho científico terminará,
ele também, sob o risco de utilizar-se de termos dúbios ou mesmo vazios de
significado, comprometendo o próprio discurso da ciência. Este trabalho quer
oferecer uma breve contribuição ao debate que se avoluma em torno daquelas
palavras-chaves, componentes daquilo que se poderia aqui denominar de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">um discurso da ecologia</i> ou <i style="mso-bidi-font-style: normal;">um discurso do ecologismo</i>, conforme as
preferências teóricas.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Por exemplo, do ponto de vista de Mires (1990: 35-6), a ecologia não é um
discurso tal como ocorre em referências irrefletidas sobre um <i style="mso-bidi-font-style: normal;">discurso ecológico</i>. Segundo esse autor,
“ou o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">ecológico</i> é um objeto
articulado em unidades que se auto-reproduzem em seu próprio processo de
expansão, ou é um discurso independente. Em todo caso, não pode ser as duas
coisas ao mesmo tempo”. A partir deste princípio, afirma Mires (idem) que
somente nos é possível falar de um <i style="mso-bidi-font-style: normal;">discurso
ecológico</i> quando, dentro de um estilo de pensamento, a ecologia tenha
rompido as suas relações articulativas e se deslocado para um lugar dominante,
reduzindo todos os objetos co-participativos ao puramente ecológico, ou seja,
quando a ecologia se transformou em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">ecologismo</i>.
Nesse sentido, o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">ecologismo</i> não se
diferencia do economicismo, ou do historicismo ou qualquer outro tipo de saber
reducionista.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoBlockText"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Tratar
de ecologia é embrenhar-se numa questão complexa, seja do ponto de vista
original da biologia, assim como da cultura e da política (ESCOBAR, 1998: 53).
Este autor acredita que, embora a biodiversidade tenha referentes biofísicos
concretos, ela deve ser encarada como “uma invenção discursiva de recente
origem”. E essa “invenção” recente, ao nosso ver, constitui uma
repetição/transformação de noções longamente cristalizadas, reeditadas na mídia
sob formas, estas sim, efetivamente recentes. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Do nosso ponto de vista, talvez se possa recorrer a um conceito próximo a
um <i style="mso-bidi-font-style: normal;">discurso sobre a ecologia</i> ou, se
se queira, um <i style="mso-bidi-font-style: normal;">discurso sobre o ecologismo</i>,
ou seja, a discursos de cientistas e de outros atores sociais sobre a ecologia
e os ecologistas. Ou ainda, como é o caso de nossa pesquisa em andamento,
podemos produzir o nosso próprio discurso sobre discursos que explícita ou
implicitamente se auto-classificam como <i style="mso-bidi-font-style: normal;">ecológicos</i>,
tal como o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">corpus</i> empírico que
analisamos.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Nosso trabalho se desenvolve dentro do campo da comunicação. É a partir
desse <i style="mso-bidi-font-style: normal;">lugar </i>que nos interessam os
demais campos disciplinares fronteiriços, privilegiando conceitos como <i style="mso-bidi-font-style: normal;">ecologia, biodiversidade, desenvolvimento
sustentável</i>, numa busca por encontrar seus sentidos produzidos não
propriamente no ambiente científico ou no senso comum disseminado no imaginário
coletivo, mas os sentidos que a mídia, no processo de captura de sentidos tanto
no ambiente científico como no imaginário, os utiliza na fabricação de seu
próprio produto. É, portanto, no produto da mídia que se concentra o nosso
esforço.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">O <i style="mso-bidi-font-style: normal;">corpus</i> que analisamos se compõe de cinco programas de televisão
tipificados como documentários, educativos, videoclips, nos quais as questões
ambientais são pautadas e roteirizadas de modo destacado. Talvez não exista
outro lugar, como a mídia, em que a profusão semântica daqueles termos se
revele mais intensa, pois é da multiplicidade dos sentidos postos em circulação
que os dispositivos emissores, como a TV, retiram os fragmentos com os quais
empacotam os seus produtos, tendo o cuidado de não lhes oferecer definições
explícitas, o que seria particularizar um discurso que se pretende universal,
interpretável pelos mais distintos tipos de consumidores. É dentro destes
limites teóricos que realizamos a nossa reflexão.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: large; text-align: left;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: large; text-align: left;"><b>A impressionante
evolução de um conceito guarda-chuva</b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Algumas das noções contidas nas palavras-chaves deste trabalho não são
recentes, pois podemos identificar a sua gênese a partir do momento em que
nasceu o conceito de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">ecologia</i>, que
aqui consideramos como uma espécie de guarda-chuva debaixo do qual se aninha a
multiplicidade de noções transportadas hoje pelos termos <i style="mso-bidi-font-style: normal;">biodiversidade/desenvolvimento sustentável, povos da floresta</i>. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Como suporte de um conceito científico, o termo <i style="mso-bidi-font-style: normal;">ecologia</i> tem uma história relativamente longa. Foi empregado pela
primeira vez em 1866, em língua alemã, pelo zoólogo Ernst Haeckel, sob a forma <i style="mso-bidi-font-style: normal;">ökologie</i>, havendo registros de que nos
anos 1870 foi traduzido para o inglês como <i style="mso-bidi-font-style: normal;">ecology</i>.
No início, tratava-se de um conceito vinculado às noção de habitat, indicando o
estudo das relações de plantas e animais entre si e entre seu habitat. No
processo social de evolução/transformação de sentido, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">ecologia</i> passou a vincular-se ao ambiente (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">environment</i>) e, nos anos seguintes, ao termo <i style="mso-bidi-font-style: normal;">environmentalism</i> como o estudo da influência do meio físico sobre o
desenvolvimento econômico. Assim, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">ambientalismo</i>
torna-se de uso comum a partir dos anos 1950 relacionado a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">conservação</i> e <i style="mso-bidi-font-style: normal;">preservação</i>.
A partir dos anos 1960 passa ao uso comum, associando conceitos como <i style="mso-bidi-font-style: normal;">ecocrises, ecocatástrofe</i> (WILLIAMS,
1976: 110-11) e, a partir dos anos 1970, a noções de ecocídio. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Como se vê, no nascimento do termo, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">ecologia</i>
transportava uma proposta delimitada pelas ciências naturais. No começo do
século XX, a expansão de seu uso social levou o termo para o ambiente
acadêmico, como parte de argumentação interna de várias disciplinas, inclusive
as sociais e humanas. Segundo Pádua (1997: 42-3), a mais surpreendente evolução
da palavra ocorreu a partir dos anos 1960 “quando a ecologia rompeu os muros da
discussão científica para transformar-se em um dos ícones centrais do
imaginário contemporâneo”, sendo presença marcante nas relações internacionais,
nas práticas educativas, nas políticas públicas e em ações coletivas das
chamadas organizações não-governamentais. Acrescenta Pádua (idem, ibidem):
“Mais ainda, ela [a palavra <i style="mso-bidi-font-style: normal;">ecologia</i>]
penetrou significativamente nos meios de comunicação de massa, na publicidade e
nos diversos aspectos da arte e da cultura”.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Williams (1976: 22) lembrando a variação de sentido de época para época,
afirma que as palavras são elementos integrantes do processo social da
linguagem, variando segundo a época, sendo a linguagem não apenas um reflexo do
processo histórico e social, porém, importantes processos sociais e históricos
ocorrem dentro mesmo da linguagem, por meandros que indicam “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">how integral the problems of meanings and
relationships really are</i>”. Dessa forma, as variações de sentido de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">ecologia</i> são determinadas pelas
variações dos processos sociais, recebendo destes interferência e, ao mesmo
tempo, neles interferindo.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span><span style="font-size: large;">A profusão semântica de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">biodiversidade</i></span><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></span></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Juntamente com <i style="mso-bidi-font-style: normal;">desenvolvimento
sustentável</i>, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">biodiversidade</i>
torna-se um enunciado-chave para a compreensão do jogo produtor de sentidos
sobre a Amazônia contemporânea, onde sobrevivem aqueles grupos que, com
freqüência, a mídia categoriza como <i style="mso-bidi-font-style: normal;">povos
da floresta</i>. Na verdade, nesse jogo, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">biodiversidade</i>
e <i style="mso-bidi-font-style: normal;">desenvolvimento sustentável</i> são
termos que inexistem separados, mas se complementam, são intimamente
interdependentes. Essa interdependência parte da conexão entre a
biodiversidade, ou seja, os recursos naturais vivos, e o desenvolvimento
econômico, ou seja, a “ideologia do crescimento” (MIRES, 1990: 98).<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">A “ideologia do crescimento” prevê que o meio ambiente não seja
deteriorado em benefício da produção. É assim que vemos, numa definição
elementar, o conceito de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">desenvolvimento
sustentável</i> associado umbilicalmente ao de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">biodiversidade</i>, como referindo-se “uso da terra e da água para
sustentar a produção indefinidamente, sem deterioração ambiental e, de modo
ideal, sem perda de biodiversidade nativa” (WILSON, 1994: 416). Os dois termos
chegam a confundir-se como sinônimos:<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 70.9pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 70.9pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>“A
conservação da biodiversidade e o desenvolvimento sustentável são, nas mentes
de muitas pessoas, quase sinônimos, e hoje quase todos os projetos de
desenvolvimento com uma orientação ambiental precisam se justificar em termos
de seu papel na conservação da biodiversidade” (McGRATH, 1997:33).<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 70.9pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 70.9pt; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">As definições do conceito são obviamente múltiplas, porém em todas elas
estão presentes noções centrais, como aquela que dá a biodiversidade como
“abrangência de todas as espécies de plantas, animais e micorganismos, e dos
ecossistemas e processos ecológicos dos quais são parte. Grau de variedade da
natureza, incluindo número e freqüência de ecossistemas, espécies ou gens numa
dada assembléia” (GLOSSÁRIO, 1997: 23). Mais próxima da biologia, esta
definição reflete a dificuldade de inclusão do conceito de biodiversidade na
variedade de discursos sociais que dele se ocupam.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Christian Lévêque, autor de obras como “Les écosystèmes aquatiques”
(1996), “Environnement et diversité du vivant” (1994), e “Biologie et ecologie
des poissons d’eau douce africains” (1988), em seu livro intitulado “A
biodiversidade”, afirma, obviamente a partir de seu <i style="mso-bidi-font-style: normal;">lugar de fala</i>, que para alguns o termo biodiversidade “é um cesto
vazio” no qual cada um coloca o que quer. “No entanto, mais além de um debate
semântico” pelo qual o autor diz pouco se interessar, “convém precisar aquilo
que entendemos por biodiversidade” (LÉVÊQUE,1999:13).<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Mais adiante (p. 24-5), Lévêque retoma a questão do “debate semântico”
para afirmar que a biodiversidade é “um conceito federativo” por fazer “a
mediação entre os sistemas ecológicos e sociais a fim de abordar a valorização
e a gestão dos ambientes e dos recursos”. Para o autor (idem), os taxonomistas,
os geneticistas, os economistas ou os sociólogos, “para não citar mais do que
esses”, têm uma visão setorial da biodiversidade, isso em razão de suas
preocupações disciplinares. E resume: “Os cientistas privilegiam os inventários
e a dimensão ecológica, ao passo que os políticos preocupam-se mais com a
dimensão econômica e as organizações de conservação da natureza, com a dimensão
ética”.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">A partir de seu campo próprio, ou seja, de suas “preocupações
disciplinares”, Lévêque, a despeito da crítica que faz, não escapa da disputa
semântica que envolve o termo, e dá a sua definição, em consonância com o
estabelecido na Convenção da Biodiversidade, firmada na conferência Rio-92: “A
biodiversidade está constituída pelo conjunto dos seres vivos, pelo seu
material genético e pelos complexos ecológicos dos quais eles fazem parte”
(idem, p. 14). E aponta as razões do interesse pela biodiversidade no mundo
contemporâneo, das quais destacamos: a) a biodiversidade contribui para o
fornecimento de numerosos produtos alimentares; b) está na base de toda
produção agrícola; c) oferece importantes perspectivas de valorização no
domínio das biotecnologias; e d) suscita uma atividade econômica ligada ao
turismo (idem, p. 14-15). O autor ressalta que a biodiversidade representa “o
conjunto de recursos biológicos essenciais para a vida das sociedades humanas”
(idem, p. 83).<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">A profusão semântica de um termo tão em voga extrapola o âmbito estrito
da biodiversidade e do desenvolvimento sustentável para atingir áreas afins,
como a chamada educação ambiental. Pedrini (1997: 89) tem um capítulo cujo
título é justamente “a confusão conceitual”. E acrescenta (idem, p. 89): “Há
confusão conceitual no meio dos educadores ambientais oficiais ou não, nos
pesquisadores ambientais formadores de opinião. Há também uma dificuldade de
compreensão no meio empresarial”. E indaga: E no seio das ONGs? E da sociedade
civil organizada?<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">A estas questões, acrescentamos: e nos discursos da mídia? Fatalmente,
tais indefinições e vaguezas dos conceitos centrais da temática ambiental ou
ecológica permeiam os textos midiáticos e, de um certo modo, até acentuam essas
características, haja vista ser próprio dos <i style="mso-bidi-font-style: normal;">media</i>
a pretensão a uma linguagem universal, ou ao menos consumível pelo maior número
possível de espectadores/ouvintes/leitores. Buscar uma definição própria seria,
para a mídia, a sua inserção setorializada no debate semântico, o que cabe a
outros atores sociais.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Os sentidos que, no nosso caso em estudo, são produzidos, são de outra
ordem: a partir de sentidos pré-existentes no imaginário social, a mídia os
reelabora com as marcas de suas condições próprias de produção,
acrescentando-lhes os caracteres da sedução que busca o consenso, por meio da
espetacularização que permeia e compromete o teor informativo. Além disso, os
produtos da mídia, como no caso da televisão de circuito aberto que analisamos,
são produtos de uma indústria de informação e entretenimento, logo, não
objetivam a uma <i style="mso-bidi-font-style: normal;">causa</i>, porém
destinam-se ao mercado de bens simbólicos. E deste mercado partem coerções
determinantes de suas condições de produção e circulação<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span><span style="font-size: large;">A <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Amazônia</i> como produto mercadológico</span><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></span></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Na mídia impressa, sintomático do que afirmamos acima é o discurso
estampado na capa da revista Isto É (2002), que tem como título geral, no
rodapé, “Meio ambiente, o capital verde”. Pouco acima, a discriminação:<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></i></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">“Preservar dá dinheiro. Na Amazônia, o lucro
já começa a vir da extração dos recursos naturais, com avanço social,
desenvolvimento econômico e preservação ambiental. Hoje, em plena crise, das
poucas ofertas de emprego, a maioria está ligada à ecologia”.</span></i><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Um pouco mais acima, a imagem da
copa de uma árvore cujas folhas são cédulas verdes de 100 reais, misturadas a
cédulas de dólar.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Trata-se de um conjunto gráfico que caracteriza a capacidade de a mídia
incluir os mais diversos tipos de discursos sociais e transformá-los numa espécie
de pacote, dando-lhe um novo significado pela fusão de conceitos os mais
diversificados e sobre os quais não existe consenso entre os diferentes atores
que deles se ocupam, seja no âmbito da ciência, da política, dos movimentos
sociais ou no âmbito empresarial. Uma observação acurada da capa dessa revista
daria, por si, uma tese inteira, a começar da recorrência histórica e
contemporânea da representação da Amazônia como objeto discursivo estreitamente
associado a interesses externos, como se torna explícito nas folhas da árvore
que sintetiza os enunciados verbais.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">A vinculação contemporânea da Amazônia a uma espécie de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">discurso planetário</i> está explícita,
verbalmente, no início na reportagem de Isto É (p. 90): “No concorrido universo
da globalização, três palavras valem por milhões. Coca-Cola, Microsoft e
Amazônia são as marcas mais frescas na memória dos consumidores”. Está dito aí
que a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Amazônia</i> é um produto de
consumo. Logo, sua produção midiática vincula-se ao mercado. “Amazônia” é uma
marca mercadologicamente produzida. Com efeito, para o empresariado,
“desenvolvimento e sustentabilidade são as pedras angulares de um sistema de
mercados abertos e competitivos, no qual os preços devem refletir os custos dos
recursos ambientais e outros” (Ungaretti, 1998:23).<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Citando Schmidheiny (1992: 25)<a href="file:///C:/Users/Manuel%20Dutra/Documents/aaa2018%20MESTRADO%201%20SEM/Dutra%20Artigo%20Inferioriza%C3%A7%C3%A3o%20povos%20floresta.doc#_ftn2" name="_ftnref2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman", serif;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>,
Ungaretti (idem, p. 29) mostra trecho de um estudo de dois senadores
norte-americanos sobre políticas públicas, realizado em 1991, em que ganha
clareza cristalina a associação meio ambiente-mercado. Dizem os senadores:<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 70.9pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 70.9pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">“... Nos últimos dois anos, temos
testemunhado mudanças drásticas no panorama político das medidas ambientais.
Legisladores, burocratas, ambientalistas, comerciantes e cidadãos de todos os
tipos passaram a reconhecer que os instrumentos baseados no mercado fazem parte
de nossa carteira de políticas relacionadas com o meio ambiente e os recursos
naturais”.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">No Brasil existe desde 1991 uma Fundação para o Desenvolvimento
Sustentável, entidade ligada ao empresariado internacional que se aglutina em
torno da <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Business Council for Sustainable
Development</i>. A parte brasileira reúne, entre outras, a Vale do Rio Doce,
Gazeta Mercantil, Varig, Mannesmann e Aracruz. Além disso, “os setores
empresariais com melhor desempenho ambiental são aqueles que estão submetidos,
por razões de mercado, às exigências do processo de internacionalização da
economia” (Ungaretti, idem, p. 34). Não se trata de espontaneísmo, porém isso é
fruto da ação de movimentos sociais os mais diversos, quase sempre
categorizados como ONGs (organizações não governamentais) que, em nome dos
consumidores pressionam importadores de empresas brasileiras, fato que se
verifica de modo crescente nas relações chamadas de Norte-Sul.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span><span style="font-size: large;">Certezas e repetições no
programa <i style="mso-bidi-font-style: normal;">educativo</i></span><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></span></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Um dos programas que analisamos tem justamente o título de
“Biodiversidade” e faz parte de uma série de dez inserções sobre a Amazônia no
programa de educação à distância denominado <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Telecurso
2000</i>, emissão da Rede Globo e outras emissoras, produto de um conglomerado
empresarial que tem à frente a Fundação Roberto Marinho e a Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo. Esta programação <i style="mso-bidi-font-style: normal;">educativa</i> visa à formação de mão-de-obra tecnológica, esforço do
empresariado no sentido de aumentar a escolaridade dos trabalhadores
brasileiros, e assim reduzir as desvantagens na competitividade internacional.
Logo na entrada do programa, o locutor enuncia, professoralmente, em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">off:<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></i>“Biodiversidade
é o tema do programa de hoje. O que ela significa? Por que a nossa
sobrevivência depende dela? Qual a relação entre a Amazônia e a biodiversidade
no Planeta?”<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Nestes breves enunciados podemos detectar: a) o enunciado central,
introdutório, solene. A biodiversidade merece um programa inteiro, dessa forma
equiparando-se às demais disciplinas que compõem os dez programas da série; b)
indagações que valem por afirmações. Não há dúvida sobre a existência de um
significado, e este significado torna-se importante pelo enunciado precedente,
solene e professoralmente introduzido. Se assim foi dito anteriormente, logo
trata-se de um significado <i style="mso-bidi-font-style: normal;">importante</i>;
c) na segunda interrogativa, mais explicita se evidencia uma afirmação: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">a nossa sobrevivência depende dela.</i> Isto
é dado por certeza. A questão se reduz em saber o porquê dessa dependência; d)
igualmente ocorre no terceiro enunciado interrogativo: existe uma relação entre
os enunciados <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Amazônia, biodiversidade e
Planeta</i>. A questão, então, é saber que relação é essa.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Desse modo, o discurso interroga para confirmar enunciados
pré-existentes, dados como certezas, constituindo essa formulação, na verdade,
afirmações sob forma interrogativa. Sob a aparência de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">novidade</i>, o programa repete e reafirma questões centrais que estão
nas pautas de múltiplos atores sociais em disputa pela produção de sentidos
sobre <i style="mso-bidi-font-style: normal;">biodiversidade, Amazônia e Planeta</i>.
Ao não suscitar dúvidas, mas emitindo <i style="mso-bidi-font-style: normal;">certezas</i>,
o Telecurso e sua proposta explicitamente pedagógica tornam-se, dessa forma,
não-pedagógicos. Aos <i style="mso-bidi-font-style: normal;">alunos</i> do
Telecurso são emitidas noções de um senso comum que, embora recente, integra variados
tipos de discursos sociais. Não <i style="mso-bidi-font-style: normal;">educa</i>,
reforça pré-noções disseminadas socialmente.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">No mesmo programa, o repórter de nome ficcional Danilo, passeando na
floresta amazônica em companhia de um homem do lugar, fala:<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;">“... a biodiversidade é tamanha, são tantas espécies vegetais, tantos
os equilíbrios, tantos os emaranhados de raízes, folhas, cipós, fungos,
pequenos animais, os insetos ... e até os seres microscópicos. Toda essa
riqueza que a ciência está pesquisando, e que os povos da floresta conhecem e
utilizam. Riqueza que os livros estão começando a descrever, e que um caboclo
como Sidomar, um ribeirinho que viveu sempre nas margens do Solimões, conhece
por conhecer...” <o:p></o:p></i></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Assim caracterizando, o repórter vai definindo o que, para o programa,
sugnifica a biodiversidade, detalhando os enunciados introdutórios em forma
interrogativa. Os <i style="mso-bidi-font-style: normal;">povos da floresta</i>
são incluídos na definição realizada verbal e imageticamente, porém o
representante desses <i style="mso-bidi-font-style: normal;">povos</i> aparece no
texto como espécie de acidente. Eles “conhecem e utilizam” a biodiversidade, no
entanto Sidomar, representando discursivamente aqueles <i style="mso-bidi-font-style: normal;">povos</i>, somente “conhece por conhecer”. O conhecimento está sendo
elaborado pela instituição científica e somente agora “os livros estão
começando a descrever”.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Para o programa, é esta a definição: “Biodiversidade ou diversidade
biológica, de uma forma ampla, significa a variedade de vida que existe na
terra, incluindo todas as espécies. São os animais, plantas e até
microrganismos e genes que a gente não consegue enxergar a olho nu. A
biodiversidade envolve também as relações entre as espécies que são essenciais
à vida na terra”.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Se, por hipótese, o “caboclo” Sidomar fosse, no texto, tratado como
sujeito de seu discurso, e não como autor de um discurso tributário, permitido
–, o que significa o silenciamento de Sidomar –, é provável que ele dissesse
realmente desconhecer o que seja <i style="mso-bidi-font-style: normal;">biodiversidade</i>,
porém diria (o que, aliás, demonstra conhecer, pelas imagens e oralizações) que
conhece cipós, raízes, insetos, animais e tudo mais que torna a floresta
familiar para ele. O programa fetichiza o conceito de biodiversidade, e este
termo é realmente estranho a Sidomar. Fica quase explícita a noção de que os <i style="mso-bidi-font-style: normal;">povos da floresta </i>não conhecem a
floresta, e que o saber sobre raízes, folhas, fungos, insetos e animais, etc. é
atributo da instituição científica. Aliás, esse processo de construção
identitária permeia todos os programas da série. </span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">O programa constrói o Outro
construindo a fronteira que dele o separa. Uma fronteira que “começa por ser,
antes do mais, a linha imaginária sobre a qual se projeta a noção de diferença
e a partir da qual se torna possível a afirmação da identidade” (RIBEIRO, 2002:
481).<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">No programa, a posição enunciativa do repórter Danilo, em confronto com a
posição que é concedida a Sidomar, fica estabelecido que <i style="mso-bidi-font-style: normal;">nós</i>, ou seja, o sistema produtor da série televisiva, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">temos o conhecimento</i> sobre <i style="mso-bidi-font-style: normal;">eles</i>, os <i style="mso-bidi-font-style: normal;">povos da floresta</i>, que desconhecem, ou mais ou menos conhecem o
mundo em que vivem. No discurso se estabelecem posições que se encaminham
estrategicamente para desdobramentos extradiscursivos que nos permitem a
seguinte reflexão: se <i style="mso-bidi-font-style: normal;">eles</i>
desconhecem a biodiversidade, verbalizada no programa como uma “riqueza”, logo
são ineptos para dar racionalidade econômica a essa riqueza, e portanto, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">eles</i> estão na <i style="mso-bidi-font-style: normal;">floresta</i> como <i style="mso-bidi-font-style: normal;">povos</i>
apenas incidentalmente. Têm menos significado, no discurso, do que a “riqueza”
que apenas “conhecem por conhecer”. Desse modo, aos <i style="mso-bidi-font-style: normal;">alunos</i> e demais espectadores<i style="mso-bidi-font-style: normal;">
do </i>Telecurso é dito, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">pedagogicamente</i>,
que somente a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">nós</i>, os que conhecemos
a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">biodiversidade</i>, cabe o direito de
explorá-la e colocá-la a serviço do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Planeta</i>.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Morán (1990: 39) refere a influência de determinadas tradições
intelectuais na cristalização de contradições determinantes de atitudes
relativas ao meio ambiente amazônico: “De um lado, há tendência de considerar a
Amazônia um ‘Inferno Verde’, uma região na qual só populações com técnicas de
subsistência simples podem sobreviver devido às limitações do ambiente quente e
úmido, de solos pobres e de chuvas torrenciais”, contrastando com as visões
paradisíacas, de abundância de recursos capazes de redimir o Brasil e
beneficiar o mundo.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Outro aspecto levantado por Morán (idem, p. 24), quando ele afirma o
óbvio, de que “não é fácil definir a Amazônia”, refere-se à recorrente
enumeração de suas riquezas e potencialidades, de seu gigantismo
físico-geográfico, da maior diversidade biológica do Planeta, etc., presentes
em inumeráveis tipos de discursos contemporâneos <i style="mso-bidi-font-style: normal;">sobre</i> a Amazônia, como se verifica nos textos do Telecurso 2000.
Desse modo, “esquece-se da presença de sociedades nativas da região que têm
direitos e profundo conhecimento de tais áreas”.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">O programa, em seguida, reafirma, como em cantochão, que a Amazônia é
importante para o Planeta, tanto quanto cronistas do passado histórico não
cansaram de reprisar que as “drogas do sertão” estavam a serviço do “gênero
humano”, categoria na qual obviamente não cabiam os índios, num primeiro
momento, nem os <i style="mso-bidi-font-style: normal;">povos da floresta</i>,
mais tarde.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span><b><span style="font-size: large;">Os muitos sentidos de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">desenvolvimento sustentável</i></span><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></b></span></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Com estas observações, nos detemos sobre a noção de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">desenvolvimento sustentável</i>, conceito vulgarizado e de presença
obrigatória nos discursos que têm o meio ambiente como objeto. Costa (1997:
82-3), referindo-se ao ambiente científico, afirma que “a indiscriminável
proliferação de conceituações tornou trivial a coexistência e o
intercambiamento de versões contraditórias, defasadas ou excludentes” do
conceito de desenvolvimento sustentável. Segundo Costa, “vários autores deram-se
à pachorra de arrolar as definições disponíveis”, entre eles, um dos mais
conhecidos teóricos desse campo, Redclift (1987), inventariou mais de 100
significados para este termo. O título do livro do autor citado já se apresenta
como um sintoma da multiplicidade de sentidos de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">desenvolvimento sustentável</i>: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Sustainable
development: exploring the contradictions</i><a href="file:///C:/Users/Manuel%20Dutra/Documents/aaa2018%20MESTRADO%201%20SEM/Dutra%20Artigo%20Inferioriza%C3%A7%C3%A3o%20povos%20floresta.doc#_ftn3" name="_ftnref3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman", serif;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Outros autores que se dedicaram a estudar a multiplicidade de sentidos
desse termo foram Pearce, Markandya e Barbier (1989)<span class="MsoFootnoteReference"> <a href="file:///C:/Users/Manuel%20Dutra/Documents/aaa2018%20MESTRADO%201%20SEM/Dutra%20Artigo%20Inferioriza%C3%A7%C3%A3o%20povos%20floresta.doc#_ftn4" name="_ftnref4" style="mso-footnote-id: ftn4;" title=""><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman", serif;">[4]</span></span><!--[endif]--></span></a></span>.
Baroni (1992)<a href="file:///C:/Users/Manuel%20Dutra/Documents/aaa2018%20MESTRADO%201%20SEM/Dutra%20Artigo%20Inferioriza%C3%A7%C3%A3o%20povos%20floresta.doc#_ftn5" name="_ftnref5" style="mso-footnote-id: ftn5;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman", serif;">[5]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> anotou,
segundo Costa (idem) para confronto crítico, 11 definições “de distintas
procedências teóricas, sugerindo melhorias à noção de desenvolvimento
sustentável, no intuito de dar-lhe maior precisão, aprofundamento e
objetividade”. Na opinião de Costa, as noções de desenvolvimento sustentável,
apesar de recentes, tornaram-se uma “panacéia” e um “slogan” inevitável da
“sabedoria convencional”, desfocando, entre os economistas, nas discussões
acadêmicas e dos formuladores da política desenvolvimentista “o charme que a
controvérsia crescimento equilibrado <i style="mso-bidi-font-style: normal;">versus</i>
desequilíbrio exercia”.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Horácio Martins de Carvalho, consultor técnico do Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento, fala de uma “diversidade de percepções do
desenvolvimento sustentável”, gerando “divergências de interpretação dentro de
um mesmo eixo paradigmático”, segundo o qual existe uma “crise de humanidade”
nos aspectos econômicos, sociais, políticos, culturais e ambientais “em ritmo e
proporções distintas nas diversas regiões do mundo” (CARVALHO, 1994:
361-365).<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Esse paradigma verte do
Relatório da Comissão Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD,
1998). Entre as diversas interpretações encontra-se aquela que privilegia a
“gestão dos recursos”, que tem origem no “paradigma neoliberal”<i style="mso-bidi-font-style: normal;">,</i> como explica Carvalho (idem, p. 363).<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">A intensa disputa semântica em torno do conceito introduz termos
correlatos, como <i style="mso-bidi-font-style: normal;">ecodesenvolvimento</i>.
Coelho (1994: 381-2) afirma que “o ecodesenvolvimento ou desenvolvimento
sustentável surge da exigência de compatibilizar desenvolvimento com a
não-agressão ao meio ambiente, no final da década de 1960”. Para a autora,
busca-se, com essa abordagem, “acrescentar à condição de sustentabilidade,
entendida como auto-manutenção, estabilidade (equilíbrio) e durabilidade do
desenvolvimento, pelo menos três dimensões consideradas fundamentais, quais
sejam, a social, a ecológica e a econômica”.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Nem mesmo há consenso sobre o momento de nascimento da terminologia: “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Parece</i> [grifo nosso] que a expressão <i style="mso-bidi-font-style: normal;">desenvolvimento sustentável</i> surge pela
primeira vez em 1980 no documento denominado <i style="mso-bidi-font-style: normal;">World Conservation Strategy</i>, produzido pela IUCN [<i style="mso-bidi-font-style: normal;">International Union for Conservation of
Nature</i>] e <i style="mso-bidi-font-style: normal;">World Wildlife Fund</i>
(hoje <i style="mso-bidi-font-style: normal;">World Wide Fund for Nature – WWF</i>)
por solicitação do PNUMA [Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente]”
(BARBIERI, 1998: 23). De acordo com o já citado Glossário de Ecologia
(GLOSSÁRIO, 1997: 73), o conceito de desenvolvimento sustentável originou-se em
1968 na <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Biosphere Conference</i>, em
Paris. Trata-se, segundo a mesma fonte, de um “modelo de desenvolvimento que
leva em consideração, além dos fatores econômicos, aqueles de caráter social e
ecológico, assim como as disponibilidades de recursos vivos e inanimados, e as
vantagens e inconvenientes, a curto e a longo prazos, de outros tipos de ação”.
Diz ainda o Glossário (idem) que este é um “conceito difícil de implementar,
dadas as complexidades econômicas e ecológicas das situações atuais”,
implicando fatores sociais, legais, religiosos e demográficos. Como se percebe nesta
tentativa de definição, as dificuldades embutidas no conceito estão presentes
na própria definição.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Uma das definições recorrentes e que, de certo modo, baliza muitas
outras, está inscrita no relatório da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, de 1987, publicado sob o título “Nosso futuro comum”. Ali está
dito que “o desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do
presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a
suas próprias necessidades” (CMMAD, 1988: 46). Em seguida, o próprio relatório
destaca dois conceitos-chaves: a) “o conceito de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">necessidades</i>, sobretudo as necessidades dos pobres do mundo, que
devem receber a máxima prioridade” e a noção de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">limitações </i>“que o estágio da tecnologia e organização social impõe
ao meio ambiente, impedindo-o de atender às necessidades presentes e futuras”.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Determinar seu significado, em si, é impossível, como de resto nenhuma
palavra significa em si. O sentido da palavra está no seu contexto e é este que
determina o discurso dentro do qual se produzem os sentidos. É pois, no
discurso, que se deve procurar o sentido de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">desenvolvimento
sustentável, biodiversidade, povos da floresta.</i></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">A palavra se movimenta e esta movimentação relaciona-se aos efeitos e às
causas do dinamismo social. Bakhtin (1971:195)<a href="file:///C:/Users/Manuel%20Dutra/Documents/aaa2018%20MESTRADO%201%20SEM/Dutra%20Artigo%20Inferioriza%C3%A7%C3%A3o%20povos%20floresta.doc#_ftn6" name="_ftnref6" style="mso-footnote-id: ftn6;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman", serif;">[6]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> é
claro a esse respeito:<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 70.9pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 70.9pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">“A palavra não é um objeto tangível, mas um
meio de comunicação social sempre em movimento, sempre em mutação. Ela nunca
fica presa a uma consciência, a uma voz. O seu dinamismo consiste no movimento
entre um falante e outro, entre um contexto e outro, entre uma geração e outra.
... A palavra entra no seu contexto a partir de outro contexto, permeada das
intenções de outros falantes. A intenção do falante encontra a palavra já
ocupada” (ap. RIBEIRO, 2002:487). <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Isso significa que a ampliação
horizontal do uso do conceito inclui novas realidades, espraia-se no senso
comum. E mantém a noção de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">gestão</i> e
de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">desenvolvimento</i>. É, pois,
sintomático o depoimento dado num dos programas televisivos da série
“Amazônia”, do Telecurso 2000, da Rede Globo, cuja temática é “Minérios”, por
Arnoldo Lima, engenheiro da mineradora Pitinga, no Estado do Amazonas: <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">“A nossa responsabilidade é
muito grande, mas nós temos, através de técnicas adequadas de beneficiamento e
lavra do minério, através de técnicas desenvolvidas na recuperação do meio
ambiente, conseguido fazer com que a mineração traga o mínimo de impacto
ambiental, e, com isso, consiga fazer também por esta região tão carente de
emprego e riqueza, pra fazer o que nós chamamos desenvolvimento sustentado,
fazer uma conciliação do desenvolvimento, trazer emprego pra região sem
agredir, ou agredir ao mínimo o meio ambiente. Nós temos que conviver com a
floresta virgem, floresta natural, com os igarapés e os rios que são inúmeros,
temos que conviver com uma reserva indígena à nossa montante, vamos chamar
assim, e temos que conviver com uma reserva biológica do Atumã, que é
administrada pelo Ibama<a href="file:///C:/Users/Manuel%20Dutra/Documents/aaa2018%20MESTRADO%201%20SEM/Dutra%20Artigo%20Inferioriza%C3%A7%C3%A3o%20povos%20floresta.doc#_ftn7" name="_ftnref7" style="mso-footnote-id: ftn7;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif;">[7]</span></b></span><!--[endif]--></span></span></a>”.<o:p></o:p></span></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Aí estão, nas palavras de um <i style="mso-bidi-font-style: normal;">gestor</i>,
todas ou quase todas as noções de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">desenvolvimento
sustentável</i>, cujo eixo central parece ser a noção de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">equilíbrio</i>, isto é, o capital mantém-se intocado, porém cercado de
cuidados para não agredir a natureza. Um discurso que deriva diretamente das
recomendações contidas em cartas e documentos saídos de conferências que se
anunciam justamente voltar-se para o meio ambiente e o desenvolvimento.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">No entanto, a multiplicidade de sentidos dessas palavras inclui
discordâncias cabais com discursos como o do engenheiro da mineradora e, por
conseguinte, com documentos definidores como o saído da Rio-92. Altvater,
(1995: 307-8), por exemplo, é de opinião que, o que ele chama de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">comunicação ecológica</i> “não pode confiar
nos códigos econômicos”, entre outras razões porque “o desenvolvimento é
expansivo do ponto de vista quantitativo, mas os recursos naturais de onde as
estratégias de desenvolvimento se nutrem são limitados”, e que “não podemos nos
subtrair com a tese do crescimento com preservação ambiental ou da
desvinculação entre crescimento econômico e consumo de recursos naturais” (p.
311).<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Altvater denuncia a hipocrisia de chefes de estado e de representantes de
nações em relação ao que declaram em documentos oficiais, como os bons
propósitos inseridos na declaração da Rio-92. Diz ele:<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 70.9pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 70.9pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">“A reunião de cúpula da economia mundial
entre os principais Estados industrializados, que ocorreu em Munique decorridas
apenas quatro semanas da ‘cúpula’ do Rio de Janeiro, revelou um quadro de
esquecimento e obstrução. Os mesmos governos que se haviam manifestado, ao
menos em discursos, a favor do desenvolvimento e do meio ambiente,
silenciaram-se em Munique a respeito do assunto, concentrando-se nos
‘existentes’ da economia mundial no Ocidente e na transição no Leste. Tratou-se
apenas do crescimento, e não do relativo ao sustentável” (1995:316).<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Se o discurso daqueles dotados de autoridade para subscrever documentos
oficiais padece de tais variações, qual, então, o sentido de termos como <i style="mso-bidi-font-style: normal;">desenvolvimento sustentável, biodiversidade,
povos da floresta</i> nos discursos de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">gestores</i>
como o engenheiro da mineradora Pitinga? Vejamos o que diz o repórter Danilo a
respeito da mineradora amazonense:<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">“A primeira visão da
mineradora espanta, é a tradução em imagem da palavra devastação, mesmo sabendo
que aqui os técnicos e operários procuram trabalhar dentro do desenvolvimento
sustentado. Hoje as políticas de exploração da floresta apostam em técnicas
novas para retirar as riquezas sem destruir e esgotar o meio ambiente...”</span></span></i><i style="text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></i></p>
<p class="MsoBlockText"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"> Denuncia
a devastação que “espanta”, traduzida em imagens, no entanto, o programa, que
não pode fugir do próprio discurso da mídia sobre poluição de rios e queimadas
de florestas, traz as marcas de seu sistema produtor: minimiza a ação dos
técnicos e operários que “procuram trabalhar dentro do desenvolvimento
sustentado”, dentro de um jogo de palavras que sintetiza as incongruências
existentes entre o documento da Rio-92 e a temática dos representantes de
nações ricas reunidos em Munique quatro semanas após a reunião do Rio de
Janeiro, como demonstrado por Altvater.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoBlockText"><b><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span><span style="font-size: large;"> </span></o:p></span><span style="font-size: large;"><span>Quem são os</span><i> povos da floresta</i><span>?</span></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Reiteradas vezes a televisão emprega a terminologia “povos da floresta”,
cujos significados somente podem ser buscados na superfície mesma dos
discursos. Não há definições verbais explícitas, no entanto, por meio de alguns
enunciados podemos inferir alguns sentidos. Estes tornam-se mais explícitos nos
enunciados imagéticos, ou seja, mostrando as imagens daqueles a quem a
opacidade do discurso categoriza como “povos da floresta” vai-se realizando uma
forma de definição, percebe-se que é do imaginário que a mídia recupera e
recria esse tipo de terminologia.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">O que se mostra, nesses textos, é que a classificação de “povos da
floresta” refere-se à situação de grupos que ocupam espaços considerados
distantes da cultura urbana, territórios radicalmente distintos em relação ao
universo da cultura civilizada, por isso mesmo invisibilizados, esses “povos”,
no processo de sua<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>midiatização. Em
todos os programas que analisamos, em alguns mais, em outros menos, o espaço <i style="mso-bidi-font-style: normal;">natural</i> midiatizado parece ser
inteiramente estranho ao espaço cultural, sendo o espaço natural construído,
nesses textos, sempre como um espaço distante, uma espécie de “alhures”
(SEMPRINI, 1996: 194). Dessa forma, esse “distanciamento geográfico e temporal”
induz um efeito de deslocamento conceitual e cultural, já que o objeto <i style="mso-bidi-font-style: normal;">natureza</i> é percebido como radicalmente
estranho, que não nos diz respeito nem nos interpela como usufrutuários ou
habitantes em potencial desses espaços, mas somente como espectadores,
observadores descompromissados e distantes do cenário natural, sugerindo,
assim, uma espécie de ficcionalidade do espaço natural (idem).<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Realiza-se, dessa forma, um tipo de confrontação entre uma temporalidade
cultural e uma temporalidade natural, cuja estruturação tem conseqüências
diretas sobre a construção do imaginário midiático da natureza (idem, p. 192).
É nesses territórios que habitam aqueles a quem a mídia chama de “povos da
floresta”, terminologia que passou a integrar o imaginário coletivo a partir da
década de 1980, quando movimentos sociais como o dos seringueiros da Amazônia,
de grupos atingidos por barragens de hidrelétricas, os quilombolas, etc., foram
obtendo espaços na mídia, em decorrência de suas ações reivindicatórias, como
componentes de “sociedades não-urbanas contemporâneas da Amazônia”, social e
politicamente invisíveis, tal como se refere Barreto Filho (2001: 2) à
categoria “populações tradicionais”.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Embora tal invisibilidade seja perceptível nos textos da mídia que
analisamos, seria metodologicamente imprudente incluir os “povos da floresta”
na categoria “populações tradicionais” visto que aqueles, tal como suas falas e
imagens são mostradas, são midiatizados como grupos que podem ser tanto
não-urbanos como <i style="mso-bidi-font-style: normal;">urbanos</i>, pois suas
falas e imagens ocorrem também em ambientes como feiras típicas da vida nas
cidades, são entrevistados diante do Teatro Amazonas, de Manaus, tanto são
coletores de açaí, como são enunciados como sendo “índios, somos nós, os
brasileiros”, produzindo este enunciado um efeito de proximidade que, na
verdade, realça a distância entre os “povos da floresta” e “nós”. O não-urbano,
nesses textos, perpassa o urbano, pois “eles podem estar por toda parte”, como
enuncia o repórter Danilo.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Embora não se confundam com a categoria “populações tradicionais”, com
ela os “povos da floresta” guardam particular proximidade, ressalvando-se,
aqui, a questão da territorialidade que, nos textos midiáticos, se apresenta
como fluida, ou seja, uma característica não essencial aos “povos da floresta”.
Os “tradicionais”, segundo conceitua Diegues et al. (2001: 31-2), são aqueles
grupos possuidores de um conhecimento que é definido como “o conjunto de
saberes e saber-fazer a respeito do mundo natural e sobrenatural, transmitido
oralmente de geração em geração”. Segundo essa visão, a categoria extrapola os
grupos indígenas para incluir outros grupos entre os quais “há uma interligação
orgânica entre o mundo natural, o sobrenatural e a organização social”, não
existindo, entre eles, uma classificação dualista ou uma linha divisória rígida
entre <i style="mso-bidi-font-style: normal;">natural</i> e <i style="mso-bidi-font-style: normal;">social</i>, mas sim um <i style="mso-bidi-font-style: normal;">continuum</i>
entre ambos. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">E quem seriam, então, os “povos da floresta”? Seriam eles classificados
por sua origem étnica, como indígenas, nativos, povos tradicionais, portadores
de estilos de vida tradicionais, comunidades autóctones, agricultores de
subsistência ou populações locais? Nesse caso, sua categorização não se vincula
necessariamente ao território, de vez que são midiatizados em distintos
lugares, ora pescando, ora coletando, ora referindo roçados, ora presentes em
ambientes urbanos.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoBlockText" style="text-indent: 28.3pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Em certo sentido, esses “povos” aproximam-se
conceitualmente, mas apenas de modo parcial, das “populações tradicionais”, na
forma como Barreto Filho (idem, p. 9) afirma deste conceito: “Trata-se de
construto ideológico cuja força reside exatamente na generalidade do seu
significado e na flutuação do seu emprego, não sendo possível o exercício do
rigor científico nessa matéria”. No trabalho de Barreto Filho (idem) as noções
de “tradicional” associam-se às noções de “áreas protegidas”, ou seja, de
conservação e proteção dos recursos naturais. Por isso,<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 63.8pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 63.8pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span><span style="font-size: large;">“a diversidade de situações referidas
reflete-se na variedade de termos empregados. Se alguns apontam para a
ab-originalidade e outros para a etnicidade, outros sinalizam apenas para a
escala espacial – a proximidade de áreas ecologicamente críticas e frágeis ou
áreas protegidas".</span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 35.45pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></span><span style="font-size: large;">Talvez pudéssemos também recorrer à
noção de “povos sem história” apontados por Wolf (1994: 464), para quem, a
partir do século XV, a dispersão dos europeus, através dos oceanos, conjuntou
as “redes regionais pré-existentes” em uma orquestração global e as submeteu a
um ritmo de alcance mundial. Dessa forma, povos com origens e modos de ser diversos
“foram arrastados por essas forças para atividades convergentes, ... levados a
participar na construção de um mundo comum”, pelo encontro de marinheiros
mercantes europeus e soldados de várias nacionalidades, mas também “povos
naturais” da América, África e Ásia:</span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 63.8pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 63.8pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span><span style="font-size: large;">“Nesse processo, as sociedades e culturas de
todos esses povos experimentaram transformações profundas, transformações que
afetaram tanto os povos considerados como portadores de história ‘real’ como
também as populações que os antropólogos chamaram de ‘primitivas’ e que, em
geral, foram estudadas como sobreviventes prístinos de um passado intemporal”
(idem, p. 465).</span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 35.45pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></span><span style="font-size: large; text-indent: 35.4pt;">Para Wolf, a história desses povos “primitivos” também está constituída
pelos processos mundiais que a expansão européia pôs em marcha, não sendo, pois
“antecessores contemporâneos”, nem “povos sem história, nem povos cujas
histórias, usando a expressão de Lévy-Strauss, permanecem congeladas” (idem, p.
465). No processo de expansão européia, diz Wolf (idem, p. 469), que o controle
da comunicação permite aos administradores estabelecer as categorias por meio
das quais se vai perceber a realidade. E, de modo inverso, esse mesmo processo
carrega em si a faculdade de negar a existência de categorias outras, de
remetê-las ao reino da desordem e do caos, de torná-las social e simbolicamente
invisíveis. Além disso, esse processo de conjuntar povos portadores de história
“real” e aqueles “sem história” esforça-se por manter </span><i style="font-size: large; text-indent: 35.4pt;">em seu lugar</i><span style="font-size: large; text-indent: 35.4pt;"> os significados assim gerados, isto é, de que os “primitivos”
não têm mesmo história “real”. Esses significados, assim produzidos, constituem
“proposições básicas sobre a natureza da realidade inventada” (p. 469).</span></p>
<p class="MsoBlockText"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"> No
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">corpus</i> que analisamos, o emprego da
terminologia “povos da floresta” traz, na verdade, uma desfocagem dos grupos
que aí são midiatizados. Postos debaixo de um conceito tão amplo, os textos não
os definem explicitamente. A despeito da diversidade de seus modos de vida,
contato com a natureza e com o urbano, o discurso da mídia constrói a homogeneização
de grupos diferenciados entre si e, no discurso, todos esses “povos” como
distintos daqueles outros que não são “da floresta”, portanto urbanos,
civilizados, com modos de vida <i style="mso-bidi-font-style: normal;">modernos</i>.
Essa é a distinção produzida nesse tipo de discurso, com a mídia sentindo-se à
vontade para incluir unidades de sentido tais como “garimpeiro de copaíba”,
misturando noções associadas à mineração artesanal e à coleta de essências
florestais. Afinal, em relação a “povos sem história”, aos quais sempre foi
negado o poder do discurso, torna-se fácil e cômodo recolocá-los na posição de
invisibilidade por meio de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">realidades
inventadas</i>, dadas estas, no discurso, como verdades sem adjetivo.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">A terminologia <i style="mso-bidi-font-style: normal;">povos da floresta</i>
poderia ser tomada como espécie de eufemismo referente ao pejorativo termo <i style="mso-bidi-font-style: normal;">caboclo</i>, também empregado na mídia
quando se refere a grupos do interior da Amazônia. Uma forma de compreensão da
inclusão desse antigo enunciado encontra-se na afirmação de Lima (1999: 7): “Na
região amazônica, o termo caboclo é também empregado como categoria relacional.
Nessa utilização, o termo identifica uma categoria de pessoas que se encontra
numa <i style="mso-bidi-font-style: normal;">posição</i> [grifo nosso] social
inferior em relação àquela com que o locutor ou locutora se identifica”.
Transpondo essa observação do campo da antropologia para o campo na análise do
discurso da mídia, percebe-se com clareza o jogo das posições enunciativas que
instigam a produção daquilo que aqui chamamos de um discurso tributário, por
parte de sujeitos inferiorizados em cena, um discurso de convalidação dos
enunciados de quem se acha na posição estratégica de, ao ceder a palavra, por
esta mesma cessão silenciar o interlocutor.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Ainda segundo Lima (idem, p. 7) a utilização coloquial do termo caboclo
transporta as noções de “não-civilizado”, ou seja, analfabeto, rústico, em
contraste com noções indicativas de qualidades urbana, branca, civilizada. “O
termo pode ser aplicado a qualquer grupo social ou pessoa considerada mais
rural, indígena ou rústica em relação ao locutor ou locutora”. Nesse sentido –
indaga Lima – “a utilização do termo é também um meio de o locutor ou locutora
afirmar sua identidade? Não cabocla ou branca [?].”<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Assim como há “muitas Amazônias” e existem muitas versões para o termo
“caboclo”, os sentidos focais desses termos são objeto de disputas, porém o que
há de menos contencioso nessas disputas é o fato de que a “sociedade cabocla”
tendeu a ser historicamente tratada como grupo postergado, uma presença não
ignorada mas de pouca importância (Nugent, 1993:xviii)<a href="file:///C:/Users/Manuel%20Dutra/Documents/aaa2018%20MESTRADO%201%20SEM/Dutra%20Artigo%20Inferioriza%C3%A7%C3%A3o%20povos%20floresta.doc#_ftn8" name="_ftnref8" style="mso-footnote-id: ftn8;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman", serif;">[8]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>.
Falando do discurso racista que esteve em relevo na segunda metade do século
XIX, quando se proclamavam teorias como a do chamado “branqueamento” da
população do Brasil, “degenerada pela miscigenação”, Nugent (idem, p. 46)
relembra como chama particular atenção o contraste construído entre o discurso
de realce “da beleza e a luxúria da natureza tropical” e a “feiúra
envergonhada” que se estampa no rosto de seus habitantes. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoBlockText"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"> As
matrizes desse tipo de racismo provinham de diversos autores estrangeiros,
sobre o que existem textos bastante conhecidos. Joseph-Arthur, o conde de
Gobineau, por exemplo, desembarcou no Brasil por ocasião do carnaval de 1869,
tendo, então, o seu senso estético <i style="mso-bidi-font-style: normal;">ofendido</i>
diante do espetáculo de “uma população totalmente mulata, viciada no sangue e
no espírito, e assustadoramente feia”, em virtude da mestiçagem (ap. SKIDMORE,
1989: 46). O que hoje chega a impressionar é que essas formas repelentes de
racismo foram assimiladas por não poucos autores brasileiros; se, na
atualidade, os discursos de depreciação de grupos subalternos já não se fazem
daquela maneira por assim dizer nua-e-crua, os elementos que os constituem não
estão de todo ausentes, ao contrário, acham-se, como na mídia televisiva,
sedutoramente presentes.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoBlockText"><span style="font-size: large;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p><span> </span></o:p></span><b><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span>Conclusão</span></span></b></span></p>
<p class="MsoBlockText"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"> Como
afirmamos na introdução, percebe-se como é problemática a análise de textos
fabricados pelos sistemas produtores de sentidos postos em circulação pelos
dispositivos da mídia. Ao não oferecerem definições explícitas, no entanto, os
programas de televisão nos oferecem definições de outra ordem, ou seja, através
do jogo de palavras e sobretudo pela manipulação de imagens digitalizadas, ali
estão, na telinha, produtos sedutores, re-construindo as mais velhas e
arraigadas reiterações de enunciados que percorrem o imaginário social há
séculos.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoBlockText"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"> Em
trabalho no qual analisa o que chama de uma “sociedade cabocla da Amazônia”,
Nugent (1993: 36) fala da existência de um “discurso da floresta tropical” (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">rainforest discourse)</i>, que é apresentado
com dois diferentes objetivos, quais sejam, “manter as florestas e manter a
visibilidade econômica da floresta amazônica”, de interesse de um <i style="mso-bidi-font-style: normal;">business environment</i>. Ao mesmo tempo, a
assim chamada <i style="mso-bidi-font-style: normal;">sociedade cabocla</i> é
discursivamente desenhada por seus aspectos caricaturais, com a captura, pela
mídia, de elementos ideológicos do velho discurso colonial postos em circulação
no imaginário por meio de variadas formas de mediação. Por esse imaginário, o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">caboclo</i> é desenhado como um ser passivo,
mero objeto, nas discussões contemporâneas sobre <i style="mso-bidi-font-style: normal;">populações</i>, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">habitantes</i>
(idem, p. 47.).<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoBlockText"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"> Assim,
índios e seus descendentes, caboclos, pescadores, coletores, pequenos
agricultores das zonas ribeirinhas, enfim, aqueles aos quais a antropologia
categoriza como <i style="mso-bidi-font-style: normal;">da floresta,</i> <i style="mso-bidi-font-style: normal;">tradicionais,</i> ou como <i style="mso-bidi-font-style: normal;">caboclos</i>, são discursivamente mostrados
como tendo sido no passado, e sendo no presente, incapazes de dar racionalidade
aos recursos em meio aos quais vivem. A mídia busca estrategicamente
re-produzi-los como exemplos de uma certa imanência de sua inaptidão, como
ineptos foram seus predecessores desenhados pela crônica colonial.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Em boa parte dos programas que analisamos, aqueles grupos são incluídos
numa espécie de categoria-ônibus, expressa pelos termos <i style="mso-bidi-font-style: normal;">povos da floresta</i>. Individualmente seus nomes quase nunca são
enunciados nos programas de TV e, quando o são, raramente têm sobrenomes. Na
cena televisiva aparecem como figurantes, sem nomes, despersonalizados, todos
iguais, lembrando a conhecida frase “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">seen
one Indian, seen ‘em all</i>”, derivada de críticas aos filmes hollywoodianos
nos quais a presença do índio revela <i style="mso-bidi-font-style: normal;">povos</i>
histórica e culturalmente homogêneos, são apenas <i style="mso-bidi-font-style: normal;">índios</i> (Churchill, 1998: 174). No jogo das palavras em inglês,
quando oralizadas, a duplicidade do enunciado carrega o sentido da tendência
homogeneizante do cinema, tendência que se transporta para a televisão. Em
cena, os <i style="mso-bidi-font-style: normal;">entrevistados </i>cedem, no
discurso da mídia, a condição de sujeitos à condição de objetos.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Têm a sua historicidade apagada, ou desfocada, sua história é sempre, no
correr dos textos televisivos, derivada da história <i style="mso-bidi-font-style: normal;">real</i> dos brancos. Apagada a historicidade, pouco ou nada permanece
do sujeito facilmente encarado, e midiatizado, como objeto. Com o recurso da
sedução da tecnologia midiática produz-se um indisfarçável discurso de
inferiorização daqueles grupos. Estabelece-se um confronto discursivo entre o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">moderno</i> e o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">tradicional</i>, com a mídia realçando dicotomias historicamente
construídas, estrategicamente apelando para imagens em ambiente cromaticamente
propício (grandezas e belezas naturais emoldurando <i style="mso-bidi-font-style: normal;">realidades inventadas</i>), confronto que realça também as diferenças
entre as tecnologias da mídia televisiva, presentes nas locações, e aquelas
tecnologias de sobrevivência dos <i style="mso-bidi-font-style: normal;">tradicionais.</i><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 23.7pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 23.7pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 411.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 23.7pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 23.7pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 411.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Colocados, esses grupos, em posição de silenciamento,
pois o que vale é o discurso do sistema produtor de sentidos, então indagamos:
A <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Amazônia</i>, tal como construída na
mídia, não estaria deixando de ser um mero repositório de recursos <i style="mso-bidi-font-style: normal;">disponíveis</i> para o bem do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Planeta</i>, para tornar-se um repositório <i style="mso-bidi-font-style: normal;">indispensável</i> de biodiversidade, com o
mesmo objetivo? Em outras palavras, a região não estaria passando,
discursivamente, da condição de ser apenas estoque de “drogas do sertão”
disponíveis para o benefício do “gênero humano”, para tornar-se, hoje, por sua <i style="mso-bidi-font-style: normal;">biodiversidade</i>, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">indispensável </i>para sobrevivência do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Planeta</i>, com todas as possíveis conseqüências extradiscursivas
produzidas por discursos socialmente estabelecidos cujos enunciados
essencialmente constitutivos são transportados para a mídia: plenitude de
recursos e vazio humano?<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 23.7pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 23.7pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 411.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><b style="text-align: left;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span></b></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 23.7pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 23.7pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 411.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><b style="text-align: left;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: large;">Bibliografia</span></span></b></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 35.4pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">ALTVATER, Elmar. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">O preço da riqueza</b>: pilhagem ambiental e a nova<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 35.4pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">(des)ordem mundial. São Paulo: Editora da
UNESP, 1995.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 35.4pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 35.4pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">BARBIERI, José Carlos. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Desenvolvimento e meio ambiente</b>: as<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 35.4pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">estratégias de mudanças da Agenda 21.
Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 35.4pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 35.4pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">BARRETO FILHO, Henyo T. Populações
tradicionais: introdução à crítica<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 35.4pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">da ecologia política de uma noção. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Workshop</i> “Sociedades caboclas<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 35.4pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">amazônicas: modernidade e invisibilidade”.
Parati, RJ – 21 a 24 out.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 35.4pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">2001, mimeo.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 35.4pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 35.4pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">CARVALHO, Horácio Martins de. Padrões de
sustentabilidade: uma<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 35.4pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">medida para o desenvolvimento sustentável.
In: D’INCAO, Maria<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 35.4pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Angela et al (orgs.). <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">A Amazônia e a crise da modernização</b>. Belém:<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 35.4pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Museu Paraense Emilio Goeldi, 1994, p.
361-380.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoEndnoteText" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">CHURCHILL, Ward. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Fantasies of the master race</b>:
literature, cinema and<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">the colonization of American
Indians. San Francisco (CA): City Lights,<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">1998.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 35.4pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 35.4pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">CMMAD (Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento)<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 35.4pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">[Nosso futuro comum]. R. de Janeiro: FGV,
1988. 2. ed.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 35.4pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 35.4pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">COELHO, Maria Célia Nunes. Desenvolvimento
sustentável, economia<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 35.4pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">política do meio ambiente e a problemática
ecológica da Amazônia. In:<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 35.4pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">D’INCAO, Maria Angela et al (orgs.). <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">A Amazônia e a crise da<o:p></o:p></b></span></span></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 35.4pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;">modernização</span></b><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;">. Belém: Museu Paraense Emilio Goeldi, 1994,
p. 381-7.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 35.4pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 35.4pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">COSTA, José Marcelino Monteiro da.
Desenvolvimento sustentável,<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 35.4pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">globalização e desenvolvimento econômico. In:
XIMENES, Tereza<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 35.4pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">(org.). <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Perspectivas
do desenvolvimento sustentável</b>: uma contribuição<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 35.4pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">para a Agenda 21. Belém: UFPA/NAEA/UNAMAZ,
1997.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 35.4pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 35.4pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">DIEGUES, Antônio Carlos; ARRUDA, Reinaldo S.
V. (orgs.). Saberes<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 35.4pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">tradicionais e biodiversidade no Brasil.
Brasília: Ministério do Meio<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 35.4pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Ambiente; São Paulo: USP, 2001.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.45pt; margin-right: 7.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 7.1pt 0cm 35.45pt; text-align: justify; text-indent: 7.1pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.45pt; margin-right: 7.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 7.1pt 0cm 35.45pt; text-align: justify; text-indent: 7.1pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">ESCOBAR, Arturo. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Whose knowledge, whose nature?</b> Biodiversity,<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: .05pt; margin-right: 7.1pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 7.1pt 0cm 0.05pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>conservation, and the political ecology of social movements. In: Journal<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 7.1pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>of Political Ecology. Tucson: University of Arizona, vol. 5, 1998.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Disp. em: (<a href="http://www.library.arizona.edu/ej/jpe/vol5~1.htm)">www.library.arizona.edu/ej/jpe/vol5~1.htm)</a>.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">GLOSSÁRIO de Ecologia. Academia
de Ciências do Estado de São Paulo<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>(Aciesp), 1997, 2. ed. Publicação n. 103.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">ISTO É. Revista semanal,
17.07.2002, capa.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoFootnoteText" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-indent: 35.45pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoFootnoteText" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">LÉVÊQUE, Christian. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">A biodiversidade</b>. Bauru, SP: EDUSC, 1999.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoFootnoteText" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-indent: 35.45pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">LIMA, Deborah de Magalhães. A
construção histórica do termo caboclo:<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>sobre estruturas e representações sociais no
meio rural amazônico.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Belém: Novos Cadernos NAEA, vol. 2, n. 2,
dez./1999, p. 5-32. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoFootnoteText" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-indent: 35.45pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoFootnoteText" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">McGRATH, David G. Biosfera ou biodiversidade: uma
avaliação crítica do<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoFootnoteText" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">paradigma da biodiversidade. In: XIMENES, Tereza (org.).
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Perspectivas<o:p></o:p></b></span></p>
<p class="MsoFootnoteText" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">do
desenvolvimento sustentável</b>: uma
contribuição para a Amazônia 21.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoFootnoteText" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">Belém: UFPA/NAEA/UNAMAZ, 1997.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoFootnoteText" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-indent: 35.45pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">MIRES, Fernando. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">El discurso de la naturaleza</b>: ecología
y política en<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">América Latina. Buenos Aires:
Espacio Editorial, 1990.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">MORÁN, Emilio F. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">A ecologia humana das populações da
Amazônia</b>.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Petrópolis: Vozes, 1990.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 35.4pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">NUGENT,
Stephen. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Amazonian Caboclo Society</b>:
an essay on invisibility<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 35.4pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">and peasant
economy. Providence (USA); Oxford (UK): Berg, 1993.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 35.4pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoFootnoteText" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">PÁDUA, José Augusto. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">A degradação do berço esplêndido</b>: um estudo<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoFootnoteText" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">sobre a tradição original da ecologia política
brasileira, 1786-1888. Tese<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoFootnoteText" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">de Doutorado. Rio de Janeiro:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoFootnoteText" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">IUPERJ, 1997.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoFootnoteText" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-indent: 35.45pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">PEDRINI, Alexandre de Gusmão; DE-PAULA, Joel
Campos. Educação<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">ambiental: críticas e propostas. In: PEDRINI,
Alexandre de Gusmão<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">(org.). <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Educação
Ambiental</b>: reflexões e práticas contemporâneas.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. 4. ed.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">RIBEIRO, António Sousa. A retórica dos
limites: notas sobre o conceito de<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">fronteira. In: SANTOS, Boaventura de Sousa
(org.). <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">A globalização e as<o:p></o:p></b></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;">ciências
sociais</span></b><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;">. São Paulo: Cortez,
2002.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">SEMPRINI, Andrea.<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"> Analyser la communication</b>: comment analyser les<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">images, les médias, la publicité. Paris:
L’Harmattan, 1996.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoEndnoteText" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">SKIDMORE, Thomas E. Preto no Branco:
raça e nacionalidade no<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoEndnoteText" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: medium;">pensamento brasileiro. R. de Janeiro:
Paz e Terra, 1989.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 35.4pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 35.4pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">UNGARETTI, Wladymir Netto. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Empresariado e ambientalismo</b>: uma<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 35.4pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">análise de conteúdo da Gazeta Mercantil. São
Paulo: Annablume, 1998.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 35.4pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 35.4pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">WILLIAMS, Raymond. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Keywords</b>: a vocabulary of culture and society.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 35.4pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Londres: Fontana, 1976.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 35.4pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 35.4pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">WILSON, E. O. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Diversidade da vida</b>. São Paulo: Companhia das Letras,<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 35.4pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">1994. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 35.4pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 9.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 9.55pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">WOLF, Eric R. Europa y la
gente sin história. México: Fondo de Cultura<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 9.55pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 9.55pt 0cm 7.1pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: medium;">Económica, 1994.<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"> <o:p></o:p></b></span></span></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 7.1pt; margin-right: 35.45pt; margin-top: 0cm; margin: 0cm 35.45pt 0cm 7.1pt; tab-stops: 35.4pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></p>
<div style="mso-element: footnote-list;"><!--[if !supportFootnotes]--><span style="font-size: medium;"><br clear="all" />
</span><hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<div id="ftn1" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><span style="font-size: medium;"><a href="file:///C:/Users/Manuel%20Dutra/Documents/aaa2018%20MESTRADO%201%20SEM/Dutra%20Artigo%20Inferioriza%C3%A7%C3%A3o%20povos%20floresta.doc#_ftnref1" name="_ftn1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman", serif;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>Jornalista,
doutor em Ciências; pesquisa: mídia/meio ambiente; professor de Jornalismo na
Universidade Federal do Pará, Brasil.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn2" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><span style="font-size: medium;"><a href="file:///C:/Users/Manuel%20Dutra/Documents/aaa2018%20MESTRADO%201%20SEM/Dutra%20Artigo%20Inferioriza%C3%A7%C3%A3o%20povos%20floresta.doc#_ftnref2" name="_ftn2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman", serif;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
SCHMIDHEINY, Stephan. Mudando de rumo. R. de Janeiro: FGV, 1992.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn3" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><span style="font-size: medium;"><a href="file:///C:/Users/Manuel%20Dutra/Documents/aaa2018%20MESTRADO%201%20SEM/Dutra%20Artigo%20Inferioriza%C3%A7%C3%A3o%20povos%20floresta.doc#_ftnref3" name="_ftn3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman", serif;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
REDCLIFT, M. (1987). Sustainable development: exploring the contradictions.
Nova York: Methuen.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn4" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><span style="font-size: medium;"><a href="file:///C:/Users/Manuel%20Dutra/Documents/aaa2018%20MESTRADO%201%20SEM/Dutra%20Artigo%20Inferioriza%C3%A7%C3%A3o%20povos%20floresta.doc#_ftnref4" name="_ftn4" style="mso-footnote-id: ftn4;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman", serif;">[4]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> PEARCE,
D. W., MARKANDYA,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A., BARBIER, E. B.
(1989). Blueprint for a green economy. Londres: Earthscan Publications.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn5" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><span style="font-size: medium;"><a href="file:///C:/Users/Manuel%20Dutra/Documents/aaa2018%20MESTRADO%201%20SEM/Dutra%20Artigo%20Inferioriza%C3%A7%C3%A3o%20povos%20floresta.doc#_ftnref5" name="_ftn5" style="mso-footnote-id: ftn5;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman", serif;">[5]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> BARONI,
M. (1992) Ambigüidades e deficiências do conceito de desenvolvimento
sustentável. Revista de Administração de Empresas, 32 (2).<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn6" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><span style="font-size: medium;"><a href="file:///C:/Users/Manuel%20Dutra/Documents/aaa2018%20MESTRADO%201%20SEM/Dutra%20Artigo%20Inferioriza%C3%A7%C3%A3o%20povos%20floresta.doc#_ftnref6" name="_ftn6" style="mso-footnote-id: ftn6;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman", serif;">[6]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> BAKHTIN,
M. M. (1971) Discourse typology in prose. In: MATEJKA, L.; POMORSKA, K.
(orgs.). Readings in Russian Poetics (Formalist and Structuralist Views.
Cambridge, MA.: MIT Press, 176-196. Cit. por RIBEIRO (2002). Ver bibliografia.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn7" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><span style="font-size: medium;"><a href="file:///C:/Users/Manuel%20Dutra/Documents/aaa2018%20MESTRADO%201%20SEM/Dutra%20Artigo%20Inferioriza%C3%A7%C3%A3o%20povos%20floresta.doc#_ftnref7" name="_ftn7" style="mso-footnote-id: ftn7;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman", serif;">[7]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> IBAMA:
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, órgão
do Governo Federal.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn8" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><span style="font-size: medium;"><a href="file:///C:/Users/Manuel%20Dutra/Documents/aaa2018%20MESTRADO%201%20SEM/Dutra%20Artigo%20Inferioriza%C3%A7%C3%A3o%20povos%20floresta.doc#_ftnref8" name="_ftn8" style="mso-footnote-id: ftn8;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman", serif;">[8]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">There are many “Amazonias” and many versions
of ‘caboclo’, and the focal meanings of these terms are matters of dispute, but
what is less contentious is the fact that </i>caboclo</span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: medium;"> society historically has tended to be treated as an afterthought, an
unignorable presence, but a matter of no great import”.</span><o:p></o:p></i></p>
</div>
</div>Manuel Dutrahttp://www.blogger.com/profile/07384053619976412822noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8700928726379055079.post-46124352405948004392021-08-20T15:11:00.003-03:002021-08-20T15:13:38.369-03:00Rostos da cheia e improvisação - a pobreza sobre a riqueza das várzeas amazônicas<p> </p><div class="article-header" style="display: table; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: center; width: 750px;"><h1 class="title entry-title" itemprop="name" style="color: #333333; display: table-cell; font-size: 20px; font-weight: normal; margin: 0px; padding: 0px 40px 0px 0px; position: relative; vertical-align: middle; width: 670px;"> <span class="blog-admin" style="display: inline;"><a class="edit" href="https://www.blogger.com/post-edit.g?blogID=8700928726379055079&postID=1243855954020132780&from=pencil" style="background-image: url("data:image/png;base64,iVBORw0KGgoAAAANSUhEUgAAABUAAAAVCAYAAACpF6WWAAAA+UlEQVR42s3U2QmDQBAG4JRgKZbio4qieIAniniiYgkpwRIsISVYQkqwhMlMiHkIhITNhGRgYNeHz/1xncPhn0pV1dkwjNW2bYkNRAzCMIQ4jj+HdzBJEmiaBtq2hSzLxOFHcBgGGMcRuq4Tg5+Be9/gmQ2kxmdrnucSG9j3/TxNEy/IGvl3oKIokqZpC+sJdV1fHceBNE2vl5oDlC3LInBjAakw9tF13TPeNRljbwh8BlKZpnnGAXGkdRRFclEUd1gIpOj0cQijPa6VIAhOdV2LgXt03/cBoy8Ib57n0QvWsixz4XFG0XEuQlVVC8a23/6HX6A80DfrAlIMSJorw8fYAAAAAElFTkSuQmCC"); background-position: 50% 50%; background-repeat: no-repeat; color: #333333; cursor: pointer; display: inline-block; height: 21px; opacity: 0.8; outline: none; position: relative; text-decoration-line: none; top: 3px; transition: color 0.3s ease 0s; width: 21px;" target="_self" title="Edit"></a></span></h1></div><div class="article-content entry-content" itemprop="articleBody" style="clear: both; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 1.4; margin: 10px auto 5px; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;"><table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-bottom: 0.5em; margin-right: 1em; padding: 4px;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhscN2YzYNgp5bWeL4UmyLcwnTSLkbaZytKXl8MZrQm0dXEAoiupHLwIpldSHHwQNaq2LIuipr31WRydaRVP0BCkOqiNFwuV4wutTvbH5PPTWAWRsuk80_ZSYP_A6862leYWbS70isDKGeW/s1600/ROSTO+DA+CHEIA+MAI2014.JPG" style="clear: left; color: #009eb8; display: inline; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto; outline: none; text-decoration-line: none; transition: color 0.3s ease 0s;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhscN2YzYNgp5bWeL4UmyLcwnTSLkbaZytKXl8MZrQm0dXEAoiupHLwIpldSHHwQNaq2LIuipr31WRydaRVP0BCkOqiNFwuV4wutTvbH5PPTWAWRsuk80_ZSYP_A6862leYWbS70isDKGeW/s1600/ROSTO+DA+CHEIA+MAI2014.JPG" style="-webkit-border-image: url("data:image/png;base64,iVBORw0KGgoAAAANSUhEUgAAABQAAAAUCAMAAAC6V+0/AAAAOVBMVEUAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAD///+8yHYvAAAAEnRSTlMAAgEDBAUJBwYzCw0UChARDghnBteEAAAAhElEQVR4XnWRSxJDIQgEEx1Axd/L/Q8bKCuuyOzsohHxdZLS25LSOV2ULQdflgEiIDu9KqiIFILXXpeEx2ChXwdnKNxUGxc4dZbNfXjPufkp5H0Nwtymq/dltUIweNy9qmXt08EgydDZ6+dT+9Qh9AeGenhROFI0fPjMaCHx6uIlh9/xBSJuB3l0A/6JAAAAAElFTkSuQmCC") 9 fill / 9px stretch; border-color: initial; border-image-outset: 0; border-image-repeat: stretch; border-image-slice: 9; border-image-width: 9px; border-image: url("data:image/png;base64,iVBORw0KGgoAAAANSUhEUgAAABQAAAAUCAMAAAC6V+0/AAAAOVBMVEUAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAD///+8yHYvAAAAEnRSTlMAAgEDBAUJBwYzCw0UChARDghnBteEAAAAhElEQVR4XnWRSxJDIQgEEx1Axd/L/Q8bKCuuyOzsohHxdZLS25LSOV2ULQdflgEiIDu9KqiIFILXXpeEx2ChXwdnKNxUGxc4dZbNfXjPufkp5H0Nwtymq/dltUIweNy9qmXt08EgydDZ6+dT+9Qh9AeGenhROFI0fPjMaCHx6uIlh9/xBSJuB3l0A/6JAAAAAElFTkSuQmCC") 9 / 9px / 0 stretch; border-style: none; border-width: 9px; box-sizing: border-box; display: inline-block; height: auto; margin: 10px auto; max-width: 100%; padding: 8px; position: relative;" width="305" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="font-size: 11.2px; text-align: center;">Na localidade de Arapemã,a terra some quase metade<br />do ano. O olhar destas crianças é revelador do<br />mundo das águas: isolamento, abandono, embora<br />morando sobre terras férteis e rios piscosos</td></tr></tbody></table><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: center;"><i style="text-align: left;">Texto e fotos: Manuel Dutra</i></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: center;"><span style="text-align: justify;"><b><i><br /></i></b></span></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: center;"><span style="text-align: justify;"><b><i>As terras das várzeas amazônicas estão entre as mais férteis do mundo. Têm, em média, 6,4 vezes mais sódio do que as terras altas da região. As várzeas são 3,6 vezes mais ricas em potássio, 10 vezes mais em cálcio e 45,5 vezes mais em magnésio.</i></b></span></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: center;"><span style="text-align: justify;"><br /></span></div><div style="font-weight: bold; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: center;"><b>Em vésperas de eleição, é frequente aparecer ao longo dos rios e igarapés do Baixo Amazonas (tal como por toda a Amazônia) as tristemente famosas comissões de atendimento aos “flagelados” das cheias de todos os anos. Nas próximas semanas as águas começarão a baixar, e aí podem aparecer medidas “emergenciais”, pois, como se afirma de modo oportunista há décadas ou mesmo séculos, “é na vazante” que o problema é maior, com a possibilidade do surgimento de doenças.</b></div><div style="font-weight: bold; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: center;"><b><br /></b></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: left;"><br /></div><div style="font-weight: bold; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: center;"><br /></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">Igualmente como se afirma, tanto no meio técnico como no meio político, que é nos meses quando os rios estão baixos e as fertilíssimas terras de várzea estão a descoberto, que os ribeirinhos dessas zonas mais necessitam da atenção do poder público para aproveitar ao máximo o potencial produtivo das terras fertilizadas pelo Amazonas durante a cheia anual, com a semeadura de culturas de ciclo curto, como o feijão, o milho, frutas e hortaliças. Nos meses de agosto a janeiro as várzeas se transformam numa terra da promissão, embora passageira, da mesma forma como se transformam num mundo de águas também efêmero, mas quase sempre de efeitos devastadores.</div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="text-align: center;">Incluindo a região das ilhas, somente no Estado do Pará são 8,5 milhões de hectares de várzeas. Estudos científicos comprovam o que sabiam os indígenas, há milênios, e os ribeirinhos há séculos, que ali, a despeito de tamanha sazonalidade, tudo que se planta dá, nos seis meses em que é possível manter os roçados.</span> </div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-bottom: 0.5em; margin-left: auto; margin-right: auto; padding: 4px; text-align: center;"><tbody><tr><td><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJg4oR6Tbo5iBwQmrwmcB-ERkHsFWJmg7-EfvFpGbqeExw2UcSdfgvxkyRxrOcIM70Su5Euh3Lh5vsUwBFmWvASobzFz4plmpXM6Ql0MZo2MJbR5IPW1Azl6HV_fM0hmsMyzfrgxqNEfi5/s1600/DSC06973.JPG" style="color: #009eb8; display: inline; margin-left: auto; margin-right: auto; outline: none; text-decoration-line: none; transition: color 0.3s ease 0s;"><img border="0" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJg4oR6Tbo5iBwQmrwmcB-ERkHsFWJmg7-EfvFpGbqeExw2UcSdfgvxkyRxrOcIM70Su5Euh3Lh5vsUwBFmWvASobzFz4plmpXM6Ql0MZo2MJbR5IPW1Azl6HV_fM0hmsMyzfrgxqNEfi5/s1600/DSC06973.JPG" style="-webkit-border-image: url("data:image/png;base64,iVBORw0KGgoAAAANSUhEUgAAABQAAAAUCAMAAAC6V+0/AAAAOVBMVEUAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAD///+8yHYvAAAAEnRSTlMAAgEDBAUJBwYzCw0UChARDghnBteEAAAAhElEQVR4XnWRSxJDIQgEEx1Axd/L/Q8bKCuuyOzsohHxdZLS25LSOV2ULQdflgEiIDu9KqiIFILXXpeEx2ChXwdnKNxUGxc4dZbNfXjPufkp5H0Nwtymq/dltUIweNy9qmXt08EgydDZ6+dT+9Qh9AeGenhROFI0fPjMaCHx6uIlh9/xBSJuB3l0A/6JAAAAAElFTkSuQmCC") 9 fill / 9px stretch; border-color: initial; border-image-outset: 0; border-image-repeat: stretch; border-image-slice: 9; border-image-width: 9px; border-image: url("data:image/png;base64,iVBORw0KGgoAAAANSUhEUgAAABQAAAAUCAMAAAC6V+0/AAAAOVBMVEUAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAD///+8yHYvAAAAEnRSTlMAAgEDBAUJBwYzCw0UChARDghnBteEAAAAhElEQVR4XnWRSxJDIQgEEx1Axd/L/Q8bKCuuyOzsohHxdZLS25LSOV2ULQdflgEiIDu9KqiIFILXXpeEx2ChXwdnKNxUGxc4dZbNfXjPufkp5H0Nwtymq/dltUIweNy9qmXt08EgydDZ6+dT+9Qh9AeGenhROFI0fPjMaCHx6uIlh9/xBSJuB3l0A/6JAAAAAElFTkSuQmCC") 9 / 9px / 0 stretch; border-style: none; border-width: 9px; box-sizing: border-box; display: inline-block; height: auto; margin: 10px auto; max-width: 100%; padding: 8px; position: relative;" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="font-size: 11.2px;">Pouco espaço para brincar dentro de casa, muito cuidado com as cobras da época</td></tr></tbody></table><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"> A ciência hoje comprova que as várzeas constituem ecossistemas de grande biodiversidade, com características próprias, riqueza abundante, e, a despeito da fragilidade natural que lhes é peculiar, têm lugar central na economia e na cultura regional. Essas áreas de várzeas são habitadas e exploradas há séculos por populações tradicionais. Trata-se, ainda, de áreas marcadas por profundas fragilidades sociais, agravadas pela falta de segurança na posse desse território, imprescindível para a subsistência das famílias e para a preservação do meio ambiente e da cultura local. Do ponto de vista do domínio, as várzeas são terras públicas, patrimônio de uso comum do povo brasileiro. </div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-bottom: 0.5em; margin-left: auto; margin-right: auto; padding: 4px; text-align: center;"><tbody><tr><td><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpGEG1Ag5IxARMR5OVtAR1ZM3J1uZCchzmRcSa-2IBVpdhA10O-rIsCpL68_PgB9PpPM88YJQGVcjhGpZCZUXdZv9ocM5oGnpMj57lZJL-CAweENQLz1Mz6R3Kt8oCRyp6GM477smwS_JI/s1600/DSC06976.JPG" style="color: #009eb8; display: inline; margin-left: auto; margin-right: auto; outline: none; text-decoration-line: none; transition: color 0.3s ease 0s;"><img border="0" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpGEG1Ag5IxARMR5OVtAR1ZM3J1uZCchzmRcSa-2IBVpdhA10O-rIsCpL68_PgB9PpPM88YJQGVcjhGpZCZUXdZv9ocM5oGnpMj57lZJL-CAweENQLz1Mz6R3Kt8oCRyp6GM477smwS_JI/s1600/DSC06976.JPG" style="-webkit-border-image: url("data:image/png;base64,iVBORw0KGgoAAAANSUhEUgAAABQAAAAUCAMAAAC6V+0/AAAAOVBMVEUAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAD///+8yHYvAAAAEnRSTlMAAgEDBAUJBwYzCw0UChARDghnBteEAAAAhElEQVR4XnWRSxJDIQgEEx1Axd/L/Q8bKCuuyOzsohHxdZLS25LSOV2ULQdflgEiIDu9KqiIFILXXpeEx2ChXwdnKNxUGxc4dZbNfXjPufkp5H0Nwtymq/dltUIweNy9qmXt08EgydDZ6+dT+9Qh9AeGenhROFI0fPjMaCHx6uIlh9/xBSJuB3l0A/6JAAAAAElFTkSuQmCC") 9 fill / 9px stretch; border-color: initial; border-image-outset: 0; border-image-repeat: stretch; border-image-slice: 9; border-image-width: 9px; border-image: url("data:image/png;base64,iVBORw0KGgoAAAANSUhEUgAAABQAAAAUCAMAAAC6V+0/AAAAOVBMVEUAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAD///+8yHYvAAAAEnRSTlMAAgEDBAUJBwYzCw0UChARDghnBteEAAAAhElEQVR4XnWRSxJDIQgEEx1Axd/L/Q8bKCuuyOzsohHxdZLS25LSOV2ULQdflgEiIDu9KqiIFILXXpeEx2ChXwdnKNxUGxc4dZbNfXjPufkp5H0Nwtymq/dltUIweNy9qmXt08EgydDZ6+dT+9Qh9AeGenhROFI0fPjMaCHx6uIlh9/xBSJuB3l0A/6JAAAAAElFTkSuQmCC") 9 / 9px / 0 stretch; border-style: none; border-width: 9px; box-sizing: border-box; display: inline-block; height: auto; margin: 10px auto; max-width: 100%; padding: 8px; position: relative;" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="font-size: 11.2px;">O cachorro se acomoda debaixo do assoalho da casa</td></tr></tbody></table><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"> Ao priorizar as terras públicas da Amazônia, com foco específico na regularização fundiária das áreas de várzeas, a iniciativa persegue duplo propósito: garantir o direito à ocupação dessas áreas pelas populações ribeirinhas que nelas vivem tradicionalmente; e garantir a exploração sustentável dos recursos naturais, aliando qualidade de vida e responsabilidade ambiental. É o que se lê em <a href="http://inovacao.enap.gov.br/index.php?option=com_docman&task=doc_view&gid=278" style="color: #009eb8; display: inline; outline: none; text-decoration-line: none; transition: color 0.3s ease 0s;">Alexandra Reschke.</a></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><b>Fartura milenar</b> </div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">Vale a pena recordar o que escreveu em 1876 Luiz Dolzani (pseudônimo do escritor paraense Inglês de Sousa), no seu romance ‘História de um pescador’: “Se o Lago Grande é fértil em peixes, as suas margens são fertilíssimas em pássaros de toda espécie. As marrecas, os patos bravos, as colhereiras, os maguaris, garças e gaivotas abundam; é, em grande parte, da carne dessas aves aquáticas que se sustenta a população temporária do Salé”.</div></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-bottom: 0.5em; margin-left: auto; margin-right: auto; padding: 4px; text-align: center;"><tbody><tr><td><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSwyHjjxI_2Rklyjie_df2O8LOFyygrSX4vjKDrVVH4sEPrFko7oaob6vhOFSUWlSqIT9BVVD_9UHoOjWdxr2GNUvHhgI32yAQcLCV9xzdC6nHK0aQHKwGWNFf3LouWKqaHRxtEsWo5pmv/s1600/DSC06977.JPG" style="color: #009eb8; display: inline; margin-left: auto; margin-right: auto; outline: none; text-decoration-line: none; transition: color 0.3s ease 0s;"><img border="0" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSwyHjjxI_2Rklyjie_df2O8LOFyygrSX4vjKDrVVH4sEPrFko7oaob6vhOFSUWlSqIT9BVVD_9UHoOjWdxr2GNUvHhgI32yAQcLCV9xzdC6nHK0aQHKwGWNFf3LouWKqaHRxtEsWo5pmv/s1600/DSC06977.JPG" style="-webkit-border-image: url("data:image/png;base64,iVBORw0KGgoAAAANSUhEUgAAABQAAAAUCAMAAAC6V+0/AAAAOVBMVEUAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAD///+8yHYvAAAAEnRSTlMAAgEDBAUJBwYzCw0UChARDghnBteEAAAAhElEQVR4XnWRSxJDIQgEEx1Axd/L/Q8bKCuuyOzsohHxdZLS25LSOV2ULQdflgEiIDu9KqiIFILXXpeEx2ChXwdnKNxUGxc4dZbNfXjPufkp5H0Nwtymq/dltUIweNy9qmXt08EgydDZ6+dT+9Qh9AeGenhROFI0fPjMaCHx6uIlh9/xBSJuB3l0A/6JAAAAAElFTkSuQmCC") 9 fill / 9px stretch; border-color: initial; border-image-outset: 0; border-image-repeat: stretch; border-image-slice: 9; border-image-width: 9px; border-image: url("data:image/png;base64,iVBORw0KGgoAAAANSUhEUgAAABQAAAAUCAMAAAC6V+0/AAAAOVBMVEUAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAD///+8yHYvAAAAEnRSTlMAAgEDBAUJBwYzCw0UChARDghnBteEAAAAhElEQVR4XnWRSxJDIQgEEx1Axd/L/Q8bKCuuyOzsohHxdZLS25LSOV2ULQdflgEiIDu9KqiIFILXXpeEx2ChXwdnKNxUGxc4dZbNfXjPufkp5H0Nwtymq/dltUIweNy9qmXt08EgydDZ6+dT+9Qh9AeGenhROFI0fPjMaCHx6uIlh9/xBSJuB3l0A/6JAAAAAElFTkSuQmCC") 9 / 9px / 0 stretch; border-style: none; border-width: 9px; box-sizing: border-box; display: inline-block; height: auto; margin: 10px auto; max-width: 100%; padding: 8px; position: relative;" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="font-size: 11.2px;">Rosivaldo e família</td></tr></tbody></table> A seguir, republico uma reportagem que fiz para o jornal O Liberal, de Belém, em 1994, contendo informações que tornam o texto relativamente atual.<br /><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">*********************************</div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /><span style="font-size: large;">Vida e água se misturam na várzea (</span>junho 1994)<br /><br /><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">Na semana passada, o ribeirinho Enéas Ferreira Pinho, 61, que nasceu e vive na margem esquerda do Rio Amazonas, Município de Santarém, descreveu seu dia-a-dia: “Quando eu acordo, vou logo ver a malhadeira e tirar o peixe; depois eu chego de lá, tomo café e vou pro capim. Do capim eu volto e jogo para os animais; de lá vou procurar o que fazer dentro de casa, consertar as redes estraçalhadas pelo boto, pregar alguma tábua na canoa. De tarde volto com a malhadeira para a água, janto, durmo e de manhã começo tudo de novo”.</div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">Na narração do romancista Dolzani e na descrição de Enéas, dois momentos, distantes no tempo, que caracterizam a vida dos homens e mulheres da água. Tão intimamente ligados ao grande rio que se confundem com a própria natureza.</div></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-bottom: 0.5em; margin-left: auto; margin-right: auto; padding: 4px; text-align: center;"><tbody><tr><td><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjtlcvfm1IiZ3HotpbEle3cx9b2WBPO_lsa8OtCWj55V6m5MKmdq-GTC1he_Lnx-2qXeCWQj_bfFn4bSdGm9B6PwWWlInauVm4VYovSscsB7lB1qrPN3BY6orlVGoJNwTJ3ZB8uh6nm3ek6/s1600/DSC06906.JPG" style="color: #009eb8; display: inline; margin-left: auto; margin-right: auto; outline: none; text-decoration-line: none; transition: color 0.3s ease 0s;"><img border="0" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjtlcvfm1IiZ3HotpbEle3cx9b2WBPO_lsa8OtCWj55V6m5MKmdq-GTC1he_Lnx-2qXeCWQj_bfFn4bSdGm9B6PwWWlInauVm4VYovSscsB7lB1qrPN3BY6orlVGoJNwTJ3ZB8uh6nm3ek6/s1600/DSC06906.JPG" style="-webkit-border-image: url("data:image/png;base64,iVBORw0KGgoAAAANSUhEUgAAABQAAAAUCAMAAAC6V+0/AAAAOVBMVEUAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAD///+8yHYvAAAAEnRSTlMAAgEDBAUJBwYzCw0UChARDghnBteEAAAAhElEQVR4XnWRSxJDIQgEEx1Axd/L/Q8bKCuuyOzsohHxdZLS25LSOV2ULQdflgEiIDu9KqiIFILXXpeEx2ChXwdnKNxUGxc4dZbNfXjPufkp5H0Nwtymq/dltUIweNy9qmXt08EgydDZ6+dT+9Qh9AeGenhROFI0fPjMaCHx6uIlh9/xBSJuB3l0A/6JAAAAAElFTkSuQmCC") 9 fill / 9px stretch; border-color: initial; border-image-outset: 0; border-image-repeat: stretch; border-image-slice: 9; border-image-width: 9px; border-image: url("data:image/png;base64,iVBORw0KGgoAAAANSUhEUgAAABQAAAAUCAMAAAC6V+0/AAAAOVBMVEUAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAD///+8yHYvAAAAEnRSTlMAAgEDBAUJBwYzCw0UChARDghnBteEAAAAhElEQVR4XnWRSxJDIQgEEx1Axd/L/Q8bKCuuyOzsohHxdZLS25LSOV2ULQdflgEiIDu9KqiIFILXXpeEx2ChXwdnKNxUGxc4dZbNfXjPufkp5H0Nwtymq/dltUIweNy9qmXt08EgydDZ6+dT+9Qh9AeGenhROFI0fPjMaCHx6uIlh9/xBSJuB3l0A/6JAAAAAElFTkSuQmCC") 9 / 9px / 0 stretch; border-style: none; border-width: 9px; box-sizing: border-box; display: inline-block; height: auto; margin: 10px auto; max-width: 100%; padding: 8px; position: relative;" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="font-size: 11.2px;">Casa abandonada e à venda. Na foto a seguir, a atração urbana para os mais jovens ou para toda a família</td></tr></tbody></table><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"> Elza dos Santos Costa, 45, nasceu na Costa do Tapará, perto do igarapé do Urucurituba, onde vive com o marido José Maturino, 47, e os oito filhos. “Nunca morei em terra firme”, diz Elza. “No verão, a gente planta tomate, melancia, maxixe, melão, jerimum, que a gente leva pra vender em Santarém. Mas agora, com a água grande, só mesmo a pesca. Uma vez por semana levamos pra vender na cidade”.</div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">Os filhos de Elza estudam lá mesmo, mas neste momento a escola está inundada, assim como a capela, o barracão comunitário, o salão de festas, o campo de futebol, as residências. As veredas percorridas a pé no verão agora são caminhos de canoas. “Em toda a minha vida nunca vi fome aqui na várzea”, diz a dona de casa. De fato, em meio à pobreza, o semblante das pessoas é bom, diferente de muitos outros grupos marginalizados. As doenças metem mais medo quando o rio pára de subir e se estabiliza, antes de começar a vazar. O calor aumenta, a água fica suja em volta das casas e dos cemitérios submersos e é frequente a ocorrência de gripe e diarréias.</div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-bottom: 0.5em; margin-left: auto; margin-right: auto; padding: 4px; text-align: center;"><tbody><tr><td><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEitO_eY0Tdrx7W4QsjJ_kF9xr-DtBX1P8pXvIaTukT9sD9jcMGY6CBo-ht2XEAXyk5c_A6TVBLsKa0U_8nog5saIMutYIgqIVi28Jlq0c4z_5p2P1bmAZWdhdX4Wa2aUBsKimaarJYBXha5/s1600/DSC06907.JPG" style="color: #009eb8; display: inline; margin-left: auto; margin-right: auto; outline: none; text-decoration-line: none; transition: color 0.3s ease 0s;"><img border="0" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEitO_eY0Tdrx7W4QsjJ_kF9xr-DtBX1P8pXvIaTukT9sD9jcMGY6CBo-ht2XEAXyk5c_A6TVBLsKa0U_8nog5saIMutYIgqIVi28Jlq0c4z_5p2P1bmAZWdhdX4Wa2aUBsKimaarJYBXha5/s1600/DSC06907.JPG" style="-webkit-border-image: url("data:image/png;base64,iVBORw0KGgoAAAANSUhEUgAAABQAAAAUCAMAAAC6V+0/AAAAOVBMVEUAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAD///+8yHYvAAAAEnRSTlMAAgEDBAUJBwYzCw0UChARDghnBteEAAAAhElEQVR4XnWRSxJDIQgEEx1Axd/L/Q8bKCuuyOzsohHxdZLS25LSOV2ULQdflgEiIDu9KqiIFILXXpeEx2ChXwdnKNxUGxc4dZbNfXjPufkp5H0Nwtymq/dltUIweNy9qmXt08EgydDZ6+dT+9Qh9AeGenhROFI0fPjMaCHx6uIlh9/xBSJuB3l0A/6JAAAAAElFTkSuQmCC") 9 fill / 9px stretch; border-color: initial; border-image-outset: 0; border-image-repeat: stretch; border-image-slice: 9; border-image-width: 9px; border-image: url("data:image/png;base64,iVBORw0KGgoAAAANSUhEUgAAABQAAAAUCAMAAAC6V+0/AAAAOVBMVEUAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAD///+8yHYvAAAAEnRSTlMAAgEDBAUJBwYzCw0UChARDghnBteEAAAAhElEQVR4XnWRSxJDIQgEEx1Axd/L/Q8bKCuuyOzsohHxdZLS25LSOV2ULQdflgEiIDu9KqiIFILXXpeEx2ChXwdnKNxUGxc4dZbNfXjPufkp5H0Nwtymq/dltUIweNy9qmXt08EgydDZ6+dT+9Qh9AeGenhROFI0fPjMaCHx6uIlh9/xBSJuB3l0A/6JAAAAAElFTkSuQmCC") 9 / 9px / 0 stretch; border-style: none; border-width: 9px; box-sizing: border-box; display: inline-block; height: auto; margin: 10px auto; max-width: 100%; padding: 8px; position: relative;" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="font-size: 11.2px;">A cidade de Santarém, vista de Igarapé-Açu, na várzea: inchaço populacional e atrativo duvidoso</td></tr></tbody></table><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"> <b>Feijão e charque</b></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">Morar na terra firme? “Talvez, se o terreno fosse nosso. Mas é difícil a gente se acostumar; o povo lá come muito peixe salgado...”, teme Elza, que reside na mesma casa há 25 anos, desde que se casou. Assim como a maioria dos varzeiros, ela fica indignada com o tratamento que recebem a cada enchente. “Eles pensam que nós somos preguiçosos, mas nós não somos mendigos, não passamos fome aqui”, desabafa, referindo-se aos políticos que aparecem por lá quando o rio sobe, levando algumas tábuas e alguns quilos de feijão e charque.</div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-bottom: 0.5em; margin-left: auto; margin-right: auto; padding: 4px; text-align: center;"><tbody><tr><td><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOkFHeibsSWJVSqjx_2ORIpULRNMoDy-diroIQ05z2iskAObQTxrhTTzumwOguWGady77QjtCwjBTQ5UfPGZYSYjf5bdhQ8JkZw3haQqRjd8Ntm8OsA5M4mHQKqd1cu4893P3ade65Icsi/s1600/DSC06921.JPG" style="color: #009eb8; display: inline; margin-left: auto; margin-right: auto; outline: none; text-decoration-line: none; transition: color 0.3s ease 0s;"><img border="0" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOkFHeibsSWJVSqjx_2ORIpULRNMoDy-diroIQ05z2iskAObQTxrhTTzumwOguWGady77QjtCwjBTQ5UfPGZYSYjf5bdhQ8JkZw3haQqRjd8Ntm8OsA5M4mHQKqd1cu4893P3ade65Icsi/s1600/DSC06921.JPG" style="-webkit-border-image: url("data:image/png;base64,iVBORw0KGgoAAAANSUhEUgAAABQAAAAUCAMAAAC6V+0/AAAAOVBMVEUAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAD///+8yHYvAAAAEnRSTlMAAgEDBAUJBwYzCw0UChARDghnBteEAAAAhElEQVR4XnWRSxJDIQgEEx1Axd/L/Q8bKCuuyOzsohHxdZLS25LSOV2ULQdflgEiIDu9KqiIFILXXpeEx2ChXwdnKNxUGxc4dZbNfXjPufkp5H0Nwtymq/dltUIweNy9qmXt08EgydDZ6+dT+9Qh9AeGenhROFI0fPjMaCHx6uIlh9/xBSJuB3l0A/6JAAAAAElFTkSuQmCC") 9 fill / 9px stretch; border-color: initial; border-image-outset: 0; border-image-repeat: stretch; border-image-slice: 9; border-image-width: 9px; border-image: url("data:image/png;base64,iVBORw0KGgoAAAANSUhEUgAAABQAAAAUCAMAAAC6V+0/AAAAOVBMVEUAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAD///+8yHYvAAAAEnRSTlMAAgEDBAUJBwYzCw0UChARDghnBteEAAAAhElEQVR4XnWRSxJDIQgEEx1Axd/L/Q8bKCuuyOzsohHxdZLS25LSOV2ULQdflgEiIDu9KqiIFILXXpeEx2ChXwdnKNxUGxc4dZbNfXjPufkp5H0Nwtymq/dltUIweNy9qmXt08EgydDZ6+dT+9Qh9AeGenhROFI0fPjMaCHx6uIlh9/xBSJuB3l0A/6JAAAAAElFTkSuQmCC") 9 / 9px / 0 stretch; border-style: none; border-width: 9px; box-sizing: border-box; display: inline-block; height: auto; margin: 10px auto; max-width: 100%; padding: 8px; position: relative;" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="font-size: 11.2px;">A beleza da cheia: exuberância e sofrimento </td></tr></tbody></table><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"> De modo geral, os ribeirinhos dizem que gostariam de receber madeira forte, durante a vazante, para melhorarem as casas. E também para construir marombas mais altas e seguras para colocar as poucas reses que possuem, como Enéas Pinto, que tem 12 animais. Nesta época, sua rotina diária inclui uma espécie de vaquejada aquática, quando ele substitui o cavalo pela canoa, no pastoreio do gado. Nas várzeas somente os pequenos criadores permanecem com os animais. Os de maiores posses levam seus rebanhos para os chamados campos de invernada, nas terras altas.</div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-bottom: 0.5em; margin-left: auto; margin-right: auto; padding: 4px; text-align: center;"><tbody><tr><td><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiY_0gyB2u0uUQ0NrTSN28oMddoVeYTyCpcReoHVwA-PuT0OVJCU1n9s6muNVQ489HVag5NBwXPnZtscGJdCdkzKLAyw2AN3MJRHO_Vve6shQO7L09G6KVDc_nDdB1LfAoDXRPgNbuU2vwn/s1600/DSC06928.JPG" style="color: #009eb8; display: inline; margin-left: auto; margin-right: auto; outline: none; text-decoration-line: none; transition: color 0.3s ease 0s;"><img border="0" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiY_0gyB2u0uUQ0NrTSN28oMddoVeYTyCpcReoHVwA-PuT0OVJCU1n9s6muNVQ489HVag5NBwXPnZtscGJdCdkzKLAyw2AN3MJRHO_Vve6shQO7L09G6KVDc_nDdB1LfAoDXRPgNbuU2vwn/s1600/DSC06928.JPG" style="-webkit-border-image: url("data:image/png;base64,iVBORw0KGgoAAAANSUhEUgAAABQAAAAUCAMAAAC6V+0/AAAAOVBMVEUAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAD///+8yHYvAAAAEnRSTlMAAgEDBAUJBwYzCw0UChARDghnBteEAAAAhElEQVR4XnWRSxJDIQgEEx1Axd/L/Q8bKCuuyOzsohHxdZLS25LSOV2ULQdflgEiIDu9KqiIFILXXpeEx2ChXwdnKNxUGxc4dZbNfXjPufkp5H0Nwtymq/dltUIweNy9qmXt08EgydDZ6+dT+9Qh9AeGenhROFI0fPjMaCHx6uIlh9/xBSJuB3l0A/6JAAAAAElFTkSuQmCC") 9 fill / 9px stretch; border-color: initial; border-image-outset: 0; border-image-repeat: stretch; border-image-slice: 9; border-image-width: 9px; border-image: url("data:image/png;base64,iVBORw0KGgoAAAANSUhEUgAAABQAAAAUCAMAAAC6V+0/AAAAOVBMVEUAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAD///+8yHYvAAAAEnRSTlMAAgEDBAUJBwYzCw0UChARDghnBteEAAAAhElEQVR4XnWRSxJDIQgEEx1Axd/L/Q8bKCuuyOzsohHxdZLS25LSOV2ULQdflgEiIDu9KqiIFILXXpeEx2ChXwdnKNxUGxc4dZbNfXjPufkp5H0Nwtymq/dltUIweNy9qmXt08EgydDZ6+dT+9Qh9AeGenhROFI0fPjMaCHx6uIlh9/xBSJuB3l0A/6JAAAAAElFTkSuQmCC") 9 / 9px / 0 stretch; border-style: none; border-width: 9px; box-sizing: border-box; display: inline-block; height: auto; margin: 10px auto; max-width: 100%; padding: 8px; position: relative;" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="font-size: 11.2px;">Enchente muito grande envolve a casa e expulsa os moradores.<br />Visão frequente este ano</td></tr></tbody></table><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">O ataque das piranhas que mutilam as tetas das vacas é atenuado com a colocação de “corpetes”, espécie de soutiens que os ribeirinhos instalam sobre as mamas dos animais. Em Fátima do Urucurituba, nesta cheia, há notícia de que os jacarés já abocanharam sete patos.</div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">Jucirene tem 20 anos e estudou até a quarta série do primeiro grau em Fátima. É filha de Elza e Maturino. Mora na várzea e gosta do lugar. “O que é bom aqui é o silêncio e o ar, que ainda é puro” diz ela. Namorar? “Só mesmo quando o rio baixa”, quando há festas e jogo de futebol. Vez por outra ela vai a Santarém passear.</div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-bottom: 0.5em; margin-left: auto; margin-right: auto; padding: 4px; text-align: center;"><tbody><tr><td><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKB5l3HABD227626FWirmpKaI7JUO3Po_Sii51KZdpOtMkcQIZOWWsFqh7rZNMJ2kQWNH92wsUqYnBjH4TZiwaw8bKNVtmJ4OuWqqg-src234Fe2G26M0tZWg39_Hwy4sdQN_V1n_vQvBN/s1600/DSC06957.JPG" style="color: #009eb8; display: inline; margin-left: auto; margin-right: auto; outline: none; text-decoration-line: none; transition: color 0.3s ease 0s;"><img border="0" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKB5l3HABD227626FWirmpKaI7JUO3Po_Sii51KZdpOtMkcQIZOWWsFqh7rZNMJ2kQWNH92wsUqYnBjH4TZiwaw8bKNVtmJ4OuWqqg-src234Fe2G26M0tZWg39_Hwy4sdQN_V1n_vQvBN/s1600/DSC06957.JPG" style="-webkit-border-image: url("data:image/png;base64,iVBORw0KGgoAAAANSUhEUgAAABQAAAAUCAMAAAC6V+0/AAAAOVBMVEUAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAD///+8yHYvAAAAEnRSTlMAAgEDBAUJBwYzCw0UChARDghnBteEAAAAhElEQVR4XnWRSxJDIQgEEx1Axd/L/Q8bKCuuyOzsohHxdZLS25LSOV2ULQdflgEiIDu9KqiIFILXXpeEx2ChXwdnKNxUGxc4dZbNfXjPufkp5H0Nwtymq/dltUIweNy9qmXt08EgydDZ6+dT+9Qh9AeGenhROFI0fPjMaCHx6uIlh9/xBSJuB3l0A/6JAAAAAElFTkSuQmCC") 9 fill / 9px stretch; border-color: initial; border-image-outset: 0; border-image-repeat: stretch; border-image-slice: 9; border-image-width: 9px; border-image: url("data:image/png;base64,iVBORw0KGgoAAAANSUhEUgAAABQAAAAUCAMAAAC6V+0/AAAAOVBMVEUAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAD///+8yHYvAAAAEnRSTlMAAgEDBAUJBwYzCw0UChARDghnBteEAAAAhElEQVR4XnWRSxJDIQgEEx1Axd/L/Q8bKCuuyOzsohHxdZLS25LSOV2ULQdflgEiIDu9KqiIFILXXpeEx2ChXwdnKNxUGxc4dZbNfXjPufkp5H0Nwtymq/dltUIweNy9qmXt08EgydDZ6+dT+9Qh9AeGenhROFI0fPjMaCHx6uIlh9/xBSJuB3l0A/6JAAAAAElFTkSuQmCC") 9 / 9px / 0 stretch; border-style: none; border-width: 9px; box-sizing: border-box; display: inline-block; height: auto; margin: 10px auto; max-width: 100%; padding: 8px; position: relative;" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="font-size: 11.2px;">O Igarapé-Açu com a sua beleza, o silêncio e ausência humana nesta temporada</td></tr></tbody></table><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">O casal de irmãos Domingas Costa Pinto, 72, e Joaquim, 71, aposentados rurais, moram com um filho solteiro de Domingas. Pela idade que têm, eles dizem já ter medo de morar dentro d’água por causa dos ataques das sucurijus e até pela eventual presença de ladrões, que lhes carregam as galinhas do garajau. “Mas na cidade os ladrões são mais perigosos”, lembra a mulher. Aos domingos eles se arrumam, pegam a canoa bem cuidada e saem para visitar parentes ou doentes. Remam como se fossem jovens, adentram capinzais inundados, fazendo da exuberância de tanta água e tanto verde o seu habitat sem mistérios.</div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">O silêncio do dia e a escuridão das noites mornas são quebrados pelo som do rádio, permanentemente ligado. Ouvem música e prestam atenção aos programas de “avisos para o interior”, à espera do recado de algum parente que foi à cidade.</div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-bottom: 0.5em; margin-left: auto; margin-right: auto; padding: 4px; text-align: center;"><tbody><tr><td><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8fUHCvZ8PT1oavF0eVYUk5-rq4cemTS8EMLS59pQaVWstXMGA-5b2LkkvL73AGBsm1Hq-idY4q1x_QGxMhslmC6RfaW52OJyLloQRfOsGYQ2E2llEHT5c651yKM8Mjz2KVGsY1eojJd35/s1600/DSC06962.JPG" style="color: #009eb8; display: inline; margin-left: auto; margin-right: auto; outline: none; text-decoration-line: none; transition: color 0.3s ease 0s;"><img border="0" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8fUHCvZ8PT1oavF0eVYUk5-rq4cemTS8EMLS59pQaVWstXMGA-5b2LkkvL73AGBsm1Hq-idY4q1x_QGxMhslmC6RfaW52OJyLloQRfOsGYQ2E2llEHT5c651yKM8Mjz2KVGsY1eojJd35/s1600/DSC06962.JPG" style="-webkit-border-image: url("data:image/png;base64,iVBORw0KGgoAAAANSUhEUgAAABQAAAAUCAMAAAC6V+0/AAAAOVBMVEUAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAD///+8yHYvAAAAEnRSTlMAAgEDBAUJBwYzCw0UChARDghnBteEAAAAhElEQVR4XnWRSxJDIQgEEx1Axd/L/Q8bKCuuyOzsohHxdZLS25LSOV2ULQdflgEiIDu9KqiIFILXXpeEx2ChXwdnKNxUGxc4dZbNfXjPufkp5H0Nwtymq/dltUIweNy9qmXt08EgydDZ6+dT+9Qh9AeGenhROFI0fPjMaCHx6uIlh9/xBSJuB3l0A/6JAAAAAElFTkSuQmCC") 9 fill / 9px stretch; border-color: initial; border-image-outset: 0; border-image-repeat: stretch; border-image-slice: 9; border-image-width: 9px; border-image: url("data:image/png;base64,iVBORw0KGgoAAAANSUhEUgAAABQAAAAUCAMAAAC6V+0/AAAAOVBMVEUAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAD///+8yHYvAAAAEnRSTlMAAgEDBAUJBwYzCw0UChARDghnBteEAAAAhElEQVR4XnWRSxJDIQgEEx1Axd/L/Q8bKCuuyOzsohHxdZLS25LSOV2ULQdflgEiIDu9KqiIFILXXpeEx2ChXwdnKNxUGxc4dZbNfXjPufkp5H0Nwtymq/dltUIweNy9qmXt08EgydDZ6+dT+9Qh9AeGenhROFI0fPjMaCHx6uIlh9/xBSJuB3l0A/6JAAAAAElFTkSuQmCC") 9 / 9px / 0 stretch; border-style: none; border-width: 9px; box-sizing: border-box; display: inline-block; height: auto; margin: 10px auto; max-width: 100%; padding: 8px; position: relative;" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="font-size: 11.2px;">A samaumeira espera os moradores retornarem dentro de mais uns dois meses. À direita, a escola municipal da vila de Igarapé-Açu</td></tr></tbody></table><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">Cego, com o ouvido colado ao rádio de pilha - eletricidade só no tempo da festa da padroeira, com um pequeno gerador - Manuel do Carmo, 56, casado com Maria Júlia, oito filhos, recorda: “Antigamente a gente vivia aqui da juta, da banana e da pesca: agora, só ficou a pesca. O bananal morreu em 1982, numa cheia muito grande e a juta perdeu preço. Mas até para pescar, agora é preciso ir muito longe. Aqui perto, em Monte Alegre, já proibiram a pescaria no Lago Grande”.</div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></div><b></b><br /><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><b>‘Flagelados’</b></div><b></b><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">Habitando terras e águas abençoadas, os varzeiros são mais esquecidos que os sem-terra e os povos indígenas. Organizações populares e de esquerda os desconhecem. Políticos e homens de governo lembram-se deles no tempo da cheia, quando penetram os igarapés para levar “donativos” aos “flagelados”. A Igreja Católica já tentou alfabetizá-los com escolas radiofônicas, mas, com programas de educação tipicamente urbana, terminou por despertar em muitos o desejo de viver na cidade. Seitas protestantes começam a proliferar sobre as palafitas.</div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">A Prefeitura de Santarém - um dos municípios do Baixo Amazonas com extensas áreas inundáveis - inicia um levantamento nos principais distritos com vistas a habilitar os ribeirinhos ao financiamento do Fundo Constitucional Norte (FNO). Os primeiros contatos são com o Serviço do Patrimônio da União (SPU), sob cuja jurisdição encontram-se as terras de várzea, na tentativa de encontrar uma saída legal para cadastrar lotes que passam metade do ano sob o rio Amazonas.</div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">A indefinição fundiária leva a frequentes conflitos durante a enchente quando fazendeiros impedem os ribeirinhos de pescar sobre “suas” terras. Entidades oficiais sabem que lá se encontra um imenso potencial de riqueza, mas não passam da retórica sobre coisas como a excelência do arroz de várzea, com o qual já se fez algumas experiências bem sucedidas. O cultivo da juta, fibra natural, não suportou a política de importações do Paquistão e a penetração das fibras sintéticas na produção de sacarias.</div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">A várzea, porém, não é perfeita e varia de região para região. No Amapá, por exemplo, a mega-experiência de cultivo de arroz irrigado, de Daniel Ludwig, fracassou, possivelmente por ser justamente “mega”, com implicações de mercado, como pela pobreza de enxofre verificada no solo daquelas paragens.</div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">Em 1976, o então ministro do Interior, Rangel Reis, disse, aqui no Pará: “O elenco de programas e projetos específicos, em plena execução, poderá transformar a enchente num instrumento do próprio desenvolvimento regional, como também num veículo propiciador de melhores condições de vida para o homem da várzea”.</div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">Na fala do ministro, as medidas oficiais redundariam “na revelação das potencialidades regionais, nas tendências de crescimento e organização espacial da economia, dando uma orientação segura para o poder público na montagem de planos básicos de desenvolvimento integrado”. A relação do palavrório com aparência de seriedade é longa.</div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">A realidade de hoje, no entanto, é a mesma de 1975 quando, no dia 21 de junho, um jornal de Belém registrou que “cada um dos quatro municípios do Baixo Amazonas em que foi decretado estado de calamidade pública vai receber, inicialmente, cinco toneladas de alimentos”. Hoje essa “ajuda” nem sequer se repete, até porque a imprensa já se cansou de repisar, todos os anos, a história do ciclo natural do Amazonas, repleto de vida, biodiversidade que salta aos olhos, abrigo de um povo corajoso e trabalhador, capaz de suportar e até de beneficiar-se de tamanha adversidade.</div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">Os esquecidos, mas relativamente saciados ribeirinhos, continuam a ser encarados como “flagelados”, como se a cheia do Amazonas fosse a mesma coisa que as corredeiras dos morros cariocas, que soterram casas e matam gente.</div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">Nem a ciência se dá conta do ritmo dessa página do Gênesis que está sendo escrita, como diria Euclydes da Cunha. Que órgão, que instituto está apto a fornecer um prognóstico confiável sobre se, em 1995, haverá cheia grande ou pequena? Aldo Arrais, poeta varzeiro de Alenquer, dá a resposta, refletindo a cultura cabocla: “Quem sabe se a água vai ser muita ou pouca é o carão cantando dobrado, formiga-de-fogo fazendo ninho nas touceiras de mata-pasto, arroz nativo florescendo cedo, mauari mudando de poleiro, saracura fazendo potes na voz”.</div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></div><b></b><br /><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><b>Pesquisa</b></div><b></b><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">O professor José Márcio Ayres, pesquisador do Museu Paraense Emílio Goeldi e da The Wildlife Conservation Society, publicou no ano passado um estudo pioneiro sobre as várzeas amazônicas, com base em estudos que realizou no Médio Solimões, sob o título “As matas de várzea do Mamirauá”.</div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">O pesquisador mostra que, anualmente enriquecidas pelos sedimentos deixados pelo Rio Amazonas, essas áreas são muito mais férteis que as terras firmes. Elas só encontram paralelo nas decantadas faixas de terra roxa paraenses existentes em alguns trechos do eixo da Transamazônica. Estes solos, porém, não são agraciados com a periódica fertilização natural das águas, exigindo corretivos.</div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">Como passam, em média, seis meses submersas, as várzeas são apropriadas para as culturas de ciclo curto, tradicionalmente praticadas pelos ribeirinhos. Sem assistência técnica ou creditícia, assim mesmo nas feiras da região é impressionante observar a qualidade dos produtos colhidos no verão, como é genericamente chamado o tempo da vazante. Com os nutrientes naturais carreados pelo rio, hortaliças e frutas apresentam excelente aspecto. A melancia e o melão de várzea são particularmente saborosos.</div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">Estudos técnicos incluídos no livro de José Márcio Ayres indicam que as terras fertilizadas pelo Amazonas têm, em média, 6,4 vezes mais sódio do que as terras altas da região. As várzeas são 3,6 vezes mais ricas em potássio, 10 vezes mais em cálcio e 45,5 vezes mais em magnésio.</div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">A excelência desse solo, no estudo apresentado pelo professor Ayres, em números absolutos, está na constatação de que a várzea classificada como pleistocênica tem 1.650 partes por milhão (ppm) de sódio, contra somente 160 ppm da terra firme classificada como de sedimento terciário. A várzea holocênica tem 17.800 ppm de potássio, contra apenas 700 ppm na terra firme classificada como escudo pré-cambriano. Apenas nestes exemplos, as variações indicam excelência muito superior do solo fertilizado gratuitamente pelo Rio Amazonas.</div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">Os solos inundáveis apresentam também teores significativos de elementos traços, ou elementos menores, com funções importantes no metabolismo das plantas, como o manganês, o cromo, o cobalto e o zinco. Somente as áreas periodicamente cobertas pelas águas barrentas do Amazonas (há outros tipos de várzeas) representam 3% do território amazônico, mas é nelas que está a maior porção de florestas inundáveis, com cerca de 200 mil quilômetros quadrados (20.6.1994).</div></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><i>Obs: O pesquisador José Márcio Ayres, citado no texto, faleceu alguns anos após esta reportagem.</i></div></div><div class="article-footer" style="clear: both; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: center;"><span class="share-facebook delay" data-count="" data-layout="" data-text="Rostos da cheia e improvisação - a pobreza sobre a riqueza das várzeas amazônicas" data-url="http://blogmanueldutra.blogspot.com/2014/05/rostos-da-cheia-e-improvisacao-pobreza.html" style="background-position: 0% 50%; background-repeat: no-repeat; display: inline-block; height: 20px; margin: 0px; transition: width 0.3s ease 0s; width: 90px;"><iframe allowtransparency="true" frameborder="0" scrolling="no" src="http://www.facebook.com/plugins/like.php?href=http%3A%2F%2Fblogmanueldutra.blogspot.com%2F2014%2F05%2Frostos-da-cheia-e-improvisacao-pobreza.html&send=false&layout=button_count&action=like&show_faces=false&colorscheme=light" style="height: 20px !important;"></iframe></span><div class="publish-info" style="color: grey; margin: 0px; outline: none; padding: 5px 0px;">Postado há <abbr class="time published" itemprop="datePublished" style="border: none; color: #333333; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-decoration-line: none; text-decoration-style: initial;" title="2014-05-27T20:11:00.000Z">27th May 2014</abbr> por <a class="url fn" href="http://www.blogger.com/profile/07384053619976412822" itemprop="author" rel="author" style="color: #009eb8; outline: none; text-decoration-line: none; transition: color 0.3s ease 0s;">Manuel Dutra</a></div><div class="share-controls delay" data-defer="" data-delay="1000" style="display: inline-block; margin: 10px 5px; outline: none; overflow: hidden; padding: 0px; white-space: nowrap;"><span class="share-twitter twitter-share-button delay" data-count="" data-href="http://twitter.com/share" data-size="" data-text="Rostos da cheia e improvisação - a pobreza sobre a riqueza das várzeas amazônicas" data-url="http://blogmanueldutra.blogspot.com/2014/05/rostos-da-cheia-e-improvisacao-pobreza.html" style="background-position: 0% 50%; background-repeat: no-repeat; display: inline-block; height: 20px; margin: 0px; transition: width 0.3s ease 0s; width: 110px;"><iframe allowtransparency="true" frameborder="0" scrolling="no" src="http://platform.twitter.com/widgets/tweet_button.html?url=http%3A%2F%2Fblogmanueldutra.blogspot.com%2F2014%2F05%2Frostos-da-cheia-e-improvisacao-pobreza.html&count=horizontal&text=Rostos%20da%20cheia%20e%20improvisa%C3%A7%C3%A3o%20-%20a%20pobreza%20sobre%20a%20riqueza%20das%20v%C3%A1rzeas%20amaz%C3%B4nicas&size=medium" style="height: 20px !important;"></iframe></span> </div></div>Manuel Dutrahttp://www.blogger.com/profile/07384053619976412822noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8700928726379055079.post-1152603443028960562021-07-20T18:01:00.000-03:002021-07-20T18:01:15.430-03:00Não tem outra saída: a solução está na rua<p><span style="font-size: 14pt; text-align: justify;">No próximo sábado, 24 de julho, o povo brasileiro organizado em
sindicatos, associações, coletivos, etc., voltará às ruas de todo o País para
dizer aos poderosos que não está satisfeito com as medidas que o governo está
adotando para governar o Brasil.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Os resultados do governo atual todos conhecemos, mas é
preciso voltar às ruas para expressar o descontentamento e deixar bem claro que
ninguém pode continuar sobrevivendo com a fome, continuar sem vacina contra a
covid19, sem emprego, com as empresas fechando as portas e meia de dúzia de
ricaços ficando cada diz mais ricos em detrimento da imensa maioria que não tem
café, nem almoço nem janta.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Precisamos retornar às ruas, em sinal de protesto, de modo
pacífico, uma vez que o povo brasileiro historicamente se mostra pacífico. O
importante é a firmeza política da manifestação, da posição política, a ação
coletiva e a persistência nas reivindicações. E agir maciçamente, milhões de
pessoas nas ruas, bradando que o que está sendo gestado em Brasília é contra o
povo, especialmente contra os pobres, os favelados, os miseráveis e os
desempregados.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Manifestar-se em
multidão nas ruas do País é um direito dos trabalhadores e de todo o povo. A
democracia se constrói de modo conjunto. Não podemos continuar esperando. A
democracia e o bem-estar social não pertencem a governo, mas pertencem a todos
os brasileiros. É por isso que precisamos deixar o comodismo de lado e partir
para a luta, sem provocações, tendo cuidado com a infiltração de
aproveitadores, que entram na manifestação para bagunçar, como se verificou em
SP na semana passada.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">O Brasil pertence a todos nós e é por isso que temos que
demonstrar publicamente que a democracia deve ser obra de todo o povo.
Manifestar-se publicamente é indispensável. Os protestos e as ações coletivas
deverão prosseguir nas ruas do país, até que os aproveitadores sejam expulsos
democraticamente dos instrumentos de poder.<o:p></o:p></span></p>Manuel Dutrahttp://www.blogger.com/profile/07384053619976412822noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8700928726379055079.post-63510146336160724072021-07-10T19:56:00.006-03:002021-07-16T19:36:17.137-03:00<span style="font-size: medium;">Povos “sem história”, entre a exuberância e a pequenez Por Manuel Dutra É
inaceitável que a Amazônia continue como prostíbulo à disposição de quem chega
para farrear, bem recebidos pelos cafetões locais. E quem já viveu o suficiente
sabe perfeitamente qual o futuro de todo lupanar. Ou ele é arrancado agora ou
será essa a herança para as futuras gerações, como nós outros a herdamos de
cafetões do passado. Fotos: MDutra Passarela rústica ligando barracos no Rio
Matapi, próximo ao Porto de Santana, Amapá Anos atrás, passando de barco pelo
município de Breves, no Arquipélago do Marajó, observei aquela já conhecida
situação de miséria que empurra milhares de mulheres e crianças a pedirem
esmolas aos passageiros das embarcações que por ali passam ou atracam. Do
trapiche da cidade pude perceber três sinais que petrificam a Amazônia no tempo:
na rua da frente, próximo ao rio, um restaurante mostrava uma grande placa com a
inscrição “Pizza delivery”, denotando a conexão simbólica entre o fundo do mundo
com as reluzentes ofertas do mundo globalizado. A pequenez, o desprezo pelo
homem amazônico, entre a exuberância da natureza e a pobreza Do outro lado do
rio, não muito largo para as dimensões amazônicas, duas grandes serrarias, numa
das quais encontrava-se um transatlântico inglês com bandeira panamenha
embarcando toneladas de madeira serrada. Entre as serrarias, o navio e a Pizza
delivery, centenas de minúsculas canoas com mulheres levando crianças ao colo ou
já na primeira fase da adolescência, com as mãos estendidas, pedindo comida,
roupas e o que mais fosse aos passageiros, alguns dos quais jogavam pacotes em
direção às canoas, muitas delas sob risco visível de naufragar. Bem próximo,
portos se atualizam para exportar grãos e minérios Aquela visão me fez lembrar
“os povos sem história” de que fala Eric Wolf em seu livro “Europa e la gente
sin história”, publicado em 1994. Me fez lembrar também nosso primeiro
historiador, Frei Vicente do Salvador que, no meado do século 17, referiu-se aos
habitantes locais, batizados de índios, como povos que não tinham história
porque não tinham a escrita, não se sabendo quem eram nem de onde tinham vindo.
Era a hipocrisia à quintessência de quem acabava de chegar. Os portugueses, os
adventícios, classificaram os povos que aqui estavam há milênios antes dos
europeus como gente que não se sabia de onde tinha vindo. Diz Frei Vicente que
apenas se observava que eram gente de cor baça e os homens não tinham barba.
Porto de Minério Deixando o século 17 de Frei Vicente, percebemos que no século
21 talvez o que tenha se transformado sejam tão somente as formas linguageiras
de classificação de realidades que persistem, inclusive as “realidades
inventadas” de que fala Wolf. É o que se pode deduzir da paisagem visível ao
longo do Rio Matapi, no Estado do Amapá, entre os municípios de Santana e
Mazagão. Nas proximidades do porto de Santana se vê, de um lado, o capital
apressado em modernizar e adaptar o antigo ancoradouro ali existente, por onde
saíram bilhões de toneladas de manganês para ao Estados Unidos, deixando como
produto local a imensa massa empobrecida e os enormes buracos existentes na
Serra do Navio. A partir de agora, tecnologicamente atualizado, o porto de
Santana servirá e já está servindo para a exportação volumosa de soja e milho
produzidos no Brasil Central, massa enorme de grãos que está também saindo pelos
portos de Barcarena, Santarém e Itaituba. Ao lado, outro porto para o escoamento
mineral se constrói. Porto de embarque de soja e milho para outros países Assim,
no Rio Matapi verifica-se a pequenez humana, espremida tanto pela exuberância
natural da Amazônia como pela crescente presença do capital nacional e
estrangeiro, com a disseminação de empresas de extração mineral, hidrelétricas,
estradas, portos como o do Lago Maicá, dentro da cidade de Santarém. Empresas ou
meros aventureiros dos tempos atuais, com o incentivo e apoio de autoridades
locais/regionais, pouco se importam com aquilo que se passou a chamar e
transformar em lei, isto é, o respeito à natureza e aos povos que
vivem/sobrevivem dentro dessa natureza, como os povos indígenas, os ribeirinhos
em geral e os agricultores familiares que vão sendo empurrados para as favelas
das cidades mais próximas, a fim de que a soja torne-se intocável, da mesma
forma como o dendê é o senhor que tudo determina no Nordeste e Sudeste paraense,
fazendo diminuir brutalmente as áreas dos roçados de mandioca, o que elevou os
preços da farinha como nunca. Ao mesmo tempo em que espalham a lamúria segundo a
qual a farinha ficou muito mais cara na região devido “à preguiça” dos
trabalhadores que recebem o Bolsa Família. O adolescente do interior da Amazônia
brinca na lama. Favela não urbana? Realidade inventada Andar pelo interior da
Amazônia é um convite a muitas formas de reflexão. Nestes dias, por exemplo, o
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o IPEA, publicou pesquisa referente ao
período 2000-2010, quando o Brasil diminuiu sensivelmente o índice de
vulnerabilidade social, o IVS. Esses resultados me fazem lembrar o que me disse
a pesquisadora Maria José de Araújo Lima, do Instituto de Ecologia Humana de
Recife, em entrevista que fiz para O Liberal no início dos anos 1990. Naquele
momento, ela mostrou-se preocupada com os rumos que a Amazônia estava tomando,
ao afirmar que, pelo que indicavam as evidências de então, a Amazônia ainda
poderia se tornar uma região mais pobre do que o Nordeste. A clarividência da
professora Maria José está agora nos resultados da pesquisa de IPEA, segundo a
qual, as cidades amazônicas estão bem mais pobres do que a maioria dos núcleos
nordestinos. É a região que apresentou, nos 10 anos estudados, o mais baixo
índice de evolução da qualidade de vida urbana. Se a pesquisa for ao imenso
interior, pouco haveria a destacar das condições dos velhos tempos dos
seringais, tal como nos conta Ferreira de Castro que, adolescente, foi mandado
para o fundo dos seringais do Acre, logo após chegar de Portugal a Belém. Seu
romance foi publicado em 1930, sob o título A Selva. Gente sem história ou
realidade inventada para justificar a dominação? Nesse mundão de águas e
florestas, vale a noção de “povos sem história” apontados por Wolf (1994, p.
464), para quem, a partir do século XV, a dispersão dos europeus, através dos
oceanos, conjuntou as “redes regionais pré-existentes” em uma orquestração
global e as submeteu a um ritmo de alcance mundial. Dessa forma, povos com
origens e modos de ser diversos “foram arrastados por essas forças para
atividades convergentes, ... levados a participar na construção de um mundo
comum”, pelo encontro de marinheiros mercantes europeus e soldados de várias
nacionalidades, mas também “povos naturais” da América, África e Ásia. Afirma o
autor que “nesse processo, as sociedades e culturas de todos esses povos
experimentaram transformações profundas, transformações que afetaram tanto os
povos considerados como portadores de história ‘real’ como também as populações
que os antropólogos chamaram de ‘primitivas’ e que, em geral, foram estudadas
como sobreviventes prístinos de um passado intemporal (idem, p. 465). Para Wolf,
a história desses povos “primitivos” também está constituída pelos processos
mundiais que a expansão europeia pôs em marcha, não sendo, pois “antecessores
contemporâneos”, nem “povos sem história, nem povos cujas histórias, usando a
expressão de Lévy-Strauss, permanecem congelados” no tempo (p. 465). No processo
de expansão europeia, diz Wolf (idem, p. 469), o controle da comunicação permite
aos administradores estabelecer as categorias por meio das quais se vai perceber
a realidade. E, de modo inverso, esse mesmo processo carrega em si a faculdade
de negar a existência de categorias outras, de remetê-las ao reino da desordem e
do caos, de torná-las social e simbolicamente invisíveis. Além disso, esse
processo de conjuntar povos portadores de história “real” e aqueles “sem
história” esforça-se por manter em seu lugar os significados assim gerados, isto
é, de que os “primitivos” não têm mesmo história “real”. Esses significados,
assim produzidos, constituem “proposições básicas sobre a natureza da realidade
inventada” (idem, p. 469). Embora subsista uma “realidade inventada” no sentido
de petrificar as noções de submissão “natural” dos povos dominados, há a
realidade afinal visualizada. No interior do Pará, por exemplo, assim como nas
chamadas periferias de suas cidades, de Belém, Santarém, Marabá, Ananindeua,
Castanhal, Juruti e todas as demais 136 sedes municipais, a pobreza e a desordem
social são a regra. Situação que se aprofunda e contra a qual muito pouco se tem
feito, a não ser quando testemunhamos grupos de trabalhadores sem terra e grupos
indígenas dando o exemplo aos “brancos” urbanos ou interioranos, de que é
inaceitável que a Amazônia continue como prostíbulo à disposição de quem chega
para farrear, bem recebidos pelos cafetões locais. E quem já viveu o suficiente
sabe perfeitamente qual o futuro de todo lupanar. Ou ele é arrancado agora ou
será essa a herança para as futuras gerações, como nós outros a herdamos dos
cafetões do passado. Postado há 3rd September 2015 por Manuel Dutra
</span><i><b><strike><blockquote></blockquote></strike></b></i>Manuel Dutrahttp://www.blogger.com/profile/07384053619976412822noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8700928726379055079.post-65418379822099598972021-07-05T15:40:00.001-03:002021-07-05T16:04:20.153-03:00No dia de hoje uma das 20 emissoras de rádio que estão transmitindo este programa está completando 57 anos no ar. Trata-se da Rádio Rural de Santarém, construída graças aos esforços do falecido bispo Dom Tiago Ryan junto a seus amigos no Brasil e nos Estados Unidos.
A emissora santarena surgiu com o objetivo de promover a educação para o meio rural, num trabalho próximo ao Movimento de Educação de Base, que foi fruto de um acordo entre a Conferência dos Bispos do Brasil e o Ministério da Educação, ainda no governo João Goulart, pouco antes do golpe militar de 1964.
Durante cerca de três décadas a Rádio Rural, juntamente com emissoras de Bragança, Parintins, Manaus, Tefé e vários outros municípios, cumpriu a sua missão, incentivando a alfabetização à distância, a ponto de que, no ano de 1969, as estatísticas indicavam que o município de Santarém tinha conseguido eliminar o analfabetismo em seu território. Coisa do passado, hoje o crescimento populacional trouxe os problemas educacionais de volta.
Por isso, e muito mais, a Rádio Rural é um patrimônio do povo de Santarém, e reafirmar isso neste momento é crucial, quando há pessoas interessadas em interferir na emissora, surgindo até a possibilidade de mudança de dono. A Rádio Rural é do povo de Santarém, apenas isso.
É preciso recordar o esforço de dom Tiago, junto a seu irmão nos Estados Unidos, um homem pobre que naquele momento trabalhava como distribuidor de refrigerantes. Foi esse homem que organizou um grupo de amigos em Chicago e compraram um dos transmissores que hoje ainda está em serviço. Por isso e muitas outras coisas, dom Tiago é hoje um homem injustiçado, pelo muito que fez por Santarém. Falecido há duas décadas, não obteve a graça de ter seu nome numa das ruas principais de Santarém, como acontece com outras pessoas que nem tanto fizeram pela cidade e o município.
Há a necessidade de grupos populares, sejam católicos ou não, se juntarem para reorganizar a Rádio Rural, impedindo que ela vire poeira, depois do enorme serviço que prestou a tanta gente no Oeste do Pará
Manuel Dutrahttp://www.blogger.com/profile/07384053619976412822noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8700928726379055079.post-76273646112216485502021-06-15T20:13:00.000-03:002021-06-15T20:13:30.251-03:0045 anos com a notícia na cabeça<p><span style="color: #2b00fe; font-size: medium;"><i><b>Onde está o Ofir? </b></i></span></p><p><span style="color: #2b00fe; font-size: medium;"><i><b>Entrevista que fiz com Ofir Nascimento Carrera, em 18 de março de 2013, quando ele era o mais antigo jornaleiro de Belém a circular todos os dias com o pacote sobre a cabeça. Se vivo está, Ofir estaria hoje com 79 anos. Nunca mais ouvi falar dele. Se você tiver informação sobre ele, me passe uma mensagem aqui nesta página do meu blog.</b></i></span></p><p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="font-size: 14px; margin-bottom: 0.5em; margin-left: auto; margin-right: auto; padding: 4px; text-align: center;"><tbody><tr><td><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjsDbtRwwFqvlqMFeVE-osLAesv3u0ykn04hRCwU5XcUOJfhctSe7nzbeMpQ10Eq4Ys59Nc8RB5tz7YxzngfdSUXWQ9e3kSCUS803Z1RSXneaTuq7QYm6I4Ko2pG2iPIK5JBu_e1H8UkEQ/s1600/DSC05382.JPG" style="color: #009eb8; display: inline; margin-left: auto; margin-right: auto; outline: none; text-decoration-line: none; transition: color 0.3s ease 0s;"><img border="0" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjsDbtRwwFqvlqMFeVE-osLAesv3u0ykn04hRCwU5XcUOJfhctSe7nzbeMpQ10Eq4Ys59Nc8RB5tz7YxzngfdSUXWQ9e3kSCUS803Z1RSXneaTuq7QYm6I4Ko2pG2iPIK5JBu_e1H8UkEQ/s400/DSC05382.JPG" style="-webkit-border-image: url("data:image/png;base64,iVBORw0KGgoAAAANSUhEUgAAABQAAAAUCAMAAAC6V+0/AAAAOVBMVEUAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAD///+8yHYvAAAAEnRSTlMAAgEDBAUJBwYzCw0UChARDghnBteEAAAAhElEQVR4XnWRSxJDIQgEEx1Axd/L/Q8bKCuuyOzsohHxdZLS25LSOV2ULQdflgEiIDu9KqiIFILXXpeEx2ChXwdnKNxUGxc4dZbNfXjPufkp5H0Nwtymq/dltUIweNy9qmXt08EgydDZ6+dT+9Qh9AeGenhROFI0fPjMaCHx6uIlh9/xBSJuB3l0A/6JAAAAAElFTkSuQmCC") 9 fill / 9px stretch; border-color: initial; border-image-outset: 0; border-image-repeat: stretch; border-image-slice: 9; border-image-width: 9px; border-image: url("data:image/png;base64,iVBORw0KGgoAAAANSUhEUgAAABQAAAAUCAMAAAC6V+0/AAAAOVBMVEUAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAD///+8yHYvAAAAEnRSTlMAAgEDBAUJBwYzCw0UChARDghnBteEAAAAhElEQVR4XnWRSxJDIQgEEx1Axd/L/Q8bKCuuyOzsohHxdZLS25LSOV2ULQdflgEiIDu9KqiIFILXXpeEx2ChXwdnKNxUGxc4dZbNfXjPufkp5H0Nwtymq/dltUIweNy9qmXt08EgydDZ6+dT+9Qh9AeGenhROFI0fPjMaCHx6uIlh9/xBSJuB3l0A/6JAAAAAElFTkSuQmCC") 9 / 9px / 0 stretch; border-style: none; border-width: 9px; box-sizing: border-box; display: inline-block; height: auto; margin: 10px auto; max-width: 100%; padding: 8px; position: relative;" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="font-size: 11.2px;"><span style="font-size: x-small;">Ofir, há quase meio século transportando as notícias que não lê (</span><b style="color: #333333; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: x-small; text-align: start;">Foto: MD)</b></td></tr></tbody></table><span style="color: #2b00fe; font-size: medium;"><i style="color: blue; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: medium;"><span style="font-size: medium;">Indiferente à internet, que vai fazendo o papel diminuir como suporte da notícia, Ofir Nascimento Carrera, de 71 anos, sai de casa todos os dias às 4 e meia da manhã em direção ao centro de Belém para cumprir a rotina que começou em 1968: distribuir jornais a assinantes ou vendê-los em avulso. </span></i></span></p><div class="article-header" style="display: table; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: center; width: 750px;"><h1 class="title entry-title" itemprop="name" style="color: #333333; display: table-cell; font-weight: normal; margin: 0px; padding: 0px 40px 0px 0px; position: relative; vertical-align: middle; width: 670px;">........................................................<br />........................................................<br />........................................................</h1></div><div class="article-content entry-content" itemprop="articleBody" style="clear: both; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; line-height: 1.4; margin: 10px auto 5px; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; font-size: 14px; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: center;"><br /></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-size: medium;">Por MDutra</span></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-size: medium;">Aos 15 anos ele deixou a labuta do roçado no município de Igarapé-Açu, distante 120 km de Belém. De início, trabalhou como ajudante de pedreiro. Naqueles tempos, ainda jovem, fazia força carregando pedra e massa. Hoje, logo cedo, Ofir sai pelas ruas levando cerca de 40 quilos de papel na cabeça, volume que vai decrescendo conforme bate à porta de velhos assinantes. “Eu vendi desde a Folha do Norte, A Província do Pará, o Estado do Pará, O Liberal antes dos Maiorana (jornais já inexistentes) e hoje vendo O Liberal, o Amazônia e o Diário”, lembra. </span></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-size: medium;">Ele é o mais antigo e mais idoso jornaleiro de Belém. Diz que até agora a idade não o impede de trabalhar e até acha que, de tanto caminhar (cerca de 5 km por dia) as doenças passam longe, dado o constante exercício físico. Mas aos domingos já precisa da ajuda de um neto para não atrasar as entregas, mais volumosas. Lembra de muitos nomes de assinantes e diz que a família Burlamaqui é uma das mais antigas compradoras dos jornais que entrega. </span></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-size: medium;">Bisneto de índios, Ofir é casado com dona Maria de Nazaré, com quem tem 4 filhos. Mora no bairro de Águas Lindas, em Ananindeua, município geminado à capital. Com a venda de jornais construiu uma boa casa, de dois pavimentos, onde a família dispõe do conforto necessário. </span></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-size: medium;">Como todos os domingos, ontem ao meio-dia Ofir ainda esperava completar a cota habitual nos últimos meses, ou seja, vender e entregar 370 exemplares, sendo em média 200 O Liberal, 140 Diário do Pará e 30 Amazônia. Nos dias de semana o volume decai para 70 O Liberal, 60 Diário do Pará e 20 Amazônia. </span></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-size: medium;">Ele caminha com sua mercadoria na cabeça pelos bairros centrais de Belém, como Batista Campos, Nazaré e Umarizal, áreas onde residem famílias de alto poder de compra, notadamente nas avenidas Serzedelo Correa, Generalíssimo Deodoro e Mundurucus. </span></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-size: medium;">O jornaleiro Ofir informa que não lê os jornais que carrega pelas ruas. Quando chega em casa, ao final da jornada, quer apenas descansar e, eventualmente, assistir a uma partida de futebol ou a um noticiário na TV. Não soube dizer se veria esta notícia, aqui no blog, pois nada entende de computador, objeto que não possui em casa. Iria falar a um neto para encontrar a matéria. </span></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-size: medium;">Dadas as transformações tecnológicas na produção e na distribuição de notícias, fica difícil prever até quando o mais antigo jornaleiro de Belém caminhará da forma como faz há quase meio século. Os seus 71 anos de idade parecem não retirar a expectativa de muitos anos de trabalho ainda. Resta saber se, no correr dos anos, ainda haverá notícias em papel para venda nas ruas, ao menos no volume e na forma como ainda persiste. Um dado importante é que o papelório noticioso é cada vez mais reduzido. Uma redução que, em Belém, precisa ser estudada: será o assédio dos novos fluxos tecnológicos ou os jornais estão, mesmo, ficando cada vez mais pobres?</span></div></div><div class="article-footer" style="clear: both; font-family: "Helvetica Neue Light", HelveticaNeue-Light, "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: center;"><div class="publish-info" style="color: grey; margin: 0px; outline: none; padding: 5px 0px;"><span style="font-size: medium;">Postado há <abbr class="time published" itemprop="datePublished" style="border: none; color: #333333; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-decoration-line: none; text-decoration-style: initial;" title="2013-03-18T10:33:00.000Z">18th March 2013</abbr> por <a class="url fn" href="http://www.blogger.com/profile/07384053619976412822" itemprop="author" rel="author" style="color: #009eb8; outline: none; text-decoration-line: none; transition: color 0.3s ease 0s;">Manuel Dutra</a></span></div><div class="share-controls delay" data-defer="" data-delay="1000" style="display: inline-block; margin: 10px 5px; outline: none; overflow: hidden; padding: 0px; white-space: nowrap;"><span class="share-twitter twitter-share-button delay" data-count="" data-href="http://twitter.com/share" data-size="" data-text="45 anos com a notícia na cabeça " data-url="http://blogmanueldutra.blogspot.com/2013/03/45-anos-com-noticia-na-cabeca.html" style="background-position: 0% 50%; background-repeat: no-repeat; display: inline-block; height: 20px; margin: 0px; transition: width 0.3s ease 0s; width: 110px;"><iframe allowtransparency="true" frameborder="0" scrolling="no" src="http://platform.twitter.com/widgets/tweet_button.html?url=http%3A%2F%2Fblogmanueldutra.blogspot.com%2F2013%2F03%2F45-anos-com-noticia-na-cabeca.html&count=horizontal&text=45%20anos%20com%20a%20not%C3%ADcia%20na%20cabe%C3%A7a%20&size=medium" style="height: 20px !important;"></iframe></span> <span class="share-facebook delay" data-count="" data-layout="" data-text="45 anos com a notícia na cabeça " data-url="http://blogmanueldutra.blogspot.com/2013/03/45-anos-com-noticia-na-cabeca.html" style="background-position: 0% 50%; background-repeat: no-repeat; display: inline-block; height: 20px; margin: 0px; transition: width 0.3s ease 0s; width: 90px;"><iframe allowtransparency="true" frameborder="0" scrolling="no" src="http://www.facebook.com/plugins/like.php?href=http%3A%2F%2Fblogmanueldutra.blogspot.com%2F2013%2F03%2F45-anos-com-noticia-na-cabeca.html&send=false&layout=button_count&action=like&show_faces=false&colorscheme=light" style="height: 20px !important;"></iframe></span></div></div>Manuel Dutrahttp://www.blogger.com/profile/07384053619976412822noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8700928726379055079.post-8128262509104602672021-05-22T10:19:00.000-03:002021-05-22T10:19:04.606-03:00 Abandonados como o seringal<p><span style="font-size: 18pt; text-align: justify;"><i>Instigado pela coluna do Oti Santos sobre eventos históricos do Pará, especialmente da região Oeste, decidi rever esta reportagem 38 anos depois que foi publicada numa página inteira de O Liberal, onde então eu trabalhava.</i></span></p><p><span style="font-size: 18pt; text-align: justify;"><i>O título era esse mesmo aí de cima: "Abandonados como o seringal", em que eu procurei demonstrar a permanência de uma realidade tão antiga quanto a dos meus avós e de milhares de outros homens e mulheres que vieram do Nordeste para o mundo distante da extração do látex e produção primária da borracha.</i></span></p><p><span style="font-size: 18pt; text-align: justify;">A seguir, a reportagem em seu texto integral:</span></p><p><span style="font-size: 18pt; text-align: justify;">..............................................................................................</span></p><p><span style="font-size: 18pt; text-align: justify;"> </span><i style="font-size: 18pt; text-align: justify;">“...Aos
anônimos desbravadores, gente humilde, gente sem crônica definitiva, que à
extração da borracha entrega a sua fome, a sua liberdade e a sua existência.
(...) Este livro, que é um curto capítulo da obra que há de registrar o
sofrimento dos humildes através dos séculos, em busca de pão e de justiça” (Ferreira de Castro, no Pórtico de sua obra-prima “A Selva”).</i><span style="font-size: 18pt; text-align: justify;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 18.0pt;"><o:p></o:p></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtiyJCzO9yHIM4KywUx_dEBKBaU5xmJZoKM8pSK-10hklZgFb84UyK9vr2c_IetyENee26LeP4FPZXGkw0V6rZtNKeNCM2ejGL4t8rSDlgp53ZZmdmN9CY0XDauA-HFmKUIyOGPZLksOQU/" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="416" data-original-width="610" height="306" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtiyJCzO9yHIM4KywUx_dEBKBaU5xmJZoKM8pSK-10hklZgFb84UyK9vr2c_IetyENee26LeP4FPZXGkw0V6rZtNKeNCM2ejGL4t8rSDlgp53ZZmdmN9CY0XDauA-HFmKUIyOGPZLksOQU/w526-h306/image.png" width="526" /></a></div><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 18.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Mãos deformadas pelos calos que
sustentam a faca que sulca dia após dia o tronco da seringueira, o vestido roto
e quase confundindo-se com uma manta de cernambi, as pernas cansadas de varar
mata adentro e mata afora, numa rotina que já dura 32 anos, todo um passado e
nenhum futuro, Alzira Paulino do Nascimento, ou Alzira Balão, não é uma
personagem do romance de José Maria Ferreira de Castro, escrito a partir das
imagens que ele, adolescente, gravou nos confins da Amazônia nos primeiros dias
deste século.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 18.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Alzira mora em Belterra e ainda hoje
carrega seus apetrechos e sua velhice, sugando as ralas gotas de um seringal
tão abandonado quanto ela própria. Se não é uma personagem do romance,
confunde-se plenamente com o seringueiro do romancista, tristemente comprovando
que, do começo ao fim do presente século, os humildes continuam sem pão e sem
justiça. Lá, como hoje, seu destino é comum e só há a certeza da miséria e do
abandono.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRURukGFgzc4FO-tCkHp0qBsbCJcMF_uVUsINxQvp_WfMeRV2wZlZl-uCdYDWiYz5erJr7RIiRs8LmMy1GWpI8hSSr5be3CVUnGegwhpAqlkoAfNJj_yJHpGDCqPtT0haWWZyKmZygM2Uf/" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="340" data-original-width="512" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRURukGFgzc4FO-tCkHp0qBsbCJcMF_uVUsINxQvp_WfMeRV2wZlZl-uCdYDWiYz5erJr7RIiRs8LmMy1GWpI8hSSr5be3CVUnGegwhpAqlkoAfNJj_yJHpGDCqPtT0haWWZyKmZygM2Uf/w400-h266/image.png" width="400" /></a></div><span style="font-size: 18.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> C</span></span><span style="font-size: 18pt;">omo Alzira, Maria Guimarães Pereira dos
Santos foi admitida como cortadora de seringueira em 1951. Maria José Almeida,
em 1957, Raimundo Gomes Moreira em 1956. Como esses quatro veteranos, outros
243 cortadores de seringa trabalham em Belterra, para o Ministério da
Agricultura, sem contrato assinado, sem direito trabalhista.</span><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 18.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Raimundo Pereira Marques, 62 anos, e sua
mulher Antônia de Lima Marques, de 42, estão com um dos seis filhos doente e,
numa consulta, o médico falou que é preciso uma operação. A cirurgia custa dez
mil cruzeiros. Por isso o casal se embrenha, a partir das quatro e meia da
manhã, nas matas da Estrada Dez, com alguns dos filhos. Às seis da manhã eles
já rasparam 40 árvores e o leite já escorre através de uma bica improvisada com
uma folha seca, caindo dentro de uma tigela presa ao tronco da seringueira por
uma forquilha de pau seco.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 18.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>“Esse trabalho todo - diz Antônia - é
para ver se a gente consegue uns 16 mil cruzeiros no fim do mês”. Na folha de
pagamento, fechada no dia 15 de maio, pode-se observar um felizardo com uma
retirada de 87 mil cruzeiros, só que lá não está explicitado se o cortador
levou para o seringal a mulher e todos os filhos e que o trabalho começou muito
antes de o sol nascer. Também não diz que aquela família teve a sorte de cortar
numa área de seringueiras novas, como na altura da estação nº 3, aliás o único
local com árvores novas, dentre as 12 estações coletoras de Belterra.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 18.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span><span style="font-size: 18pt;"> </span><b style="font-size: 18pt;">Trabalho
familiar</b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 18.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span><span style="font-size: 18pt;"> </span><span style="font-size: 18pt;">Na folha de pagamento pode-se ainda ver
um que retirou 78 mil cruzeiros, outro, 44 mil. Mas há disparates como o fato
de muitos somente receberem 13 mil, 10 mil, 7 mil, 6 mil e até 3 mil cruzeiros
por mês. Se, para os fiscais e funcionários da administração, isso pode ser
qualificado como “preguiça”, vê-se claramente que, quando se trata de trabalho
solitário, nos casos em que somente o pai, ou a mãe, ou um irmão mais velho
pode cortar a seringa, a produção cai brutalmente. E essa é a remuneração média
de cada indivíduo, com a agravante ou a atenuante de ele conseguir uma área
onde as seringueiras estejam em melhor estado ou imprestáveis como a quase
totalidade do outrora exuberante seringal de Belterra.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 18.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Antes do meio-dia, os cortadores chegam,
cada grupo, à sua estação coletora. Ali, o leite vai ser classificado e feitas
as anotações na ficha de cada trabalhador, de acordo com a tabela fornecida
periodicamente pela Delegacia Estadual do Ministério da Agricultura - DEMA.
Essa classificação vai de 10 graus até 45 graus e o preço pago por cada grau de
látex natural está tabelado em Cr$ 230,00. Como a classificação média varia
entre 30 e 35 graus, o preço por quilo varia entre Cr$ 69,00 e Cr$ 80,50. Sendo
de cinco a seis quilos a média diária de cada trabalhador (raramente, sozinho,
quase sempre com familiares) a remuneração por uma jornada está entre Cr$
414,00 e Cr$ 483,00<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 18.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Deve-se levar em conta, no cálculo da
retirada mensal de cada trabalhador-família, que não se pode multiplicar a
média da remuneração diária simplesmente por 30 dias, uma vez que, sem contrato
de trabalho e sem os direitos normais previstos na lei, ele somente recebe pelo
que produz, vale dizer, faltas por doenças ou uma forte chuva impedirão o
cortador de ganhar. Estranhamente chamados de “arrendatários”, eles
funcionariam como trabalhadores autônomos dentro de uma propriedade, sendo que,
no caso, o proprietário é o governo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 18.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A retirada mensal pode subir um pouco
com alguns quilos de cernambi que eles arrancam dos troncos das árvores, dos
sulcos antigos por onde correu o látex. Para esse subproduto, o preço
estipulado é de Cr$ 158,00 o quilo. Esse mesmo cernambi, chamado em rama ou a
granel, é revendido pela “Companhia” (nome como é conhecida a administração de
Belterra, herança dos tempos da Companhia Ford Industrial)<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>a firmas particulares, sem qualquer forma de
beneficiamento, ao preço de Cr$ 430,98, isto é, com o lucro bruto de 170%, sem
ônus de entrega. O chamado cernambi virgem prensado, com um mínimo de
beneficiamento, salta para Cr$ 590,70. E o látex centrifugado (com a retirada
de um pouco da água natural do produto) é repassado aos particulares a Cr$
568,70 o quilo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 18pt;"> </span><b style="font-size: 18pt;">Borracha
desviada</b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 18pt;"> </span><span style="font-size: 18pt;">Os desvios de pequena parte da produção
são frequentes, levados a efeito por trabalhadores mais afoitos, visivelmente
premidos pela virtual impossibilidade de sobreviver do trabalho honesto,
honestidade que, de resto, não existe da parte do patrão para com seus
empregados. Há poucas semanas três deles foram presos por venderem cernambi nos
barcos que descem o rio Tapajós rumo a Santarém. Os barqueiros compram o
produto ao preço médio de 350 cruzeiros, podendo chegar até 400 cruzeiros,
dependendo da qualidade do produto. Esse preço vigora entre os compradores
particulares de Santarém.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 18.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Assim, pagando com uma inexplicável
diferença de 200 cruzeiros a “Companhia”, na prática, estimula o desvio.
Gravíssimo também é o pagamento do látex natural, cotado em Belterra, ao
cortador, a 2 cruzeiros e 30 centavos o grau, quando o preço mínimo estipulado
pela Sudhevea é de 12 cruzeiros, havendo compradores que pagam até 12,50
cruzeiros, hoje, na praça de Santarém. “Muita gente diz que há desvio de
produção, mas a gente não vê”, diz o administrador de Belterra, Base Física do
Ministério da Agricultura, Francisco Antônio das Chagas, remetendo todos os
problemas dos cortadores de seringa, também chamados de “safristas”, aos idos de
1954, quando da gerência do Instituto Agronômico do Norte - IAN.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 18.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Hoje, as atividades de pesquisa estão
muito reduzidas e o que há é um forte comércio baseado nas mal calculadas 500
mil seringueiras ainda aptas, a quase totalidade delas exauridas, parte de uma
plantação não renovada, a não ser em pequena escala, num trabalho mais recente,
hoje ao encargo da Embrapa. É exatamente aqui que 18 felizardos cortadores
ganham um pouco melhor com árvores novas. Além do látex e do cernambi, há
também o comércio dos citros e dos clones.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 18.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Há um mês esteve em Belterra o
engenheiro químico Jack Zilles, norte-americano que foi chefe de campo na época
da Companhia Ford Industrial e foi o responsável pela plantação de vastas áreas
de seringais. Há 39 anos ele não via suas árvores e, a diferença mais marcante
que viu na região, na entrevista que deu ao jornal “Sarasota Herald Tribune”,
ao retornar aos Estados Unidos, foi a de ter chegado aqui, em 1931, a bordo de
um avião monomotor com capacidade para seis passageiros, e desta vez, ter
chegado ao interior da Amazônia num Boeing 737. Quanto aos seringais, mostrou
até certo otimismo pelo fato de as árvores não haverem morrido todas, sufocadas
pela densa mataria que cresceu em meio à plantação, uma paisagem bem diferente
do tempo em que foram ali deixados 3 milhões e 500 mil árvores novas e bem
cuidadas nos 7 mil hectares de área plantada. Jack Zilles advoga a entrega de
Belterra à Goodyear, mas há também informações, seguras, de que a Pirelli está
interessada na herança de Ford, já tendo até mandado um técnico observar
extra-oficialmente a área de Belterra.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 18.0pt;"><o:p> </o:p></span><span style="font-size: 18pt;"> </span><span style="font-size: 18pt;">C</span><b style="font-size: 18pt;">ansaço</b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 18.0pt;"><o:p> </o:p></span><span style="font-size: 18pt;"> </span><span style="font-size: 18pt;">Em alguns meios técnicos comenta-se,
embora com reservas, que a idéia em certos setores do Ministério da Agricultura
é “matar Belterra pelo cansaço”, expressão que seria mais apropriada se se
referisse aos trabalhadores de Belterra. Quando o cansaço se tornar
insuportável, acreditam alguns, entrará em cena uma empresa privada, com forte
chance de ser uma multinacional, tal como falou o velho chefe de campo que esteve
aqui há um mês, para sugerir a presença da Goodyear. Teria Mr. Zilles retornado
a Belterra apenas numa viagem sentimental?</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 18.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Dados de uma fonte que preferiu o
anonimato indicam que, de uma pesquisa executada em 1981, chegou-se à
informação de que atualmente existem em torno de 100 mil seringueiras intocadas
na antiga “plantation”. Esse fato viria reforçar a tese do cansaço e essas
árvores não estariam apenas “abandonadas”, mas guardadas como reserva para
futuro aproveitamento pela empresa privada, a despeito dos prejuízos que isso
causa aos trabalhadores que hoje são obrigados a sulcar troncos exaustos, sobre
os quais não existe nenhum cuidado, haja vista a maior parte das árvores estar
cheia de nós, resultado de uma atividade predatória, que vai esterilizando as
seringueiras, centenas delas ainda novas, mas que já não produzem o leite como
seria de esperar caso houvesse racionalidade e a mínima preocupação
profissional ou científica.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 18.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Uma dúvida, com certeza, não existe,
para quem conhece um pouco de Belterra: trata-se de um excelente negócio, mesmo
hoje, com toda a carga de improvisações ali existente. E a dificuldade para que
o governo retire de seus ombros esse “peso”, em proveito de algum grupo
privado, estaria exatamente na dívida social bem representada pelos cortadores
da seringa, esses párias existentes ao lado dos 210 funcionários da
“Companhia”. Outros problemas estariam retardando uma “solução”, como a
presença de muitos outros moradores sem vínculos com a Ministério da
Agricultura, a ponto de estimar-se hoje a população local em 7 mil habitantes,
segundo informou o administrador Chagas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 18.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Os dados oficiais do mês de abril
mostram que foram vendidas, pela administração de Belterra, 40 toneladas de
cernambi, com uma receita de 30 milhões de cruzeiros. Esse dinheiro vai direto
aos cofres do Ministério da Agricultura. No período, a folha de pagamento dos
cortadores foi de 5 milhões e 300 mil cruzeiros. Para os responsáveis por essa
produção, o próprio administrador Chagas esboça uma sugestão: “Se poderia
começar por amparar os que têm mais de cinco anos de serviço, pelo menos uma
parte deles já teria direito à aposentadoria”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 18.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Os trabalhadores não têm sequer direito
ao Funrural, sob a alegação de que não há figura jurídica que os enquadre. Sem
direito a férias, dias remunerados, à assistência médica e a qualquer
benefício, somente do ano passado para cá começaram a ganhar o direito a uma
consulta médica e aos remédios da CEME.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 18.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Francisco Souza de Oliveira, 55 anos,
cortou seringa desde 1960. Em 1980 morreu, depois de uma operação de hérnia.
Hoje, a viúva Maria da Conceição sai de madrugada para as matas, deixando em
casa a filha mais velha, Eva Virgínia, de 15 anos, cuidando dos irmãos menores.
O popular Manoel Chumbinho, da estação da Estrada Oito, é considerado um
campeão. Com um filho menor, ele consegue a média diária de 15 quilos de látex
natural, ou Cr$ 1.207,50 numa jornada vitoriosa. E João Gileno da Silva, com
seus dois filhos, chega até os 25 quilos, na privilegiada estação nº 3, onde
são recolhidos por dia cerca de 500 quilos de látex e 100 quilos de cernambi,
com o trabalho de apenas 18 cortadores.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 18.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Mas há estações onde 40 cortadores mal
conseguem, juntos, retirar 300 quilos numa jornada. Todos eles concordam que
poderiam retirar mais se a “Companhia” fornecesse a faca, arame para as tigelas
e as bicas, tudo hoje improvisado com folhas secas e forquilhas de mato,
ensejando o desperdício. Na campanha eleitoral passada, muitas promessas foram
feitas aos párias de Belterra. E o governo sabe que, nas margens do Tapajós,
sob sua chancela, abrigam-se formas medievais de relacionamento no trabalho.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 18.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>(22.5.83) <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 18.0pt;">.............................................................</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 18.0pt;">P.S: Belterra foi elevada à condição de município em dezembro de 1995, quando desligou-se do Ministério da Agricultura.</span></p>Manuel Dutrahttp://www.blogger.com/profile/07384053619976412822noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8700928726379055079.post-59566216206960253512021-04-21T16:28:00.011-03:002021-04-24T11:29:29.855-03:00 No tempo em que a Amazônia criou asas<p><span style="background-color: white; color: #202124; font-family: "Times New Roman", serif; text-align: justify;"><span style="font-size: x-large;"><b>Asas de um rio: a saga dos Catalinas na Amazônia</b></span></span></p><p><span style="font-size: large;">Trata-se de um livro lançado há pouco, cujo autor é Octávio Pessôa, um intelectual, jornalista, advogado e professor, homem típico da Amazônia, nascido em Parintins e residente em Belém, com longa atuação da Universidade Federal do Pará e outras instituições. </span></p><p><span style="font-size: large;">É uma narrativa que romanceia a história do hidroavião Catalina, que ficou conhecido na região por Pata-Choca. Bom mesmo era assistir ao Catalina pousando nos rios, numa época em que as pistas de pouso eram coisas de cinema norte-americano.</span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: large;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFwXmpTh5p1xhsQ7okACXtt12IjA6lAx9r0ad1kmWVaLUA3dz_z_sv0-gMyS5KnVH0_19HqlUZ5DxWuFh-O4KDX_KqVjCHluSOn1uV8qsSkIV0b8PwMgjqGoY57Vy7iKziN_ku7TakA6Jy/" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="1825" data-original-width="1715" height="550" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFwXmpTh5p1xhsQ7okACXtt12IjA6lAx9r0ad1kmWVaLUA3dz_z_sv0-gMyS5KnVH0_19HqlUZ5DxWuFh-O4KDX_KqVjCHluSOn1uV8qsSkIV0b8PwMgjqGoY57Vy7iKziN_ku7TakA6Jy/w377-h550/image.png" width="377" /></a></span></div><p></p><p><span style="font-size: large;"><b>Fatos de que me lembro</b></span></p><p><span style="background-color: white; color: #202124; font-size: large; text-align: justify;">“A população atônita viu o avião sobrevoar a cidade com um
dos motores a incendiar-se”. Essa foi a manchete do jornal Folha do Norte, de
Belém-PA, do dia 11 de março de 1959. O fato noticiado foi o desastre com o
avião Catalina, da então Panair do Brasil, às 8h30 da manhã, na Baía de
Curralinho.</span></p>
<p style="background: white; margin-bottom: 7.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 7.5pt; text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><span style="background: white; color: #202124;">Como vítimas fatais foram encontrados os corpos </span><span style="background: white; color: #202124;">do m</span><span style="color: #7d7d7d;">ajor aviador Paulo Ribeiro, capitão aviador Rubens Rozsa e
mais dois militares da Força Aérea Florival Nery de Souza e Agnaldo Martins
Favacho. A perda do avião foi total. Tratava-se de um dos mais antigos aviões
de sua categoria a sobrevoar os rios e as florestas da Amazônia.</span><span style="color: #7d7d7d;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span><span style="font-size: large;"><span style="background: white; color: #5f6368; font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 107%;">A empresa Panair do Brasil</span><span style="background: white; color: #4d5156; font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 107%;"> S.A. foi uma das mais antigas companhias
aéreas brasileiras de transporte de passageiros. Foi criada em 1929 como
subsidiária de uma empresa norte-americana, a NYRBA. Suas atividades foram
encerradas em </span><span style="color: #70757a; font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 107%;">1965.</span></span><span style="color: #4d5156; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: x-large; line-height: 107%;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 3.75pt; text-align: justify; vertical-align: bottom;"><span style="color: #4d5156; font-family: "Times New Roman", serif;"><span style="font-size: large;"></span></span></p><table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidXoZl-3YASXYzNoE0e03zx50_gv7mi4trk4CEzGdfHgB9vFZrfZ6Tl1U-12qo1jnCoenlzcFNFPwhdidAUNIrxzUBSQLvacTga9qorSgNAj_sRbYAFN2hK1njLcWchNfS2fDvSZ9OhWZF/" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img alt="" data-original-height="350" data-original-width="885" height="254" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidXoZl-3YASXYzNoE0e03zx50_gv7mi4trk4CEzGdfHgB9vFZrfZ6Tl1U-12qo1jnCoenlzcFNFPwhdidAUNIrxzUBSQLvacTga9qorSgNAj_sRbYAFN2hK1njLcWchNfS2fDvSZ9OhWZF/w478-h254/image.png" width="478" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Panair do Brasil - catalinasnobrasil.com.br</td></tr></tbody></table><p></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 3.75pt; text-align: left; vertical-align: bottom;"><span style="color: #4d5156; font-family: "Times New Roman", serif;"><span style="font-size: large;">Foi também uma empresa pioneira no
transporte aéreo na Amazônia, especialmente utilizando os aviões que ficaram
famosos, os Catalina, aparelho desenhado e construído entre a primeira e a
segunda guerras, para uso militar. Inúmeros países adquiriram esse modelo,
especialmente depois de utilizados na guerra.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 3.75pt; text-align: justify; vertical-align: bottom;"><span style="font-size: large;"><span style="color: #4d5156; font-family: "Times New Roman", serif;">Foi também muito utilizado pela Força
Aérea Brasileira. </span><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; color: #202124; font-family: "Times New Roman", serif;">Com o aumento das incursões de submarinos alemães
e italianos nas costas brasileiras no início dos anos 1940, a recém-criada
Força Aérea Brasileira (FAB) deparou-se com o inconveniente de que não possuía
aeronaves para fazer frente a essa crescente ameaça. E naquele momento, aliados
das forças norte-americanas, as forças militares brasileiras lançaram mão dos
Catalinas.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 3.75pt; text-align: justify; vertical-align: bottom;"><span style="background: white; color: #202124; font-family: "Times New Roman", serif;"><span style="font-size: large;">Nos tempos
pioneiros, como relata o pesquisador Octávio Pessôa, por volta de 1930, os
aviões Catalina eram o único modelo empregado nas viagens aéreas sobre rios e
florestas da Amazônia, justamente por ser um avião que operava sobre as águas
dos rios e lagos. Como naquela época, na
Amazônia quase não havia pistas, aqueles aviões operavam quase todos n’água.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 3.75pt; text-align: justify; vertical-align: bottom;"><span style="background: white; color: #202124; font-family: "Times New Roman", serif;"><span style="font-size: large;">De manhã
cedo, os aviões de uso civil para transporte de carga e passageiros, decolavam de Belém para a
rota mais frequente, pousando nos rios que banham as cidades de Curralinho,
Gurupá, Altamira, Monte Alegre, Santarém e Óbidos, no Estado do Pará, e no
Estado do Amazonas adentro, pousava em Parintins, Itacoatiara, Manaus, Coari,
Codajás, Tefé, Fonte Boa, Içá, São Paulo de Olivença, Tabatinga e Benjamin
Constant, daqui entrando até a cidade de Iquitos, no Peru.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 3.75pt; text-align: justify; vertical-align: bottom;"><span style="background: white; color: #202124; font-family: "Times New Roman", serif;"><span style="font-size: large;">Distante já
dos tempos dos pousos e decolagens sobre rios e lagos, e com esse modelo de
avião voando a menos de 300 quilômetros por hora, no tempo dos Catalinas da
Panair do Brasil havia uma linha que começava em Belém e terminava no vizinho
Peru, como visto anteriormente. Essa viagem, em avião civil, durava quatro dias,
ida e volta. O voo começava na segunda-feira e terminava pela sexta-feira. Nos
aviões da Panair o serviço de bordo era de primeira linha, comidas e doces
saborosos, dos quais várias vezes eu ganhei caixinhas superlotadas do meu amigo,
Leonardo Brasil, comissário de bordo, casado com uma parenta minha. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 3.75pt; text-align: justify; vertical-align: bottom;"><span style="background: white; color: #202124; font-family: "Times New Roman", serif;"><span style="font-size: large;">Nesse tempo
eu, criança, morava em Santarém e o Leonardo, oriundo de Belterra, residia em
Belém com a família,<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 3.75pt; text-align: justify; vertical-align: bottom;"><span style="background: white; color: #202124; font-family: "Times New Roman", serif;"><span style="font-size: large;">Em geral a
cada duas semanas eu era mandado para o aeroporto de Santarém para falar com o
Leonardo e dele receber cartas, presentes para os demais parentes e uma
caixinha de doces.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 3.75pt; text-align: justify; vertical-align: bottom;"><span style="color: #202124; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: large;"><b>Um livro
que vale por si</b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 3.75pt; text-align: justify; vertical-align: bottom;"><span style="color: #202124; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: large;">Mas o que eu quero
falar aqui é, na verdade sobre um livro lançado recentemente, em meio à
pandemia, que não está impedindo a procura dessa obra misto de romance e grande reportagem. O livro tem como título “Asas de um rio: a saga dos Catalinas na
Amazônia”.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 3.75pt; text-align: justify; vertical-align: bottom;"><span style="background: white; color: #202124; font-family: "Times New Roman", serif;"><span style="font-size: large;">Na
contracapa da obra encontramos um comentário do professor Romero Ximenes Ponte,
em que ele escreve: “A narrativa romanceada de Octávio Pessôa é uma gostosa
memória de vida e morte do hidroavião Catalina na Amazônia. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Mais uma vez a Amazônia canibaliza as
modernidades: o avião que pousava nas águas foi apelidado de Pata-Choca</i>”. A
interação da humanidade amazônica com ‘a novidade’ gera uma imagem roseana:
asas do rio. Um rio alado, que tinha sido ‘rua’ (Ruy Barata), comandado ‘a vida’
(Leandro Tocantins), sido ‘ditador’ (Giovanni Gallo), agora cria asas e voa
como uma pata-choca.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 3.75pt; text-align: justify; vertical-align: bottom;"><span style="background: white; color: #202124; font-family: "Times New Roman", serif;"><span style="font-size: large;">Temos ainda
o evento cotidiano da chegada do Catalina que sempre mobilizava as pequenas
cidades amazônicas. Presença providente que trazia notícias e remédios, tragédias
e sobreviventes.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 3.75pt; text-align: justify; vertical-align: bottom;"><span style="background: white; color: #202124; font-family: "Times New Roman", serif;"><span style="font-size: large;">Mas a fúria
privatizante quis substituir o Catalina pelo ônibus/caminhão, o que os
ribeirinhos cansaram de esperar...<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 3.75pt; text-align: justify; vertical-align: bottom;"><span style="background: white; color: #202124; font-family: "Times New Roman", serif;"><span style="font-size: large;">Linguagem
atraente e direta faz surgir um novo e promissor romancista na Amazônia”.</span><span style="font-size: 16pt;"><o:p></o:p></span></span></p>Manuel Dutrahttp://www.blogger.com/profile/07384053619976412822noreply@blogger.com0